Como vivemos o Advento? D. Teodoro de Faria 20 de Dezembro de 2004, às 12:01 ... Mensagem de D. Teodoro de Faria, Bispo do Funchal 1 - Entramos no quarto domingo do Advento, dentro em breve é natal. A liturgia do Advento foi ritmada por verbos no imperativo: Vigiai, Preparai o caminho, Dizei aos sem esperança, Levantai a cabeça, Alegrai-vos, e por fim um grito que sobressai todos os outros: Vinde Senhor Jesus. Maranatha! O Advento conserva uma dimensão penitencial, embora diferente da Quaresma. A liturgia com os paramentos roxos e textos que assumem tonalidades de súplica e audição convocam para a oração, para a vigilância durante a noite, como nos tempos difÃceis em que se esperavam guerras e invasões. João Baptista é a voz potente que grita no deserto – preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. O Advento ao anunciar que toda a salvação vem de Deus consente à Igreja não cair na tentação do triunfalismo. A conversão encontra no Advento um tempo forte. A mais urgente das conversões é a remoção dos obstáculos que se opõem à vinda do Reino de Deus, dum modo especial a desunião dos que anunciam a sua vinda. Neste quarto domingo ressoa na liturgia o anúncio mais belo do Advento: «uma Virgem conceberá e dará à luz um Filho...». A Virgem é Maria, que adere totalmente ao convite de Deus: Eis-me, faça-se em mim segundo a vossa Palavra. A decisão de Maria ao plano de Deus faz resplandecer no Advento a luz da manhã de Páscoa. Na aceitação de Maria emerge a voz do parto e da Mãe que estará presente em Belém e no Calvário. A Igreja é chamada como Maria a exercer a sua vocação de mãe, para que a Páscoa de Cristo transforme a nossa história humana, cheia de contradições, pecados e injustiças, em história de salvação. 2 – O tema constante do Advento é a vida, a de Jesus como a de todos os filhos de Deus. Acreditar que Jesus nasceu de uma Virgem é colocar toda a sua fé na Palavra de Deus. Quem quiser compreender com sabedoria a manifestação de Deus no mundo deve ler todos os acontecimentos à luz da Palavra. Neste tempo somos chamados a reflectir sobre a situação em que se encontram tantas jovens que de um momento para outro se encontram grávidas, muitas vezes de uma forma não desejada nem esperada. A primeira reacção é criminalizar ou criar o sentido de culpa, mas esta atitude não vai ajudar a formular um juÃzo correcto e segundo o espÃrito natalÃcio. Na catequese dos adolescentes é preciso sublinhar o valor do corpo, o uso e abuso que se pode fazer dele, o valor da sexualidade humana, de forma a que a verdade seja anunciada na caridade. Quando casos chocantes de mães solteiras acontecem numa paróquia, a comunidade cristã é chamada a tornar-se «mãe» junto da futura parturiente, da famÃlia e dos amigos. A chegada de uma nova vida é sempre motivo de alegria e a procura do aborto para esconder a maternidade é participação num crime. Há alguns anos por ocasião de uma missa do parto, em cuja eucaristia falei da vida e da situação difÃcil de uma mãe solteira, no encontro festivo no adro após a missa, uma jovem aproxima-se de mim e diz-me: O Senhor Bispo hoje falou para mim. Falei para todos, disse-lhe. O que foi que mais te agradou. Eu, diz-me a jovem, sou mãe solteira, e toda a minha famÃlia e amigos apontaram o aborto como solução para lavar a minha culpa e salvar o bom nome da famÃlia. Mas eu nunca cedi, dizia comigo, não mato, não mato o meu filho. O Senhor Bispo disse hoje que eu fiz bem. Estou muito contente, apesar de não ter encontrado quem me ajudasse nesse momento. Numa época em que entre nós se constróem tantos presépios, por vezes, mais por folclore do que por devoção, favorecer o nascimento de um menino não procurado nem esperado, é a melhor forma de ser fiel ao espÃrito do presépio e actualizar o Natal de Jesus Cristo. Não tem significado natalÃcio o montar um presépio dentro ou fora das casas onde se matam crianças antes de nascer. A paróquia tem de exercitar a sua maternidade não só no Advento, ela é chamada a ser «Belém», «a casa do pão», durante todo o ano, alimentando a esperança das jovens mães, que se encontram na solidão, e por vezes, não sabem o que fazer, nem a quem dirigir-se para receber uma ajuda e uma resposta. 3 – Sede sóbrios e vigiai. Desde o inÃcio do Advento a liturgia convida à sobriedade. Os centros comerciais e todos os negócios descobriram há muito tempo a fome e a sede que escorrem nas veias e coração das pessoas para servir-se deste perÃodo natalÃcio para comprar, gastar, adquirir. Nalgumas casas gasta-se o dinheiro, com prazer, mesmo em coisas que não se precisa. Já se compara esta febre de consumo desordenado à s dependências do álcool, das drogas, dos telefones celulares. Quem raramente não fica satisfeito são os comerciantes que esperam por este tempo para pôr em ordem os seus negócios, por vezes, realmente, em crise. A comunidade cristã, dum modo particular, nesta última semana do Advento e durante as Missas do Parto, deve ser advertida e evangelizada. A vida cristã não depende tanto daquilo que se tem e possui, mas daquilo que se recebe e se dá. Quanto mais se compra, tanto mais difÃcil se torna encontrar em casa espaços para colocar tantos objectos que, por vezes, ficam arrumados nas garagens, cantinas e sótãos. Deste perigo, são poucos os que estão isentos de correr tal risco, tanto entre os descrentes como nos que têm fé. A sobriedade é um estilo de vida puramente evangélico: «procurai antes de tudo o reino de Deus e a sua justiça e tudo o resto vos será dado por acréscimo» (Mt. 6,3). Impõe-se conhecer as verdadeiras prioridades, de forma a emergir o necessário e a diminuir o supérfluo. Quando a casa está cheia de coisas belas, mesmo necessárias, mas não há lugar para o diálogo nem o encontro na alegria e na paz, pode faltar também lugar para o Menino de Belém Filho da Virgem Maria, mesmo que nessa habitação se encontre um presépio rico e artÃstico. «Conheceis muito bem a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, fez-se pobre por vosso amor, a fim de enriquecer-vos com a sua pobreza?» ( 2Cor. 8,9). †Teodoro de Faria, Bispo do Funchal Diocese do Funchal Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...