Bispo para trabalhar pelo triunfo do bem D. Manuel Clemente 25 de Março de 2007, às 18:47 ... Homilia de D. Manuel Clemente na celebração de entrada na Diocese do Porto HOMILIA DA ENTRADA NA SÉ DO PORTO 25 de Março de 2007 A minha primeira saudação dirige-se neste momento ao Santo Padre Bento XVI, que me enviou à Diocese do Porto, para a servir como bispo, na comunhão da Igreja universal. Em.mo e Rev.mo Senhor Cardeal-Patriarca de Lisboa, mestre e amigo de tantos anos, a quem nunca poderei agradecer bastante. Ex.mo e Rev.mo Senhor Arcebispo Primaz e Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, em cuja metrópole agora me insiro, reforçando a nossa colegialidade. Ex.mos e Rev.mos Senhores Bispos que integram o ministério episcopal do Porto, com especial referência ao Senhor D. João Miranda Teixeira, que tão generosamente assegurou a administração apostólica da Diocese. Ex.mos e Rev.mos Senhores Arcebispos e Bispos de Portugal, irmãos de todas as horas no serviço comum das Igrejas da nossa Pátria. ExcelentÃssimas Autoridades públicas aqui presentes, do Estado, Consulares, e das Autarquias, administrativas, judiciais, académicas e militares ou de segurança: para todos a minha saudação respeitosa e a garantia de colaboração sincera em tudo quanto respeite ao bem comum da sociedade que servimos. Caro presbitério diocesano, secular e religioso - começando pelos Senhores Vigários gerais e episcopais, o Il.mo e Rev.mo Cabido desta Sé e -, com quem agora formo um só corpo pastoral, na variedade das suas aplicações e na unidade sacramental que nos torna presença viva de Cristo Pastor no meio e ao serviço dos crentes. Estimados diocesanos do Porto: caros diáconos, seminaristas, religiosos e religiosas, membros dos institutos seculares e todos os consagrados; fiéis leigos que fazeis frutificar o vosso Baptismo e Confirmação em múltiplas maneiras de testemunhar o Evangelho de Cristo, da famÃlia à sociedade, da vida profissional à cultural, da caridade à s missões, pessoalmente ou agregados, em quantos grupos, associações e movimentos o EspÃrito suscita e alimenta, da Igreja para o Mundo. Amigos de sempre, sacerdotes, diáconos, seminaristas, consagrados e leigos, do Patriarcado e de outras Dioceses, que quisestes vir aqui, para de algum modo me oferecer à Diocese do Porto, qual fruto também da vossa amizade de tantos anos e do vosso estÃmulo de tantas horas. Todos vós, cristãos ou de outros credos, crentes ou porventura não-crentes, que aqui vos encontrais no que posso desde já considerar um exercÃcio de amizade, a que me sinto deveras reconhecido e obrigado: Ao iniciar o ministério na Diocese do Porto, atinge-me compreensivelmente o sentimento forte de veneração e respeito por tudo o que aconteceu de nobre e sublime na longa série dos seus episcopados. Diocese antiga, precedeu e acompanhou a história portuguesa, dando-lhe por vezes os nomes mais expressivos e proféticos: não nos faltarão ocasiões e efemérides, para os irmos lembrando especificamente, tão importante é reter a vida vivida, para inspirar a que se há-de viver. Deu-lhe, mais constantemente, a garantia da fidelidade eclesial dos seus sucessivos pastores. Entre eles, quero homenagear aqui as venerandas figuras dos meus imediatos antecessores, os Senhores D. Júlio Tavares Rebimbas e D. Armindo Lopes Coelho, cuja saúde e vida Deus guarde e acrescente, para benefÃcio de todos quantos havemos de lucrar muito com a sua acumulada experiência e comprovada sabedoria. Particularmente ao Senhor D. Armindo formulo votos – que são de toda a Diocese – de boa recuperação. Episcopados coevos de pujantes manifestações do EspÃrito de Cristo, carismáticas e institucionais, em multiplicadas obras de evangelização, culto e caridade. Tem sido esta Diocese, ao longo dos tempos, berço ou palco das mais diversas realizações apostólicas, de clérigos religiosos ou seculares, de vários tipos de vida consagrada e de inúmeros leigos, por si ou associados. Por toda a larga e densa Diocese portucalense, quase não há localidade em que uma rua, uma instituição, um