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Beatificação de Madre Rita é uma oportunidade para Viseu

D. António Marto
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Com grande alegria no coração quero, hoje, comunicar oficialmente a toda a nossa Igreja Diocesana, que no próximo dia 24 de Abril, o Santo Padre João Paulo II proclamará beata a Serva de Deus, Irmã Rita Amada de Jesus, filha desta Igreja Diocesana. É a primeira beatificação na história da nossa Diocese. Acolhemo-la como um dom de Deus que honra a nossa Igreja particular e a Igreja em Portugal. Esta beatificação é o coroamento de um longo processo iniciado em 1991, pelo bispo de então, D. António Monteiro. Representa 13 anos de caminho, de investigação, de escuta das testemunhas, de ponderação dos exemplos e das palavras de Madre Rita para chegar à proclamação da heroicidade das suas virtudes, em 20 de Dezembro de 2003, por João Paulo II e, depois, à aprovação do milagre para a beatificação, em 20 de Dezembro de 2004, a saber “a cura rápida, perfeita e estável” de um senhora atingida, por doença mortal, acontecido no Brasil em 1989, por intercessão de Madre Rita. O que significa ser beatificado? Entende-se o acto solene da autoridade da Igreja que propõe à veneração e à imitação dos fiéis um fiel cristão que se distinguiu na caridade e na prática das virtudes evangélicas. Mediante a beatificação, a Igreja autoriza o culto litúrgico a nível local para uma Igreja particular (Diocese) ou para uma Congregação (Instituto) religiosa. Este acto é prévio ao da canonização que, por sua vez, propõe o culto litúrgico do novo santo à Igreja Universal. A figura de Madre Rita Madre Rita foi uma fiel cristã desta nossa Igreja de Viseu, nascida a 5 de Março de 1848, na paróquia de Ribafeita, onde veio a falecer, na noite de 6 para 7 de Janeiro de 1913. Da sua figura destacarei, aqui, apenas alguns traços que a distinguiram, no seu carisma e no seu testemunho de santidade. A sua existência esteve toda centrada em Jesus Cristo, já desde tenra idade. É prova disso o enlevo e a devoção que, a partir dos 7 anos, mostrava por Jesus na Eucaristia, frequentando a Missa e correndo para o Sacrário da Igreja Paroquial, onde fazia a oração reparadora e passava horas em contemplação. Gostava muito do silêncio e cultivou especial devoção ao Sagrado Coração de Jesus, a Nossa Senhora e S.José. Aos 18 anos tornou-se Apóstola do Rosário em prol da família. Andava de aldeia em aldeia, rezava e ensinava a rezar o terço nas capelas, procurava as pessoas especialmente mulheres e jovens que levavam vida indigna e tudo fazia para que Deus as trouxesse ao bom caminho, promovendo assim a dignidade da mulher. Por considerar a família como fonte de vida, elemento insubstituível para a formação humana e cristã, tornou-se protagonista e pioneira da educação de crianças e jovens. Efectuou peditórios a fim de poder sustentar crianças pobres e a todos amou com coração indiviso. Este seu carisma levou-a a fundar uma obra, em 1880 - o Instituto Jesus, Maria e José – dedicada à educação com vista à formação de boas famílias. Por este motivo foi perseguida pela República, que encerrou todas as Casas Religiosas. Nessa altura, refugiou-se no Brasil com algumas companheiras para aí continuarem a missão. Podemos, pois, concluir que a sua existência foi uma tradução concreta de alguns traços do rosto de Jesus, por ela amado e contemplado, na companhia da Virgem Maria e de S.José. O fruto duradoiro desta sua amorosa atenção ao rosto de Jesus misericordioso são as Irmãs de Jesus, Maria e José, que ainda hoje continuam a viver e prolongar o seu carisma, que, como ela, procuram testemunhar o primado da caridade, o serviço aos humildes, aos pobres e às famílias. A beleza da santidade popular Figuras como a da Madre Rita são para nós um sinal de esperança neste tempo complexo e confuso que atravessamos. O seu testemunho de vida é um apelo e uma provocação a sair da mediocridade de vida, a viver a nossa fé e o nosso testemunho cristão com maior intensidade. A sua beatificação é a confirmação de que a santidade de vida é a realidade mais necessária para a qualidade humana da sociedade, das relações entre as pessoas, para uma autêntica humanização do mundo. Seguindo o seu exemplo, as nossas comunidades poderão renovar-se e contribuir para a renovação da sociedade. Penso em tantas pessoas humildes e escondidas, cuja fidelidade quotidiana é heróica. O acontecimento de 24 de Abril, em Roma, é pois um convite à santidade popular, acessível a todo o povo. A preparação e as celebrações da beatificação serão ocasião para louvar o Senhor pela graça da nova Beata e pela santidade popular que o Espírito Santo vai difundindo hoje na nossa Igreja, nas nossas famílias e nas nossas comunidades. Senhor, concede-nos a graça de nos aventurarmos neste caminho, ensina-nos o caminho da santidade quotidiana, faz com que a sintamos aberta e acessível a nós e que o exemplo de santidade de Madre Rita nos infunda coragem e esperança e conforte o nosso coração! Viseu, 01 de Janeiro de 2005, + António Marto, Bispo de Viseu


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