À escuta da Palavra de Vida D. Manuel Pelino 18 de Novembro de 2005, às 16:36 ... Bispo de Santarém assinala 40 anos da Constituição conciliar «Dei Verbum» Faz quarenta anos a 18 de Novembro que foi promulgada pelo Papa Paulo VI a Constituição conciliar sobre a Palavra de Deus ("Dei Verbum"- DV). É um dos documentos conciliares que maior novidade e riqueza trouxe à vida dos fiéis e que contribuiu também para uma colaboração e aproximação de católicos e evangélicos na divulgação da BÃblia. Na verdade, até meados do século XX, a leitura e conhecimento da BÃblia era uma prática mais ligada aos protestantes, chamados por isso evangélicos. Os católicos caracterizavam-se sobretudo pela prática da Missa e dos Sacramentos. Como se fosse possÃvel haver duas espécies de cristãos: De um lado, os da Palavra e, do outro lado, os dos Sacramentos. Porém, o cristianismo é uma pessoa, Jesus Cristo Nosso Senhor, Palavra eterna e Sacramento de Deus. Na fé cristã, Palavra e Sacramento são indissociáveis. A Constituição Dei Verbum supera esta dicotomia palavra - sacramento, afirmando claramente que "a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras como venera o Corpo do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na Sagrada Liturgia, de tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da palavra de Deus quer da do Corpo de Cristo (DV 21). De facto, na Eucaristia, centro da vida cristã, sempre estiveram presentes as duas mesas, a da Palavra e a da Eucaristia, embora antes do ConcÃlio a lÃngua latina não permitisse a compreensão dos textos bÃblicos. Gostava de chamar a atenção para o significado rico da expressão com que inicia a Constituição Dei Verbum: "O Sagrado ConcÃlio escutando religiosamente a Palavra de Deus e proclamando-a com coragem…"(DV I)). Ou seja, o ConcÃlio coloca-se, antes de mais, numa atitude de escuta da Palavra. Antes de proclamar o Evangelho, a Igreja precisa de escutá-lo. Na mesma linha, propõe a todos os fiéis a leitura meditada e rezada da BÃblia, citando a advertência de Santo Ambrósio aos que se dedicam ao ministério da Palavra "para não se tornarem pregadores vazios e superficiais da Palavra por não a escutarem por dentro" (DV 25). Assim, a Dei Verbum propõe-nos não só a leitura e conhecimento da BÃblia mas convida-nos também a escutar Deus que, através dos livros sagrados, vem ao nosso encontro para falar connosco. Para exercitar a escuta atenta e orante da Sagrada Escritura, o Magistério da Igreja tem recomendado com insistência, a "lectio divina". É uma prática que favorece um conhecimento vivencial da BÃblia, permite uma compreensão sempre nova dos textos sagrados e educa também para uma atenção à vida e aos outros. Hoje é mais difÃcil a atitude de escuta interior. "Os ouvidos do nosso coração estão cheios dos rumores do mundo" (Bento XVI). Vivemos, de facto, dispersos e distraÃdos com muitas tarefas que estorvam a escuta interior da voz de Deus, silenciosa como o sopro da brisa ligeira. A capacidade de diálogo e de acolhimento do outro tem diminuÃdo com grave empobrecimento para a relação humana na famÃlia e na sociedade. Na Diocese procurámos sensibilizar e orientar para a "lectio divina" ao longo do triénio 2000 – 2003. Alguns passos se deram não só nos grupos bÃblicos mas na acção pastoral em geral. Precisamos de continuar, de forma que a "lectio divina" se torne uma prática permanente. Um passo a dar seria que em todos os encontros de formação houvesse um tempo de leitura meditada da BÃblia, em clima de oração. A Sagrada Liturgia, que aprofundamos no triénio 2004-2007, é o lugar privilegiado para a escuta da Palavra de Deus. Nela, o anúncio da Palavra torna-se mais rico e concreto porque realizado no âmbito dos sÃmbolos e ritos que actualizam os gestos e a presença do Senhor. A liturgia enriquece e incentiva a "lectio divina". D.Manuel Pelino, Bispo de Santarém Sagrada Escritura Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...