monumento, ou a memória vida dos habitantes não lembre uma realização evangélica com redundância social ou cultural, artÃstica ou genericamente filantrópica. É a esta Diocese que a vontade do Santo Padre me trouxe agora, para servir a inesgotável obra do EspÃrito Santo, que assim fecunda a Igreja, ao serviço duma Humanidade de que Deus não desiste nunca. E só por saber que a obra é divina, me atrevo eu a juntar o nome à evocada série dos seus prelados e a quantos, clérigos, religiosos ou leigos, constituem a Igreja do Porto, louvando a Deus e servindo os irmãos. Deus não desiste nunca de criar e recriar o Mundo, quer nos corações, quer na prática social. Há muito que terÃamos desistido nós, se não fosse assim. Em cada construção da paz, que é obra da justiça - distributiva e pedagógica, mesmo quando corrige -, em cada compromisso solidário e generoso, há desgastes, decepções e feridas que precisam de um ânimo maior do que as disposições momentâneas e as boas intenções. Por vezes, os temperamentos fortes ou os ideais mais empolgantes podem garantir alguma persistência mais. Mas para seguir sempre, e, sobretudo, para não desistir de ninguém, é comprovadamente necessária a participação no coração divino, onde cabemos todos como filhos, donde renascemos sempre como dádiva. Reconheçamo-lo, então, para podermos prosseguir, sobretudo num tempo tão rarefeito como o nosso. Chamam pós-moderna à sensibilidade dominante nas últimas três décadas. Caracterizam-na como fruto de grandes decepções ideológicas e concentração no momentâneo e imediatamente gratificante. Algo como vigorava entre pagãos, quando o Cristianismo nasceu: “comamos e bebamos que amanhã morreremos…â€. Neste ambiente, o pensamento é débil, os valores são frágeis e as práticas inconsequentes. Sem maniqueÃsmos, podemos reconhecer razões neste modo de sentir e estar, arredio e desconfiado em relação a grandes discursos e propaladas meta-narrativas, que tantas vezes camuflaram desÃgnios obscuros e causadores de grandes males. Mas não é difÃcil concluir que, se ficamos apenas com desconfianças e impressões, não faremos nada de futuro, enquanto crentes e cidadãos. Como se escrevêssemos na água… Não na água, mas na areia, escrevia Jesus então, como quem dava tempo aos interlocutores para lerem nas próprias consciências; aà mesmo, onde Deus deixou uma lei inapagável, na qual a dignidade de todos e de cada um realmente se garante. Traziam-lhe uma mulher surpreendida em adultério, queriam que Jesus apoiasse um castigo mortal. E o mais surpreendente nem será depois a atitude serena e lúcida do “mestreâ€, que os obriga em consciência a desistir de tal castigo. O mais surpreendente será sim a frase final com que Jesus a envia: “Vai e não tornes a pecarâ€. Aqui, efectivamente, ultrapassa-se toda a medida humana, ainda que larga e generosa. Aqui manifesta-se a grandeza de Deus, que pode ordenar o que só divinamente é possÃvel: “Não tornes a pecar!â€. Aqui se reconstrói a vida, na ordem e no poder de Cristo, tantas vezes demonstrado a partir de então: “nós somos testemunhas destas coisas†e o Cristianismo é tudo o que há de mais factual, prático e comprovado, nesse sentido recriador e ilustrativo de que Deus é a permanente juventude do Mundo. Irmãos e amigos, a Igreja de Cristo existe no Mundo e para o Mundo como sinal e activação desta novÃssima graça, que reconstrói vidas e relança caminhos, a partir do poder de Deus. Temos nos altares inúmeras figuras – ainda assim muito menos do que as 144 000 que o Apocalipse nos mostra no Céu - , que antes de serem obras de arte nossa, o foram da divina graça, moldando corações antes de talhar imagens. Fraquejou Pedro, a graça fê-lo mártir; de muitos males padecia a Madalena, a graça fê-la “apóstola dos apóstolosâ€; distraÃam-se as juventudes de Francisco de Assis ou de Carlos de Foucauld, a graça fê-los santos e profetas das suas épocas; descrente era Edite Stein, a graça fê-la doutora da Igreja e mártir de Auschwitz, pelo e com o seu povo… - E a todos nós, neste Domingo de Quaresma e conversão, que fez