Dando continuidade aos anteriores encontros, realizou-se na Guiné-Bissau, de 16 a 21 de Janeiro de 2004, o V Encontro das Presidências das Conferências Episcopais dos Países Lusófonos, contando com a presença de oito Bispos das Conferências Episcopais de Guiné-Bissau, Angola-S. Tomé e Príncipe, Brasil, Cabo Verde e Portugal; também esteve presente um representante da Fundação Evangelização e Culturas (FEC).
No primeiro ponto da ordem de trabalhos, passou-se em análise a situação social e pastoral nos diversos países. Mereceram especial relevo as seguintes temáticas:
As fortes expectativas em relação à consolidação da paz em vários países que têm vivido em situações de guerra e insegurança sócio-política, e as novas possibilidades de iniciar processos históricos conducentes ao desenvolvimento dos respectivos povos;
o fenómeno crescente de concentração das populações nas cidades de maior dimensão, na busca de melhores condições de vida, situação que acarreta enormes desafios sociais e pastorais a reclamar formas inovadoras de acolhimento humano e evangelização;
a verificação dos passos significativos na colaboração entre várias igrejas e confissões religiosas, sobretudo na busca da paz, da reconciliação e da promoção dos direitos humanos;
a preocupação pela existência de um número demasiado elevado de crianças e adolescentes que não têm acesso à escola, à saúde e a outros bens essenciais, sobretudo nos países de África. Foi lançado um alerta para a percentagem de pessoas e famílias em situação de extrema pobreza, miséria e fome. É também motivo de muita preocupação o número de pessoas portadoras de sida, de consumidores de drogas, e a falta de respostas sociais organizadas para os doentes em estado terminal;
a falta de condições de acesso ao emprego, a prática de salários muito baixos e a ausência de remuneração, em contraste com o exagerado custo de vida, que se repercutem na existência de situações de extrema insegurança nas famílias e de fragilização da confiança nas instituições sociais, educativas e políticas;
a constatação de uma progressiva secularização e relativismo moral, com incidência nos comportamentos humanos, éticos e de cidadania, e no afastamento da prática religiosa; por outro lado, nota-se o crescimento da consciência de uma Igreja cada vez mais de comunhão e missão, fruto de adequadas apostas pastorais no campo da formação de catequistas e de animadores de comunidades;
o empenho na formação dos futuros padres, cuidando também, com especial atenção, do seu acompanhamento humano-afectivo. Essa formação deverá habilitá-los das necessárias competências para saberem lidar com novas situações decorrentes das mudanças culturais e procurar, com persistência, novas formas de actuação da Igreja face aos desafios que hoje se colocam. Para além disso, verificou-se o prosseguimento de iniciativas de formação permanente do clero.
Em conclusão, apesar das limitações e obstáculos verificados, fica na mente de todos um grande sentimento de esperança e um ardor missionário, garantes das energias capazes de transformar dificuldades em oportunidades, designadamente no campo de novas iniciativas de âmbito pastoral, com um envolvimento cada vez maior dos cristãos das várias Igrejas.
Num segundo momento foram inventariadas as acções em curso desde o IV Encontro, em Cabo Verde (Janeiro de 2003). Com base na avaliação do trabalho realizado e tendo em conta a análise das realidades já descritas, decidiu-se:
3.1 Promover um maior intercâmbio na formação dos futuros sacerdotes para aferir critérios e estilos de formação;
3.2 estudar a hipótese de uma possível organização conjunta para a formação dos seminaristas de Cabo Verde e de Guiné-Bissau, nos ciclos de filosofia e teologia, contando com a colaboração de professores das diversas igrejas;
3.3 desenvolver iniciativas de solidariedade, concretizadas na permuta de sacerdotes e na partilha de bens materiais que ajudem à sustentação do clero, sendo de salientar que, se a curto e a médio prazo, tal solidariedade se torna necessária, a solução sustentada dos problemas económicos das várias igrejas decorrerá do desenvolvimento dos respectivos países;
3.4 em face das novas exigências resultantes das transformações culturais que afectam o mundo actual, urge continuar a apostar na formação permanente e especializada do clero, contando para tal com a colaboração dos recursos humanos e dos centros formativos especializados das diversas igrejas;
3.5 valorizar o projecto de apoio às rádios católicas como instrumento essencial na difusão do Evangelho, na educação popular e no serviço do desenvolvimento e da consciência dos direitos humanos. Para além dos aspectos técnicos e logísticos já desenvolvidos, deverá insistir-se em projectos de formação de jornalistas que os habilitem para corresponder aos objectivos de tais rádios;
3.6 para maior eficácia das acções conjuntas propostas no Encontro, torna-se necessária uma maior articulação e trabalho em rede das várias organizações envolvidas na cooperação, designadamente a Fundação Evangelização e Culturas, as Caritas e a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre.
Para além das reuniões de trabalho, os Bispos consideraram do maior enriquecimento a visita a Bafatá, as celebrações a que presidiram nas várias comunidades e, principalmente, os debates com as forças vivas do país de acolhimento. Registaram com apreço a ampla cobertura dos meios de comunicação social e qualidade do trabalho que desenvolveram.
A terminar, os delegados agradecem o excelente acolhimento da Igreja e das Autoridades da Guiné-Bissau, incluindo o Corpo Diplomático. Foram particularmente sensíveis às recepções calorosas e às manifestações estéticas e culturais do povo, em geral, com especial destaque para o espectáculo no Estádio Lino Correia.
Foi, para os Bispos, uma notável distinção, a audiência concedida pelo Presidente da República da Guiné-Bissau, a quem fazemos votos de feliz êxito na sua missão de consolidar a paz e o desenvolvimento no país.
O VI Encontro decorrerá em Moçambique no ano de 2005.
Bissau, 21 de Janeiro de 2004