Bispo do Funchal recorda papel da Igreja na história da Madeira D. Teodoro de Faria 04 de Julho de 2005, às 09:19 ... A Igreja, segundo a tradição e o passo que lhe é próprio, esteve sempre presente na história da Madeira e acompanhou o crescimento espiritual e humano, na medida e com a força que provinha da sua fé em Deus, em Jesus Cristo, no EspÃrito Santo, contemplando a mulher que modelou as gerações cristãs – Maria, a mãe de Cristo Redentor do homem e da Igreja. 1. Na Madeira, no Porto Santo e noutras partes do mundo, para onde emigraram as gentes nascidas nesta terra, evoca-se hoje a Madeira. É qualquer coisa de novo que nunca ouvi falar na minha infância – olhar com simpatia e até orgulho para a própria terra; considerar este território pequeno, rochoso e fértil um dom que Deus nos deu e que foi transformado pelo vigor, sabedoria e determinação do seu povo; reconhecer a dignidade própria que procurou a sua autonomia; contribuir, para o bem-estar da própria terra e de toda a sociedade humana. O Dia da Região procura vincular estes e outros valores nos seus concidadãos, principalmente nas novas gerações, mas esta identidade é mais sentida nas comunidades migrantes. A Igreja, segundo a tradição e o passo que lhe é próprio, esteve sempre presente na história da Madeira e acompanhou o crescimento espiritual e humano, na medida e com a força que provi-nha da sua fé em Deus, em Jesus Cristo, no EspÃrito Santo, contemplando a mulher que modelou as gerações cristãs – Maria, a mãe de Cristo Redentor do homem e da Igreja. Construir sobre alicerce firme 2 - Os padres franciscanos quando celebraram a primeira missa na margem da ribeira que atravessa Machico, colocaram um acto semelhante aos padrões que iriam depois ser colocados nas terras onde chegavam os portugueses. Com a celebração do sacrifÃcio eucarÃstico afirmou-se que esta terra, pertencia a Deus e o povo que a viria habitar tinha profundas raÃzes cristãs e valores fundamentais que nasceram e foram alimentados pelo evangelho. Com a chegada da Autonomia (em 1976) e neste dia que melhor recorda e representa a Madeira, a missa que hoje celebramos nesta Catedral, a primeira erigida fora da Europa no tempo das descobertas, é a continuação do mesmo gesto de fé dos portugueses crentes do séc. XV. Segundo a imagem usada por Jesus, e que São Mateus reproduz no primeiro Sermão do Senhor, uma espécie de tratado constitucional do Reino de Deus: «quem ouve as minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha», ao contrário do insensato que a construiu sobre a areia. Enquanto a Igreja do Funchal for peregrina sobre esta terra, ela não tem o direito de gloriar-se de si mesma mas do fundamento sobre o qual foi construÃda. Só Jesus Cristo fundou e salva a sua Igreja, esta pertence-lhe por direito próprio, porque a conquistou, a redimiu a alimenta com o seu corpo e sangue, e a conserva viva e missionária com o dom do EspÃrito Santo. Como filhos desta diocese, a nós é pedido trabalhar com todas as nossas forças e entusiasmo, sem angústia, com a serenidade de quem coloca todo o seu ser ao serviço do bem comum, com uma grande paciência, que não é sinal de resignação mas de um grande amor, que tem como aliadas a fé e a esperança cristãs. Fragilidades da Europa 3 - Quis Deus que o bispo que haveria de fazer a transição do século XX para o XXI, fosse um filho desta terra, no tempo em que a Autonomia se consolidou e a Madeira marcou passo ao lado das regiões que mais progrediram na Europa. Foi tempo de grande criatividade e entusiasmo que privilegiou estruturas e pessoas. Tudo foi planeado e construÃdo para o progresso da pessoa humana. Temos de reconhecer que é também nela que se encontra a dificuldade de harmonizar liberdade e responsabilidade. As estruturas cresceram em proporções significativas, mas não foram acompanhadas por um crescimento humano de forma a criarmos uma sociedade mais harmoniosa, justa, sem grandes desequilÃbrios entre os homens que são filhos do mesmo Pai que está nos Céus e «faz nascer o sol sobre os maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos». (Mt. 5, 45). Nos últimos tempos as nuvens adensaram-se sobre a Europa e não pouparam o nosso paÃs. Na hora do máximo êxito polÃtico e económico, a Europa parece escorregar para a decadência, esvaziada por dentro, sem a força espiritual que provinha das suas raÃzes, sem crianças nem berços suficientes, condenada a aprovar todos os produtos da secularização na famÃlia, com o desprezo da vida nascente ou no seu ocaso. Poucos querem reconhecer que algumas das causas da fragilidade da Europa são principalmente morais e religiosas, com a destruição da consciência moral, o desprezo do homem, cancelamento das certezas sobre Deus, a pessoa humana e o universo. O último combate, com a aparente vitória do iluminismo laicista radical, foi a recusa de que as raÃzes cristãs não podem entrar na definição dos fundamentos da Europa. O resultado é que a mentalidade laicista se castigou a si própria, acarretando uma chuva de «não» sobre o Tratado Constitucional. Num tempo de grave crise, dizia o grande bispo de Hipona, Santo Agostinho, o célebre autor da «Cidade de Deus» – que se um Estado se medir só pelos seus próprios interesses e não pela justiça mesma, não se diferencia de um bando de ladrões bem organizados. Não perder a esperança 4 - Ao considerarmos a nossa pátria, nome fora de uso, mas que tem na sua raiz a ideia de uma famÃlia com pai, precisamos de ser mais responsáveis e não perdermos a dignidade nem a esperança. Não me compete pronunciar-me sobre questões técnicas de polÃtica económica financeira que desconheço, mas desagrada-me que sejam penalizados os que mais foram sacrificados, os pobres, os desempregados, os doentes. O bem comum exige responsabilidade de todos de forma a não comprometer uma sociedade futura harmoniosa, mas nas polÃticas de austeridade, há grupos sociais que precisam de particular atenção e cuidado, para não agravar os seus problemas, principalmente o do desemprego. Há valores que são tarefa do Estado e outros da comunidade, como a generosidade, a criatividade, a formação para um teor de vida mais simples, menos despesista e mais realista. Não se pode pedir nem oferecer o impossÃvel. Não podemos viver acima das nossas possibilidades, favorecendo uma sociedade de consumo que procura felicidade e alegria onde elas não se encontram. Os programas de festas de férias, salvo melhor juÃzo, parecem demasiado dispendiosos, tendo em conta as necessidades de algumas franjas da nossa sociedade. Não devemos temer os momentos difÃceis, eles podem tornar-se alicerces de uma sociedade mais justa e equilibrada. Há lugar para a esperança se todos aprendermos a viver numa sociedade mais solidária, esclarecida e responsável. Funchal, 1 de Julho de 2005 Dia da Região Autónoma da Madeira D. Teodoro de Faria, Bispo do Funchal Diocese do Funchal Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...