Fátima, 19 de Junho de 2005
XII Domingo Tempo Ordinário “A”
1ª Leitura: Jr 20, 10-13
Sl 68
2ª Leitura: Rm 5, 12-15
Evangelho: Mt 10, 26-33
1. Senhor Bispo de Leiria-Fátima, Excelentíssimo Núncio Apostólico, Irmãos no Episcopado, querido Pe. António José da Rocha Couto, Superior Geral dos Missionários da Boa Nova, queridos Missionários da Boa Nova, irmãos e irmãs,
“... o que vos digo às escuras, dizei-o à luz; e o que vos é dito aos ouvidos, proclamai-o sobre os telhados” (Mt 10, 27).
Com estas palavras, o Senhor exorta seus discípulos, e todos nós, a proclamar a Boa Nova da salvação à plena luz, sobre os telhados, sem medo nem vergonha (cf. Rm 1, 16). Qual é esta Boa Notícia?, que significa declarar-se por Ele diante dos homens? É anunciar que Jesus é o Senhor, o único nome que nos foi dado pelo qual possamos nos salvar (cf. Act 4, 12). Proclamar com valentia este Anúncio implica, primeiramente, que nós fomos alcançados e transfigurados pela beleza desta Palavra. Ou seja, que a Palavra de Deus feita carne, Jesus Cristo, se aproximou de nossas vidas, e assim o conhecemos e o amamos: “O amor apaixonado por Cristo leva ao anúncio forte de Cristo; anúncio que, com o martírio, transforma-se em oferta suprema de amor a Deus e aos irmãos” (SERVO DE DEUS JOÃO PAULO II, Mensagem para a Jornada Missionária Mundial 2005).
A triste situação existencial do homem que não conheceu Cristo nos foi apresentada, sinteticamente, por São Paulo na segunda leitura: “a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5, 12). Quem, em troca, é testemunha da Misericórdia do Filho de Deus, não pode deixar de falar do que viu e ouviu (cf. Act 4, 20); quem é testemunha da ressurreição de Cristo, se converte em arauto de sua vida imortal. Portanto, quanto mais profundo for nosso encontro com sua Pessoa, mais veraz será o testemunho que d’Ele ofereceremos, e quanto mais intensa for a experiência do seu Amor, mais eficaz será nossa obra evangelizadora.
2. Nos encontramos reunidos em Fátima para elevar ao Senhor nossa acção de graças por vós, queridos Missionários da Boa Nova, uma comunidade de apóstolos que acolheu com amor a Boa Nova, e que, como Maria, dedicou a ela toda a sua existência. Queridos irmãos, nestes vossos primeiros 75 anos de vida, trabalhastes eficazmente para dar cumprimento ao mandato evangelizador que o Senhor confiou à sua Igreja. Por isso, sois um dom precioso para a Igreja em Portugal, e para toda a Igreja, pois encarnais com fidelidade aquela que constitui sua tarefa primordial e irrenunciável: a Evangelização.
Vivemos em um tempo em que assistimos a uma debilitação da consciência missionária. Ouvimos frequentemente, às vezes inclusive na própria Igreja, quem questiona a actividade missionária, dizendo: “Não estará por acaso substituída pelo diálogo inter-religioso? Não se deverá restringir ao empenho pela promoção humana? O respeito pela consciência e pela liberdade não exclui qualquer proposta de conversão? Não é possível salvar-se em qualquer religião?” (Redemptoris missio, 4).
Não raramente se afirma também, “Nós temos a nossa verdade, outros têm a sua, deixemos que cada um se esforce para viver autenticamente aquilo em que acredita”. Porém “como podemos encontrar a própria autenticidade se no profundo do nosso coração existe a expectativa de Jesus e a verdadeira autenticidade de cada um se encontra precisamente na comunhão com Cristo, e não sem Cristo? Ou dito com outras palavras, se nós encontramos o Senhor e Ele é para nós a luz e a alegria da vida, estamos porventura certos de que, para quem não encontrou Cristo, não lhe falta algo essencial e que não seja nosso dever oferecer-lhe esta realidade essencial?” (BENTO XVI, Audiência com o Clero romano, 13 de Maio de 2005).
