Documentos

A Igreja tem de ser solidária com as lutas comuns da humanidade

D. António de Sousa Braga
...

Mensagem do bispo de Angra para o Dia da Igreja Diocesana

Este ano celebramos o Dia da Igreja Diocesana a 6 de Novembro – o Domingo a seguir ao aniversário da criação da Diocese (3 de Novembro de 1534) – conforme concordado na última Conferência de Ouvidores. 1. Estamos já no final do Ano Litúrgico, em que a Igreja nos convida a olhar para a vida e para a história, a partir do fim, isto é, das realidades últimas e definitivas, que dão consistência e sentido ao nosso peregrinar terreno. No texto evangélico, Jesus exorta-nos à vigilância: «Vigiai, porque não sabeis o dia, nem a hora», seja da Sua vinda gloriosa no fim dos tempos, como também da Sua «visita» sempre inesperada, por caminhos que tantas vezes não coincidem com os nossos. Apesar de se multiplicarem as previsões do fim do mundo, nada sabemos sobre o dia, nem a hora. O que sabemos, pela fé, é que «Ele está no meio de nós»: de tantas maneiras, mas de forma privilegiada no Mistério Eucarístico; não a título exclusivo, como se as outras presenças não fossem «reais», mas de forma sacramental e substancial: Ele em Pessoa, Deus e Homem. «Isto é o Meu Corpo entregue»: isto sou Eu que dou a Minha vida pela vida do mundo. «Fazei isto em Memória de Mim… até que Eu volte»! Foi o mandato de Jesus aos Apóstolos, no momento da instituição da Eucaristia, celebração memorial da Sua Páscoa, a meta final da humanidade. Há muita coisa que a Igreja faz e deve fazer neste mundo, não tanto por ser Igreja, mas por ser simplesmente companheira da viagem da vida, na história humana. A Igreja tem de ser solidária com as lutas comuns da humanidade. Mas, está presente na história como Igreja, quando aponta para a realidade última e definitiva, que é a Páscoa de Jesus, perpetuada na Eucaristia. «A Igreja é sinal do fim; a Igreja realiza no mundo a obra de Cristo; e a obra de Cristo é sempre abertura da realidade humana ao fim, ao seu fim… O fim do mundo, isto é, o fim para que todos fomos criados, é Cristo; é a humanidade preenchida de divindade; é Cristo em nós; é a Igreja…, como Seu Corpo…» (D. Manuel Clemente, A Igreja que Sonhamos e a Vida Consagrada, Paulinas, 2000, p.173). 2. É na Eucaristia e a partir da Eucaristia, que a Igreja é sinal e profecia do futuro definitivo da humanidade. Daqui a centralidade da Eucaristia na vida e na missão da Igreja, tema do recente Sínodo dos Bispos e objectivo geral do Programa Pastoral Diocesano deste Triénio. O Dia da Igreja Diocesana, a assinalar em cada Paróquia ou a nível de Ouvidoria e em todas as instâncias eclesiais, é o momento oportuno, para dar a conhecer e assumir a programação pastoral deste ano: a espiritualidade do Domingo, dia de descanso, para ser santificado com a participação na Eucaristia, que plasma a identidade cristã e a própria vivência do Domingo. O sentido cristão do Domingo parte da Missa, mas vai para além da Missa, proporcionando o crescimento humano e espiritual, promovendo a regeneração das relações familiares e comunitárias, enriquecendo a vida social e cultural. Poderão ser de grande ajuda nesse sentido, as Jornadas de Liturgia, previstas para S. Miguel, de 21 a 24 de Novembro p.f. e para o Pico, de 30 de Janeiro a 2 de Fevereiro de 2005. O mesmo se diga da Semana Bíblica Diocesana, que este ano terá lugar na Terceira, subordinada ao tema: «Da Palavra à Eucaristia». 