e faz a graça de Cristo, senão levantar-nos a uma vida mais alta, digna, pura e solidária?! E a todos nós, que nos dizem e transmitem continuamente cada pregação, sacramento e obra de caridade, senão a possibilidade de persistir no bem e, mais ainda, de começar de novo?! Irmãos sacerdotes e diáconos, estimados consagrados e seminaristas, carÃssimos leigos e todas as pessoas que a boa vontade e a cortesia hoje reúne nesta vetusta e insigne catedral portucalense: só desta realidade vivemos e só para a difundir existimos como Igreja, na variedade dos carismas e ministérios em que Deus nos queira. Existimos e trabalhamos, em cada comunidade paroquial ou religiosa, em cada famÃlia, movimento ou associação, em cada empenho profissional ou cÃvico, para manifestar o incansável recomeço e o verdadeiro progresso que todas as coisas legÃtimas e necessárias podem e devem ter a partir do poder de Deus. De Deus, que não desiste nunca de levar por diante uma criação cujo potencial está muito longe do esgotamento, antes se apresenta promissor e exaltante, como o sabem os profetas e o atestam os verdadeiros crentes. Não peça o Mundo à Igreja outra coisa senão esta, a luz e a graça de Cristo para o triunfo do bem. Entregam-se e aplicam-se vidas sacerdotais inteiras – e como as havemos de pedir sempre e mais ao “Senhor da messeâ€! -, pregando o Evangelho, administrando sacramentos, alargando a caridade, unicamente para dar à sociedade, com a graça de Cristo, a força e o estÃmulo do que ela há-de ser toda, como fraternidade e partilha. Aplicam-se os ministros da Igreja e os leigos no Mundo em idêntico afã, para que se comece a experimentar aquela verdadeira convivência, a que Jesus chamou “Reino de Deusâ€! O Papa Bento XVI percebeu agudamente que esta é a única oportunidade para a Igreja, para o Mundo e para a conjugação positiva de ambos nos nossos dias. Por isso não hesitou em escrever as seguintes palavras, que devemos reter de cor e nos sobram como programa: “Toda a actividade da Igreja é manifestação dum amor que procura o bem integral do homem: procura a sua evangelização por meio da Palavra e dos Sacramentos, empreendimento este muitas vezes heróico nas suas realizações históricas; e procura a sua promoção nos vários âmbitos da vida e da actividade humana. Portanto, é amor o serviço que a Igreja exerce para acorrer constantemente aos sofrimentos e à s necessidades, mesmo materiais, dos homens†(EncÃclica Deus caritas est, nº 19). Não nos peça outra coisa o Mundo; mas, isto mesmo, havemos obrigatoriamente de lhe dar. Serviço de renovação constante de “todas as coisasâ€, pela graça divina, que já prometia IsaÃas aos exilados do seu tempo, falando em nome de Deus: “Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a acontecer; não a vedes? Vou abrir um caminho no deserto, fazer brotar rios na terra árida!â€. Horizonte infindo de realização e de ser, como escutámos depois a Paulo, já possÃvel pela caridade de Cristo, em quem Deus se demonstrou e prometeu: “Só penso numa coisa: esquecendo o que fica para trás, lançar-me para a frente, continuar a correr para a meta, em vista do prémio a que Deus, lá do alto, me chama em Cristo Jesusâ€. Aqui nos reencontramos sempre, irmãos e amigos, no que herdamos e no que temos para oferecer a todos os que connosco compartilham a aventura humana: um horizonte largo e uma graça garantida, para começar, recomeçar e persistir. Assim está Cristo hoje, como naquele dia em Jerusalém, diante de toda a impossibilidade humana, sobretudo nas nossas contradições e limites, sejam quais forem e de que ordem forem, fÃsica, moral, social ou espiritual. Está connosco, como a Igreja o sabe, testemunha e oferece. É nesta realidade vastÃssima e empolgante, que se sucedem as gerações e os ministérios eclesiais, como acontece aqui e agora. Para que em tudo se realce e manifeste unicamente e sempre a bondade do Pai, a proximidade de Cristo e o poder do EspÃrito! + Manuel Clemente Dossier AE Novo Bispo para o Porto Diocese do Porto Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...