Bispo de Santarém sublinha valor das Festas Religiosas D. Manuel Pelino 03 de Agosto de 2005, às 15:28 ... O mês de Agosto é a ocasião de muitas festas. As populações de cada localidade movimentam-se, esforçam-se e congregam-se para organizar uma festa com brilho. Normalmente são designadas de festas religiosas e ostentam quase sempre nos cartazes a imagem do(a) padroeiro(a) da terra. Tendo em conta o programa e ambiente vivido nestas manifestações poderemos considerá-las verdadeiramente como festas cristãs? Desempenham inegavelmente uma função antropológica muito positiva. É um tempo agradável, relaxante, regenerador. Permite que cada um se sinta livre do constrangimento quotidiano, cultive a boa disposição, tenha tempo para os outros e para a comunidade e possa saborear a beleza da vida e do mundo. A festa evoca boa alimentação, convÃvio de amigos, roupas novas, divertimentos, liberdade. A perspectiva da festa anima a suportar o trabalho cansativo e o sacrifÃcio do dia a dia. Nesse sentido, a festa exerce uma função regeneradora da vida humana. Precisamos de festas para viver com harmonia. Há muitas variedades de festas: As que celebram as grandes etapas do ciclo da vida, como o Baptismo, o Casamento, o aniversário do nascimento, etc.; ou as quadras do ciclo litúrgico ligado ao ciclo cósmico (Natal, Páscoa, Santos Populares, Santo padroeiro). Desejo referir-me particularmente a estas últimas. A festa anual de cada localidade desempenha uma função importante no fortalecimento da identidade e da vida comunitária das populações. Merece, por isso, o interesse e a participação de todos os membros da terra. É o momento em que as pessoas das comunidades se encontram com as suas raÃzes, evocam as suas memórias comuns, convivem de forma simples e alegre, abrem as portas e procuram apresentar aos de fora a sua melhor imagem. Num tempo de individualismo e de estranheza mútua, devemos apreciar e salvar as festas dos padroeiros como uma oportunidade de enriquecimento pessoal, social e cristão. Estas festas têm caracterÃsticas próprias. Antes de mais, são participadas por todos: a festa é de todos, feita por todos, vivida por todos. Mesmo quando se convidam os de fora, é para vir à "nossa festa". Revestem, por outro lado, uma dimensão solene, sagrada que leva a contemplar a dimensão transcendente da vida. Uma festa do padroeiro que não tenha uma missa festiva e uma procissão pelas ruas da terra, esquece o caracter religioso da vida e da festa e perde, também, consistência e respeito. Nestes ritos damos visibilidade ao mistério invisÃvel em que acreditamos. Não estamos sós na vida, fazemos parte de um povo que peregrina acompanhado de Deus, da Virgem e dos Santos, participamos na Igreja celeste. A vida está envolvida pelo mistério e encontra luz e grandeza à luz da fé celebrada nestes ritos religiosos. Nesse sentido, para salvar estas festas devemos dar relevo ao que é verdadeiramente importante: participar na missa e na procissão como um acto central e unificador de todos os elementos do programa festivo. Enfeitar as ruas e as casas para este momento é uma forma de mostrar o apreço por estes actos religiosos e exteriorizar a alegria e a beleza da vida iluminada pela fé. Nota-se, actualmente, uma tendência para sobrevalorizar os espectáculos em detrimento das festas. Os espectáculos cada vez mais caros e mais ruidosos são, no meu entender, a grande ameaça das festas. Em vez da participação, os espectáculos favorecem a passividade e o individualismo. Enquanto a festa nos ajuda a sermos nós mesmos, o espectáculo aliena. Precisamos, por isso, de gente com criatividade, coragem e imaginação para salvar o verdadeiro significado das festas. Oxalá encontremos cristãos empenhados e mordomos com esta visão e coragem. D. Manuel Pelino, Bispo de Santarém Agosto de 2005 Religiosidade Popular Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...