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Água, fonte de vida

D. Teodoro de Faria
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Bispo do Funchal assinala Dia da Cáritas

Na Nova Aliança do Reino de Deus, Jesus instituiu um novo modo de purificação. Em Caná, a mudança da água em vinho simboliza tanto o Espírito Santo como a Palavra purificadora. As águas que Ezequiel vê sair do Templo renovado, simbolizam o poder vivificante de Deus que vai estender-se aos tempos messiânicos. Afastado de Deus, o homem é terra seca e árida, condenado à morte. 1. A água é fonte de vida, sem ela a terra é um deserto árido, país da sede e da fome, onde homens, animais e plantas estão condenados à morte. A Caritas é convidada nesta Quaresma a reflectir sobre este tema que na Bíblia goza de uma predilecção particular, não só enquanto elemento vital como pelo simbolismo, principalmente na água baptismal. As organizações internacionais têm chamado a atenção das potências mundiais e dos responsáveis das nações pela conservação e redistribuição deste líquido que, dizem, se tornará insuficiente para os gastos urgentes do planeta. Na Bíblia, a água para além dos usos domésticos servia para as abluções no culto, para purificar as pessoas e as coisas da poluição contraída na vida quotidiana. A água está sempre unida à vida do homem e à história do povo de Deus. É o Senhor quem tem o domínio sobre as águas, é Ele que as retém ou distribui provocando a inundação ou a aridez. Deus dá as chuvas da primavera e do Outono, assegurando a prosperidade da terra, ou castigando os homens provocando a desolação. O Senhor não envia ou recusa a água de uma forma arbitrária, mas segundo o comportamento do seu povo, de forma que o dom da água é sinal de bênção para os que fielmente servem a Deus. A água é também símbolo da pureza moral. O inocente lava as mãos para significar que não operou o mal, Pilatos na Paixão também as lavou para se declarar inocente do sangue de Cristo, e na história da humanidade muitos o imitaram sem ficar purificados. Na Nova Aliança do Reino de Deus, Jesus instituiu um novo modo de purificação. Em Caná, a mudança da água em vinho simboliza tanto o Espírito Santo como a Palavra purificadora. As águas que Ezequiel vê sair do Templo renovado, simbolizam o poder vivificante de Deus que vai estender-se aos tempos messiânicos. Afastado de Deus, o homem é terra seca e árida, condenado à morte. Cristo é o novo Templo que irrigou o novo Povo de Deus com a sua graça e transforma a terra estéril em novo paraíso. A água significa o Espírito Santo, que no baptismo purifica do pecado e torna os homens filhos de Deus. O baptismo é o princípio da vida nova, da regeneração e habitação da Santíssima Trindade. Rosto da caridade da Igreja particular 2 - A «Caritas», como rosto da caridade diocesana, é chamada a cooperar no dom da vida, tanto a material como a espiritual. Ela não pode esquecer estas duas faces da sua missão. O Papa na encíclica que entusiasmou crentes e descrentes - Deus caritas est, - apresenta o «exercício eclesial» do mandamento do amor ao próximo, nos seus vários aspectos. «O amor ao próximo, escreve, radicado no amor de Deus, é antes de tudo uma missão para cada fiel, mas também um serviço para toda a comunidade eclesial: da comunidade local à Igreja particular até à Igreja universal na sua globalidade». A Igreja, como comunidade, deve praticar o amor, e não apenas o pequeno grupo organizado da Caritas, necessário mas não único. O Papa analisa a relação entre caridade e justiça, confirmando os ensinamentos das grandes encíclicas da doutrina social da Igreja. Critica os marxistas quando afirmam que os pobres precisam de justiça e não de caridade da Igreja. Esta filosofia, diz o Papa, é desumana e «esconde uma concepção materialista do homem, o preconceito segundo o qual o homem viveria só de pão». O cristão deve empenhar-se sempre pela justiça, mas o amor, será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa. «Não há nenhum ordenamento estatal justo que possa tornar supérfluo o serviço do amor». Compete aos cristãos leigos, e no caso da Caritas em nome da Igreja diocesana, operar segundo a sua vocação e competência para uma justa ordem da sociedade, enquanto é missão da Igreja o exercício da caridade como actividade organizada dos crentes, em particular tratar «a purificação da razão e a formação ética». É neste campo que se insere a missão específica da Caritas Diocesana, que se renova este ano com uma nova direcção. Há esperança para o amor 3 - Os cristãos, e a Caritas, para o anúncio da mensagem e acção cristã do amor têm de referir-se sempre ao mistério de Jesus Cristo, para na relação com os outros conseguirem a confiança, dar valor a cada pessoa e nela despertar o seu coração para o bem, aceitar os laços de amizade e afecto. O arcebispo Cardes, Presidente da Cor Unum, afirmou numa Conferência na Espanha, que a secularização da caridade induziu os membros da Igreja a afastarem-se do aspecto central da sua missão. «As grandes organizações eclesiais separaram-se da Igreja e do seu vínculo com os bispos e identificaram-se por completo com os ONG,s e apresentam um programa que não se distingue da Cruz Vermelha ou das Nações Unidas». Esta tentação tem assediado algumas organizações de caridade no nosso país, criando confusão e correndo o perigo de se afastarem da seiva da árvore mãe donde nasceram e se alimentaram durante tantos séculos. A caridade cristã é Deus dentro de nós que nos impele a aliviar a miséria dos nossos irmãos pobres e oprimidos. A Caritas leva ao mundo que sofre o Deus vivo que nos amou e se entregou até à morte para nos salvar. O programa da Caritas foi descrito por São Paulo na primeira carta aos Coríntios: «a caridade é paciente, a caridade é benigna, não é invejosa, não se vangloria, não se incha de orgulho, nada faz de inconveniente, não procura o próprio interesse, não se irrita, não guarda ressentimento… tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta» (1 Cor. 13, 4 ss). Funchal, 19 de Março de 2006 † Teodoro de Faria, Bispo do Funchal


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