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Caminhar com Maria para um encontro com Deus e com os homens

D. Jorge Ortiga
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Em tempos das velocidades os caminhos são imprescindíveis. Sem eles os objectivos permanecem longínquos e de prossecução difícil. Aplaudem-se, por isso, as auto-estradas - quer terrenas, quer informáticas – e criticam-se os difíceis acessos. Outrora tudo parecia mais fácil e as populações contentavam-se com o que havia ou era possível. Hoje a pressa não se contemporiza com algo que detenha ou impeça o ritmo da caminhada. Passando da linguagem humana e penetrando no âmbito da fé, sabemos que o ser humano é oriundo de Deus e caminha para Ele. Muitos parecem ou teimam em negar esta evidência. Creio, porém, que o coração humano continuará intranquilo enquanto não O encontrar. Aí reside o âmago da existência humana. Negar esta certeza conduz ao encontro de sucedâneos vazios de conteúdos que distraem mas não respondem ao porquê da vida. A Igreja é este “sacramento†do divino entre os homens e deveria tornar-se no seu “ser†e no seu “agir†um local rápido de encontro com Deus. Acontecerá? A sua dinâmica sacramental e os momentos de devoção geram encontro ou afastam do essencial? Desde os primórdios do cristianismo a devoção a Maria surgiu como um apontar de caminho para o encontro com o Cristo. A Sua vida foi um “fazei o que Ele disser†e a história, na variedade das invocações ou no reconhecimento de verdade ou dogmas, testemunha que por Ela é necessário chegar a Deus. Se a Igreja e o Povo cristão souberam, ao longo dos tempos, colher esta lição dum “vazio humano†plenificado por um “sim†incondicional na aventura duma “viagem†a exigir adesão aos caminhos de Deus, que poderiam não coincidir com os seus - vejamos a experiência da Anunciação -, hoje teremos de redescobrir esta particularidade única de Maria. Ela é grande porque os Seus caminhos coincidiram com os caminhos de Deus. Se condenamos os maus acessos ou a deficiência de sinalização, teremos de corrigir e regressar à verdadeira devoção mariana que se sintetiza na alegria do filho em ser como a mãe. Dá prazer e alegria ver os nossos Santuários Marianos. Eles atraiem multidões permanentemente. Mas o que recebem estas multidões nesses lugares. Maria quer que os devotos caminhem ao encontro de Deus. Não estaremos, por incúria, inércia, apego ao passado ou a tradições, a cortar os seus caminhos não permitindo o verdadeiro encontro? Gosto de olhar para Maria como a discípula e como a apóstola. Percorreu caminhos de escuta da Palavra de Deus e do Filho que acolhia no seu coração e vivia; lançou-se na alegria de gastar a vida para que outros se encontrassem com o Filho. Mais do que nunca a Igreja deve percorrer os caminhos de Maria. Só que importa que estes sejam os justos, os verdadeiros, nunca feitos de imitação ou camuflagem. Como “Mãe da Igreja†ela conduzirá a verdadeira experiência do sobrenatural através de algo que envolva muito de místico e contemplativo. Por outro lado, os santuários terão de tornar-se este “farolâ€, “bússola†onde se respira não só uma religiosidade mas uma verdadeira religião no duplo sentido de “ligação†a Deus e de observância, feita testemunho, duma pastoral de vanguarda. Este Congresso será mais uma “coroação†de Maria que ajudará a estimular uma devoção autêntica, a purificar de possíveis imperfeições para um encontro com Deus nos Santuários como aquilo que o homem moderno precisa embora pareça disfarçar. Maria o quer e nós o alcançaremos. + Jorge Ortiga, A. P.


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