Palavras de D. Maurílio de Gouveia na Ultreia diocesana de Évora
Agradeço-vos de todo o coração o terdes querido promover esta ultreia diocesana para assinalar os vinte e seis anos do meu ministério episcopal em Évora que coincidem com o nosso comum empenho no Movimento dos Cursos de Cristandade.
Estamos no Santuário de Nossa Senhora da Conceição, em Vila Viçosa , solar da Padroeira, uma circunstância que dá à ultreia um carácter profundamente mariano.
Não podemos esquecer que foi daqui, deste santuário que, há mais de quarenta anos, partiu um grupo de jovens valentes, a pé, para Fátima, em peregrinação de intendência , implorando a graça do primeiro curso de cristandade da Arquidiocese.
A graça foi alcançada; durante anos multiplicaram-se os cursos. Depois, surgiram tempos difíceis que determinaram um período de suspensão da sua actividade.
Todavia, a fidelidade a Deus e a protecção materna de Maria revelaram-se, uma vez mais, com todo o seu poder entre nós. Os cursos reiniciaram-se e têm-se mantido até hoje, plenos de vitalidade.
Estamos aqui para agradecer esta dádiva. Da minha parte, para além de dar graças a Deus e a Maria, quero ainda manifestar-vos a minha amizade e gratidão. Permiti que diga uma palavra de particular afecto e agradecimento ao vosso director diocesano, Padre Francisco José Senra Coelho e aos membros do Secretariado diocesano.
É um dom e uma alegria participar num Curso de Cristandade e, mais ainda, colaborar nas suas actividades apostólicas.
Este Movimento foi uma dávida grande dom de Deus concedida à sua Igreja nos meados do século XX. E, embora tenha sido por Eduardo Bonin e seus companheiros uma década antes do Concílio Vaticano II, pode considerar-se como fazendo já parte daquele despontar de numerosos movimentos laicais que têm contribuído para fazer do nosso tempo uma verdadeira primevera da História da Igreja.
Assim o afirmaram os Papa João Paulo II e Bento XVI nas duas grandes assembleias dos Movimentos e Novas Comunidades que reuniram na Praça de S. Pedro, em Roma, centenas de milhares de leigos, respectivamente em 1999 e 2006.
Os movimentos e as novas comunidades devem ser entendidos e acolhidos como dons ou carismas do Espírito Santo para a santificação e crescimento da Igreja e para a evangelização do mundo. Fazem parte da vida da Igreja e devem por isso articular-se harmoniosamente com as outras realidades e estruturas da Igreja, nomeadamente as paróquias e as dioceses.
Nestes últimos vinte e cinco anos que estamos a assinalar, os Cursos representaram um poderoso instrumento de Deus para a recristianização desta região alentejana e ribatejana em que a Igreja eborense está plantada.
Alguns milhares de homens e mulheres, de todas as condições sociais, das cidades, vilas e aldeias tiveram a graça de participar num Curso de Cristandade, fazendo a experiência extraordinária de um encontro pessoal com um Cristo vivo, Deus e homem, com um rosto amigo e uma força redentora.
A partir desse encontro transformador, a Igreja passou a ser viva, na sua justa identidade, como uma comunidade de irmãos, com a família dos filhos de Deus. Os ambientes começaram a modificar-se, a começar pela família e a continuar no trabalho e nos ambientes sociais. As paróquias deixaram de ser realidades distantes, para se tornarem comunidades vivas, onde os membros dos Cursos de Cristandade participam activamente. Um aspecto importante deve ser aqui sublinhado: os homens que, nos últimos séculos, por campanhas anticatólicas, desencadeadas por forças adversas, designadamente maçónicas, se foram afastando da prática da fé que consideravam mais própria das mulheres, voltaram a participar nas assembleias eclesiais, oferecendo-lhes o seu verdadeiro rosto.
Permiti que refira a sabedoria que inspira o método cursilhista e o torna apostolicamente eficaz.
Em primeiro lugar, cada curso realiza-se na base de uma forte intendência, isto é, de uma intensa oração e generosos sacrifícios, levados a cabo por numerosos cristãos que, como assembleia de fé e de amor, unida a Cristo Redentor e a Maria, Mãe de Cristo e Mãe da Igreja, fazem chover graças de conversão sobre os participantes no Cursos.
A este princípio fundamental de uma teologia da evangelização, acrescenta-se outro aspecto: a mensagem de Cristo, isto é, a Boa Nova da Salvação e apresentada em forma de testemunho vivo, dado pela pequena comunidade da equipa reitora, constituída por leigos e sacerdotes.
Os diferentes actos do Curso vão conduzindo o participante de forma pedagógica, a um encontro consigo próprio, na luz da verdade, e a um encontro exigente mas libertador com Jesus Cristo. Um encontro que se torna culminante no perdão sacramental e na vivência da Eucaristia.
Sai-se dos Cursos com a alegria de se ter encontrado com um Deus amigo e uma comunidade de irmãos. E por isso os horizontes que se abrem são horizontes de esperança.
Esta alegria é uma alegria que envolve uma responsabilidade, ou seja, um apelo à missão. Sim a Palavra de Cristo num Curso – palavra de luz, de perdão e de convite à amizade – envolve um apelo: o apelo à evangelização.
Cristo quer que os cristãos que se tornaram conscientes da sua fé num Curso de Cristandade, se tornem evangelizadores, a começar pela família e a continuar nos outros ambientes: trabalho, paróquia e vida social.
Termino, agradecendo cordialmente a amizade revelada nesta ultreia.
Convosco coloco nas mãos de Nossa Senhora da Conceição, nossa Mãe e Padroeira, toda a acção apostólica do Movimento nos últimos vinte e cinco anos, num preito de gratidão e de louvor.
Unimo-nos à “Serva do Senhor”, para que por seu intermédio chegue até Deus, Pai, Filho, e Espírito Santo, o hino de louvor de todos nós, que somos “servos inúteis”.
De colores
D. Maurílio de Gouveia, Arcebispo de Évora