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Advento! O Senhor vem

D. Teodoro de Faria
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Nota Pastoral de D. Teodoro de Faria

Jesus já veio. Deus já tomou um corpo humano semelhante ao nosso, em Jesus Filho de Maria. Com a vinda do Filho de Deus, a nossa história e a nossa vida sofreram uma transformação. Ao celebrarmos cada ano o Advento, olhamos para trás, para um acontecimento que mudou a história humana e queremos revivê-lo com grande intensidade. Mas o Advento é presente e futuro. Deus entra na história e na vida de cada um de nós, abre-nos um caminho de liberdade, livra-nos do pecado e da morte. Deus, com o nascimento de Jesus, tomou sobre si a nossa debilidade e fez dela fonte da nossa fortaleza e vida divina. O Advento deve despertar em nós o desejo da vinda do Senhor em nossa vida e em nossa sociedade, porque precisamos de ser libertados e a nossa vida transformada. Para isso precisamos que Deus venha até nós, de uma maneira nova. Sabemos que Ele está sempre presente, mas continuamos a precisar d’Ele para libertar o nosso mundo da injustiça, opressão, desespero e tornar-nos construtores da paz e anunciadores da alegria cristã. Compreende-se e vive-se o Advento colocando-nos no lugar de Maria, a Virgem que espera a vinda do Messias, Aquele que veio levantar a cabeça dos pobres que se sentiam oprimidos e esquecidos e abrir os corações à esperança de todas as pessoas que partilham habitualmente a nossa vida – família, amigos, vizinhos, companheiros de trabalho e apostolado. Missas do Parto sem intromissões 2 – O Advento tem sentido de festa e espera gozosa quando vivido na oração, principalmente a comunitária, que tem o seu centro e ápice na Eucaristia. Para os cristãos da nossa Diocese o Advento é uma feliz ocasião para valorizar esta presença de Deus, unindo-se a Maria, a mãe do Salvador, colocando-se na sua escola e sob a sua protecção, nas eucaristias conhecidas por Missas do Parto, celebradas antes do nascer do sol, missas que constituem momentos oportunos de encontros com Deus, união com os irmãos na fé e preparação do Natal do Senhor. Esta centenária tradição das Missas do Parto que galvaniza a alma cristã madeirense, continua presente e forte, mesmo na época actual de secularização, mas tem de ser defendida dos elementos folclóricos estranhos que podem transformar as celebrações em espectáculos de consumo turístico e mundano, esvaziando o sentido místico e contemplativo, retirando-lhe a simplicidade popular, elementos que constituem a sua força de atracção e que conferem aquele gosto e sabor próprio da preparação do nosso Natal. Algumas deturpações e abusos obrigaram no passado os bispos diocesanos a tomarem medidas fortes para protegerem a integridade dos costumes, a dignidade da liturgia e afastar o ridículo das celebrações religiosas. No presente não me consta a presença de elementos estranhos, mas temos de estar atentos para que a piedade popular não seja deturpada, visto os fiéis nem sempre estarem educados no sentido do mistério cristão. Os convívios populares no adro da igreja, após a liturgia, têm a finalidade de reunir os paroquianos na fraternidade e alegria do espírito natalício; convém que nestes momentos prevaleça a espontaneidade popular e o espírito de família. Não se permitam intromissões estranhas, mesmo com aspectos de generosidade, para não se perder o carácter espiritual e celebrativo do tempo natalício. Natal tempo de ternura 3 – O Natal é o tempo da ternura. No Novo Testamento ela é sinónimo de benevolência, gentileza, amabilidade, delicadeza de alma. Embora a ternura atravesse a nossa experiência humana, nem sempre é fácil compreender o seu significado, por um lado ela fascina e por outro perturba. A ternura é o sentimento que surge no forte e o leva a socorrer o fraco. A Bíblia aplica este conceito a Deus, e o ponto mais alto da revelação da ternura divina é o Natal do Redentor. O Deus forte, omnipotente e eterno, inclinou-se até nós, tomou a nossa fragilidade e fortaleceu a nossa fraqueza com a sua força. Imitar a ternura de Deus leva-nos a ser humildes, a descer do pedestal onde fomos colocados para ajudar o mais débil, a perder o sentido da superioridade junto do mais fraco, a inclinar-se perante os que sofrem, a descer aos infernos em que vivem tantos seres humanos e, com os olhos iluminados por Maria no presépio e a simplicidade dos pastores, abrir o coração à generosidade e ao serviço. O Natal tem despertado iniciativas de bondade e ternura, mostrando a parte mais luminosa da alma humana. Neste tempo, a solidariedade abre-se naturalmente ao irmão tanto ao que se vê como ao ausente, mesmo noutros continentes. No Advento e Natal, as mãos que habitualmente se abrem para receber, estendem-se também para repartir. As quatro semanas do Advento constituem uma escola prática para ensinar os olhos a ver, os ouvidos a escutar, o coração a abrir-se à ternura e ao amor, de forma a transmitir a esperança cristã e o homem acredite que Deus está connosco. Emanuel, Ele veio e continua a vir. Vemo-lO na vida dos que O receberam e são semelhantes a Cristo, vemo-lO nos que ouvem e põem em prática a pregação de João Baptista, o Profeta do Advento: «Quem tem duas túnicas reparta com aquele que não tem. E quem tem mantimentos proceda da mesma forma». (Lc. 3, 10-18). Renúncia do Advento 4 – Para além de tantas iniciativas que surgem nesta época na diocese e nos mostram a ternura do coração humano, iluminado pela luz do Natal, todos os anos propomos aos nossos diocesanos uma intenção de solidariedade social, tendo em conta não só as debilidades da nossa sociedade, mas olhando também para além do horizonte do nosso mar e da altura das nossas montanhas. É a Renúncia do Advento que propomos a todos, incluindo as nossas crianças, para que o Natal seja ocasião pedagógica para elas se abrirem também aos outros pequeninos. Este ano, acolhemos o pedido do Patriarcado Católico Grego de Jerusalém que nos pediu uma oferta para as crianças que frequentam as escolas de Belém e Ramallah, dependentes da Igreja, de forma a que os seus pais, por falta de meios para a educação, não sejam tentados a imigrar, desertificando a Terra Santa de cristãos. Herodes não passa hoje por Belém a matar meninos, mas passa a fome, o desemprego, os efeitos da guerra, a falta de peregrinos. Sem meios de subsistência os meninos cristãos de Belém morrem ou fogem com os seus pais para o estrangeiro, como Jesus foi levado por Maria e José para a terra do Egipto. Na festa da Epifania, a 2 de Janeiro de 2005, entreguemos a nossa oferta, à imitação dos Magos em Belém. Funchal, 28 de Novembro de 2004 D. Teodoro de Faria, Bispo do Funchal


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