Documentos

Conclusões do 23.º Encontro Nacional da Pastoral da Saúde

Comissão Nacional da Pastoral da Saúde
...

Os 750 participantes do XXIII Encontro Nacional de Pastoral da Saúde apontam as seguintes linhas de reflexão e acção:

1.    As mudanças no mundo da saúde e simultaneamente as novas e permanentes exigências colocadas ao modo de ser Igreja, tornaram premente a necessidade de oferecer às comunidades cristãs e a quantos trabalham no mundo da saúde, novos elementos de reflexão e linhas operativas comuns. 

2.    A espiritualidade não é um estado de hipersensibilidade, emotividade banal, distanciamento do mundo, devocionalismo exagerado, espiritismo, sectarismo e/ou auto-engano. Estas não são mais que distorções, perversões e atrofias da espiritualidade. Não podemos ser ainda insensíveis à crescente busca de espiritualidade(s) provenientes de quadrantes muito diversos e ao mesmo tempo a crescente busca de “medicinas alternativas”. Neste “Babel” de espiritualidades, reconhecemos a tradução da insaciabilidade da pessoa perante a “robotização” da vida.

3.    A espiritualidade cristã tem marcas identitárias reconhecíveis: é o processo gradual de identificação com a pessoa de Cristo através do cultivo da vida interior (perdão, reconciliação, auto-reconhecimento, esperança, gestão de expectativas, sentido, comunhão, oração, gratuidade, conversão , espírito de sacrifício, Deus…); é a procura de uma visão profunda e inclusiva da realidade para além das aparências circunstanciais; é o discernimento libertador sem receitas feitas; é a experiência de sair de si mesmo sem deixar de ser quem é; é também a ritualização da fé.

4.    A experiência de espiritualidade permite, a todos, uma visão positiva sobre os acontecimentos, um recto equilíbrio entre o ter e o não ter, uma liberdade interior e a procura de um bem maior em cada situação. A espiritualidade é, em suma, o cultivo da esperança, é a transparência da vontade própria no cruzamento com a vontad e e o amor de Deus. A espiritualidade é o mapa do biológico e por isso instrumento útil em qualquer modelo de prestação de cuidados de saúde.

5.    Assiste-se a uma crescente deslocação dos temas da saúde e da doença para o domínio da técnica e da gestão económica, também nas Instituições tuteladas pela Igreja. A falta de consideração pelas histórias pessoais (também dos profissionais de saúde), pelas perguntas de sentido, pelo apelo de presença e de amor, pelas exigências de interioridade , pela vocação de unicidade da pessoa, pelos valores e fé professadas, pela necessidade de exercer a prática religiosa. Tudo isto empobrece a capacidade de prestar um serviço eficaz e integral à pessoa. Compreender o sentido da saúde, do sofrimento, da doença e da morte é praticamente impossível se estes são aprisionados na lógica unicamente empresarial, esquecendo o horizonte das finalidades e da identidade das instituições civis e religiosas.

6.    Existem carências significativas no apoio ao trabalho desenvolvido pelos Agentes de Pastoral concretamente na sua formação, na sua inclusão nas equipas das unidades de saúde e nos modelos de trabalho adoptados.

7.    Os novos desafios que se colocam hoje devem ser catalizadores de uma Pastoral da Saúde reinventada, tornando esta área mais aliciante para o voluntariado jovem e mais considerada e reconhecida no seio dos profissionais de saúde.

8.    Escolham-se algumas paróquias, em cada Diocese, que possam ser comunidades-laboratório da Pastoral da Saúde, estudando a realidade, conhecendo os seus doentes, acompanhando-os social e espiritualmente, tornando-os sujeitos de pastoral, mobilizando voluntários e integrando-os em projectos específicos, ensaiando assim processos transversais de educação para a saúde.

9.    Considere-se o Ano Europeu do Voluntariado, que se celebrará em 2011, uma grande oportunidade não só para valorizar o trabalho do “Voluntariado de Capelania” mas também a promoção do reconhecimento público do Voluntariado em Saúde como exercício de amor ao próximo e de cidadania.

10.  Intervenha-se activamente nas escolas de saúde (estudantes e corpos docentes) de modo a complementar a formação básica com a formação da “inteligência espiritual”.

 

Agradecemos a presença do Sr. D. Carlos Azevedo, Bispo Coordenador da Pastoral Social (onde se insere a Pastoral da Saúde), do Sub-secretário do Conselho Pontifício, Mons. Jean-Marie Mependawatu,  e da Senhora Ministra da Saúde, Drª Ana Jorge.

Fátima, 26 de Novembro de 2010



Pastoral da saúde