3. A Sociedade Missionária Portuguesa nasceu em um momento bem preciso da história desta amada Nação. Foi em 1926, quando o Governo restituiu às missões católicas sua autonomia jurídica, e o Episcopado português, reunido em Concílio Plenário, propôs a criação da “Sociedade portuguesa para as missões ultramarinas “. Este projecto, aprovado pelo Santo Padre Pio XI, foi ulteriormente apoiado e promovido por Pio XII. Com a erecção do Seminário de Cucujães, teve-se em 1933 a ordenação do primeiro sacerdote do Instituto, e em 1937, o envio dos primeiros missionários a Moçambique. Seguiu, mais tarde, a abertura das missões em Brasil, Angola, Zâmbia e Japão.
Vossa origem evidencia, com claridade, aquelas que são as fontes primogénitas de vosso carisma: o zelo apostólico do Episcopado português e a solicitude universal do Bispo de Roma. Dois aspectos essenciais, que constituem vossa identidade: a responsabilidade missionária ad gentes, que é própria de toda Igreja particular, e a solicitude missionária do Ministério Petrino.
Caminhai, pois, com confiança e serenidade por esses caminhos, sustentados constantemente pela Graça de Deus; fazei crescer a comunhão dentro de vossa Sociedade; incrementai a orientação missionária ad gentes de vossas obras; promovei com sólidas bases espirituais a formação dos candidatos ao sacerdócio, tanto em Portugal como nas jovens igrejas onde vos encontrais; servi as Igrejas particulares “preferindo — com espírito de fé, obediência e comunhão com os próprios Pastores — os lugares mais humildes e difíceis” (Redemptoris missio, 66).
No contexto vital da Igreja em Portugal, achareis também as respostas aos desafios actuais, a vitalidade e a continuidade de vosso Instituto. Em fraterna comunhão e em diálogo — franco e sincero — com os vossos Pastores, encontrareis o apoio necessário para enfrentar as responsabilidades evangelizadoras, actuais e futuras, de vossa Sociedade. No Santo Padre, em Pedro, encontrareis sempre quem vos compreenda e quem vos confirme a prosseguir com fidelidade no carisma recebido.
4. Em seu nome e em nome do Dicastério missionário, desejo exortá-los a caminhar seguros em vossa vocação, em íntima comunhão com Cristo. Ele segue oferecendo-se a nós no Mistério Eucarístico. Através dele, nos nutrimos de seu amor, um amor sem limites por cada um de nós, pela Igreja e por toda a humanidade. Sim, o Memorial da Páscoa do Senhor, que é fonte e plenitude da comunhão e da missão, deve ocupar o primeiro lugar em nossa vida e na vida de vossas comunidades, pois somente estando com Ele alcançaremos a força para sermos seus fiéis mensageiros.
Queridos missionários da Boa Nova, queridos irmãos e irmãs, Cristo ressuscitado nos chama a ser suas testemunhas e nos dá a força de seu Espírito para sê-lo realmente! Neste Santuário Mariano, nos pés da Virgem de Fátima, tão venerada por nosso querido e nunca esquecido João Paulo II, desejo lançar hoje um chamado à Missão ad gentes. A humanidade aguarda com ânsia a luz e a Verdade do Amor de Cristo. Jesus, por meio do Evangelho, nos diz hoje que não devemos ter medo de anunciar seu Nome, pois não há vocação mais alta que — assim como Maria — cooperar na missão apostólica da Igreja na regeneração dos homens. “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos,… eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!” (Mt 28, 19-20).
Que a Santíssima Virgem de Fátima, Mãe da humanidade peregrina, os acompanhe em seu generoso caminhar apostólico até todos os homens, os proteja com sua materna intercessão, e conceda-lhes a Graça de serem fiéis à sua chamada.
A todos transmito a saudação, a oração e a Bênção do Santo Padre. Louvado seja Jesus Cristo!
Crescenzio Card. Sepe