Dentro da vivência de um ano dedicado à Eucaristia, respondendo, determinadamente, ao convite da Exortação Apostólica de João Paulo II “Mane nobiscum Domine” e sentindo a alegria, o fascínio e o entusiasmo de toda a Arquidiocese pelo dinamismo que o Ano Vocacional foi semeando um pouco por todo o lado, quero que o presente movimento eclesiástico reflicta convicções profundas e exprima propostas concretas.
Atentos à realidade sócio-cultural em que nos movemos e conhecedores deste mundo em mudança a que somos enviados como bispos, sacerdotes e diáconos, sabemos que “o estilo de vida de cada um de nós há-de ser de alguém simples, próximo e solidário, que sabe estar no aqui e agora da história como testemunha, sem se render ou conformar ao tempo, sem se defender nem agredir, adoptando uma forma evangélica assumida: apaixonado por Deus e pela pessoa humana, bem definido na sua identidade.”
Sem nos subjugarmos à ansiedade, ao medo ou à síndrome tão insistentemente propalado da falta de vocações, reconhecemos que o número de sacerdotes diminui também na nossa Arquidiocese.
Isso exige uma atenção maior à nossa vida e ministério, louvando a generosidade acrescida de todos, sem permitir a multiplicação desgastante ou o excessivo activismo que sacrificam a saúde, a oração, a reflexão teológica, o tempo de escuta e partilha, a comunhão presbiteral, a participação nas iniciativas arciprestais e diocesanas e o descanso necessário.
A Eucaristia deve ser celebrada com dignidade e com tempo, como verdadeiro centro de toda a acção pastoral e fonte de vida nova em Cristo para edificar a Comunidade.
Para que o sacerdote possa celebrar a Eucaristia com este espírito, impõe-se que não multiplique excessivamente as celebrações ao Domingo, que vá preparando as Comunidades para a celebração da Eucaristia aos sábados e mesmo para as celebrações da Palavra sem a presença do Presbítero.
Todos sabemos que “a Eucaristia dominical fundamenta e sanciona toda a prática cristã”, havendo por isso a obrigação de participar na mesma nos domingos e nos outros dias festivos de preceito.
Se, porém, for impossível a participação na celebração eucarística dominical por falta de ministro sagrado ou por outra causa grave, recomenda-se que os fiéis participem na Eucaristia Vespertina celebrada aos sábados ou na Liturgia da Palavra, de acordo com as prescrições do bispo diocesano (cfr. Cán. 1248, § 1 e 2 e Catecismo da Igreja Católica, n.os 2181 e 2183).
Um olhar de esperança para o futuro da Igreja leva-nos a entender os dinamismos espirituais e pastorais que começam a aflorar em muitas Igrejas Diocesanas, com provas consistentes já dadas. Entendo dever caminhar nesse sentido, com determinação confiante, fomentando, a partir dos nossos Seminários, formas de vida e de trabalho em comum, conduzindo à criação de Unidades Pastorais, servidas por Equipas Sacerdotais.
Neste movimento eclesiástico proponho já algumas iniciativas nesse espírito a que não chamarei Unidades Pastorais. São, porém, experiências úteis e necessárias para que posteriormente avaliemos os resultados e possamos delinear algumas linhas de orientação. Tenha-se em conta que dentro desta linha de actuação, a escolha da residência do Sacerdote ou da Equipa Sacerdotal não significa a sobrevalorização de umas paróquias em relação a outras. O critério não deverá ser o da grandeza ou importância das paróquias mas sim o da eficácia pastoral e do bom exercício do ministério sacerdotal. Hoje não há paróquias anexas, há, sim, um Sacerdote ou uma Equipa Sacerdotal com várias paróquias, embora, cada uma, com necessidades e exigências pastorais específicas e diversificadas.
A fonte destas unidades está em Cristo que nos chamou a segui-l’O, como discípulos à maneira dos Apóstolos, e na Eucaristia diariamente celebrada, vivida, adorada e contemplada com o olhar de Maria, Mãe de Jesus e Mãe dos Sacerdotes.
Os nossos pré-seminários, gérmenes e alfobres de vocações, estão dispersos e espalhados por toda a Diocese, em todas as comunidades, famílias, movimentos e grupos onde se reza, celebra, professa e testemunha a alegria e a beleza de ser padre: como graça, dom e bênção para nós, para as nossas comunidades e para os jovens que sentem a voz de Cristo: “Vem e segue-Me”.
Também, hoje e aqui, aquilo que dá força ao meu ministério episcopal é saber dar graças a Deus pelos sacerdotes, diáconos e seminaristas da nossa Diocese, assim como por todos os membros dos Institutos de Vida Consagrada, religiosa e secular, que vivem e trabalham na nossa diocese.
Braga, 17 de Julho de 2005
D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arcebispo Primaz