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Bispo de Santarém destaca valor da Imaculada Conceição

D. Manuel Pelino
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1. A Virgem Imaculada sinal e convite à beleza da vida em Cristo A celebração da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, nossa padroeira, é para nós um convite à alegria e à esperança. Antecipa a alegria do Natal e revigora a esperança da salvação que o nascimento de Jesus traz para a humanidade e que o tempo do Advento que estamos a viver nos convida a cultivar. Nossa Senhora da Conceição Imaculada realiza em plenitude a beleza espiritual da graça que Jesus Cristo, com a Sua Encarnação, trouxe a todos os homens. Torna visíveis as bênçãos espirituais que Deus nos concedeu em Cristo. Por isso, adquire hoje uma ressonância particular a saudação do anjo escutada no evangelho “Avé Maria cheia de Graça o Senhor está contigo”. Avé, ou seja, alegra-te ó Virgem Maria porque Deus te revestiu com as vestes da salvação, porque através da tua humildade e disponibilidade, o Senhor cumpriu a promessa de esmagar a cabeça do mal. Em Ti e através de Ti, Deus faz maravilhas. A beleza de Nossa Senhora é, verdadeiramente, sinal, convite e apoio para todos os discípulos de Jesus Cristo chamados a participarem da bondade e da beleza de Deus: “Vós a destinastes acima de todas as criaturas a fim de ser para o vosso povo, advogada da graça e modelo de santidade”, como reza o prefácio. Sendo um privilégio singular, em vista da maternidade divina, a Imaculada Conceição é também, por outro lado, uma representação e um apelo a viver a condição celeste que todos os discípulos de Cristo são chamados a revestir. Assim compreendemos a afirmação do prefácio: “Na Virgem Santa Maria destes, Senhor, início à Santa Igreja, esposa de Cristo, sem mancha e sem ruga, resplandecente de beleza e de santidade”. Nossa Senhora da Conceição Imaculada é, portanto, início e promessa da santidade de todos os membros do Corpo de Cristo. 2. A Virgem Imaculada esperança de vitória sobre o mal Ao celebrar nesta festa a beleza da santidade dos filhos de Deus, plenamente realizada na Mãe de Jesus, a Igreja tem presente o poder e a influência do mal, do pecado, da mentira, da vaidade e do conflito. A humanidade, desde o início, está sob o signo do pecado e, desde o início também, vive da promessa da santidade. A desobediência de Adão, referida na primeira leitura, é a representação da desobediência de todas as criaturas. Após o pecado, Adão esconde-se de Deus. A relação com a mulher já não é de amizade e ajuda recíproca mas de desconfiança e acusação. A serpente, símbolo do mal, é amaldiçoada. Mas anuncia-se, desde logo, a vitória da bondade e da vida sobre o pecado e a morte: “ela te esmagará a cabeça…” O pecado vem desde as origens e acompanha a história da humanidade. A Bíblia narra uma história de salvação e de pecado. O pecado original multiplica-se em muitos outros pecados, constantemente narrados na Sagrada Escritura, como o pecado de Caim, da torre de Babel, de Sodoma e Gomorra. Ainda hoje, o mal exerce uma influência forte no nosso ambiente: através da violência, do terrorismo, da mentira, da traição e infidelidade, do egoísmo, das dependências que escravizam, da degradação da sexualidade, do abuso dos inocentes e indefesos, da exploração e opressão dos frágeis, das invejas e das injustiças. Não podemos ignorar a força do mistério da iniquidade, sobretudo quando esta procura esconder-se e conservar-se oculta, ou, pior ainda, quando se procura mascarar de bem. É o drama maior da humanidade. Quando a Sagrada Escritura afirma a força do pecado é para realçar a necessidade de penitência e de conversão, de forma a alcançarmos a bondade e a santidade que Deus nos oferece e comunica. A humanidade está ferida. Mas há esperança de remédio. Foi ferida apenas no calcanhar, como esclarecia a leitura do Génesis, ou seja, o mal não a domina totalmente. A maldade será esmagada pela descendência da mulher, pelo novo Adão, Jesus Cristo que inicia uma nova criação. Nossa Senhora é a primícia desta nova criação, a nova Eva, a Mãe dos tempos novos e do homem novo. 3. Bendito seja Deus pela bênção que nos concede Neste cenário da força do mal podemos entender a boa nova da redenção de Cristo. Ele traz um novo início, marcado pela benção. Após a queda de Adão, Deus não abandonou as suas criaturas à força do pecado. Como proclama São Paulo, no hino do início da Carta aos Efésios que ouvimos, considerado o Magnificat deste apóstolo: “Bendito seja Deus que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais em Cristo...Nele nos predestinou para sermos santos e irrepreensíveis em caridade na Sua presença”. A benção de Deus é uma protecção sobrenatural concedida por Deus, é uma força comunicada do alto sobre aqueles que combatem a iniquidade e se dedicam a semear a bondade pelo serviço a Deus e ao próximo. Maria Imaculada realiza na perfeição o desígnio divino de recuperar a santidade, ameaçada e dificultada pelo pecado original, na consagração total ao serviço de Deus, no afastamento de tudo o que é pecaminoso, na humildade, na confiança e dedicação totais ao plano de Deus. Mostra que é possível restaurar o projecto de salvação de Deus não pelas capacidades humanas mas por intervenção de Cristo. Em Cristo também nós somos herdeiros, filhos adoptivos, participantes da herança abençoada que Ele nos alcançou. “Ó Mulher cheia de graça, superabundante de graça, a tua plenitude transborda para a criação inteira e a faz reverdescer. Virgem bendita, entre todas as coisas bendita, pela tua bênção é abençoada toda a natureza, não só a criatura pelo Criador, mas também o Criador pela criatura”(Santo Anselmo). Intercede por nós, Virgem Imaculada, para que contemplando a tua beleza mereçamos chegar à presença do Altíssimo “santos e irrepreensíveis na caridade”. Santarém 8 de Dezembro de 2008 Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém


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