3. No entanto, importa ter presente que a especificidade de uma Igreja Particular não é dada apenas, nem primariamente, pelos Programas Pastorais. Cada Igreja Particular tem uma fisionomia própria, que lhe vem do contexto histórico e cultural, em que está inserida. A Igreja Católica - una e única - existe concretamente em cada Igreja Particular, como forma original e peculiar de vida cristã (cf. Lumen Gentium, 23). É nesta perspectiva que se pode e deve falar de «espiritualidade diocesana», como memória da identidade cristã, vivida e transmitida de geração em geração, através de práticas e de tradições, que se consolidaram ao longo do tempo, numa determinada Igreja Local. Se a vida cristã é, por definição, vida na Igreja, só a Diocese é, a pleno título, a Igreja «una, santa, católica e apostólica» (e não propriamente a paróquia, a comunidade religiosa, o movimento, a associação de fiéis…). É em virtude da pertença a uma Igreja Local que estas instâncias se tornam «lugar» de celebração do mistério de Cristo e de vivência cristã. Portanto, a dimensão diocesana faz parte da espiritualidade cristã. Não tem muito sentido perguntar: «qual é a espiritualidade do padre diocesano»? O que faz sentido é falar de «espiritualidade diocesana», tanto dos sacerdotes, como dos religiosos, dos consagrados e dos membros dos movimentos eclesiais. É por isso que o Dia da Igreja Diocesana deve ser celebrado por todas as categorias do Povo de Deus, nas suas diversas instâncias, tanto territoriais, como eclesiais. Assume, naturalmente, um significado próprio e especial, a celebração presidida pelo Prelado. Este ano será na Matriz da Madalena do Pico, também como lançamento da Visita Pastoral a toda a Ilha. 4. Neste Dia da Igreja Diocesana, iniciamos a Semana dos Seminários. É, antes de mais, um momento propício de oração fervorosa e confiante ao Senhor da Messe, para que mande operários para a Sua Messe. Neste ano escolar, os seminaristas são 21: 14 do Curso Teológico e 7 do Secundário. A distribuição por Ilhas é a seguinte: 8 de S. Miguel, 4 da Terceira, 3 do Faial, 3 de S. Jorge, 2 do Pico e 1 de Santa Maria. «A Messe é grande, mas os trabalhadores são poucos»! Urge, pois, revitalizar a Pastoral Juvenil Vocacional, com trabalho efectivo no terreno, que não depende apenas da coordenação diocesana, mas também e, sobretudo, do empenhamento concreto a nível de Ilha. A Semana dos Seminários constitui igualmente um apelo ao carinho, com que cada Igreja Particular, em todas as suas componentes, deve rodear os Seminários Diocesanos. Esse carinho, a ser autêntico, deve traduzir-se também no apoio material. Por isso, o ofertório das Missas, no Dia dos Seminários (13 de Novembro de 2005), destina-se a ajudar «o nosso» Seminário Diocesano. Além das despesas para o seu normal funcionamento, suportadas em grande parte pelo Santuário do Senhor Santo Cristo, o Seminário está a fazer face a despesas extraordinárias em obras de manutenção, devido, nomeadamente, à praga das térmitas. No ano passado, os ofertórios do Dia do Seminário, renderam 17.481, 70 Euros e o da Semana das Vocações, 7.197, 59 E; de Sacerdotes e Institutos Religiosos, houve donativos no valor de 50.312, 07 E. Aqui fica o nosso reconhecido agradecimento. Apesar das dificuldades, que todos experimentamos, espero que a onda de solidariedade continue e cresça. Trata-se do Seminário Diocesano, do «nosso» Seminário, parte integrante e indispensável da «nossa» Igreja Particular. Tem a designação de «Seminário Episcopal», mas não é do Bispo. Deve ser a «menina dos olhos», tanto do Bispo, como da Diocese. A «espiritualidade diocesana» passa também por este interesse e preocupação pelo Seminário Diocesano. + António, Bispo de Angra


Diocese de Angra