Mensagem de Natal do Bispo de Portalegre-Castelo Branco diz que Jesus «continua a provocar» e a incomodar
«Vamos todos a Belém»
Ano após ano, a Igreja concentra os mistérios centrais da sua fé em duas grandes solenidades: o Natal e a Páscoa. Trata-se do único acontecimento salvífico: o da Incarnação do Filho de Deus que começa com o nascimento de Jesus e termina na sua Paixão, Morte e Ressurreição. É esta a fé bimilenária que a Igreja professa.
Nesta quadra, celebramos o nascimento de Jesus, em Belém. Jesus Cristo é a Palavra última e definitiva de Deus à humanidade (Heb 1, 2), o único mediador entre Deus e os homens (1Tim 2, 5), a fonte de toda a salvação presente e futura (cf. Act 4,12). Com os Pastores, que “para lá se dirigiram apressadamente”, eu convido cada diocesano, pessoalmente e em família, a “irmos” todos a Belém para que, em silêncio fecundo, vejamos “o que aconteceu e o que é que o Senhor nos deu a conhecer”(Lc 2, 15-28).
Ali está um Menino, frágil como todos os meninos. Diante d’Ele, porém, ninguém é capaz de ficar indiferente. Desde a primeira hora que Ele é tido como presença incómoda e ameaça para o poder constituído na injustiça e no despotismo. É pedra no sapato para os instalados na vida, os egoístas, os violentos, os interesseiros, os exploradores, os que se julgam donos da vida, do mundo e dos seus recursos económicos, os manipuladores da consciência dos outros, os que passam o tempo a reivindicar excepções e privilégios, os que sobem na vida à custa do “sangue e trabalho” dos pobres.
Desde a primeira hora que Ele é a concretização da esperança que sempre animou o “resto de Israel”, os pobres e humildes de coração, os injustiçados, os pecadores, os que sofrem no corpo e na alma, os explorados e todos os excluídos da sociedade, os que têm fome e sede de justiça, os que precisam de quem lhes faça companhia, os ouça e ame.
Dois mil anos depois, vivo e presente entre nós, Ele continua a atrair multidões e a muitos incomodar pela sua origem, doutrina e postura, pelos horizontes que rasga e pelos caminhos que aponta. Continua a provocar e a não deixar ninguém indiferente.
Quero acreditar que nem tu, caro leitor. Nem tu, mesmo que, porventura, te afirmes não crente, nem tu serás capaz de ficar à margem da celebração de tal acontecimento. Repara: seja qual for o modo e a atitude interior que te move, estás a celebrar o Seu nascimento. Estás envolvido na festa! O mundo está em festa! As cidades e aldeias estão em festa. As pessoas, as crianças, as famílias estão em festa. É NATAL! Nasceu um Menino que foi, é e continua a ser o centro da história e do cosmos, o revelador da ternura e da bondade do Pai como um Deus próximo, atento e amigo.
É o Messias esperado. É o Filho de Deus! O Salvador!...O que passou pelo mundo fazendo o bem. O que deu a vida por cada um de nós.
Ali, a Seu lado em Belém, em atitude corajosa e expectante, está Maria e José. Maria, a Mãe contemplativa, pobre e humilde, mas aberta ao dom da vida e sem medo das consequências da sua generosidade maternal. E José, o homem justo, que em perfeita sintonia com a sua esposa, espera e acolhe no silêncio agradecido da sua fé, o Filho de Deus que precisa da sua presença de “pai”, solícito e dedicado. Que precisa, como todas as crianças, de um espaço de ternura familiar onde reine a paz, o respeito mútuo, o acolhimento, a delicadeza e a alegria. De um espaço aberto ao divino que se oferece como hóspede e está presente em Jesus que vem para iluminar todas as pessoas e todas as famílias, revelando-nos o verdadeiro rosto de Deus Pai, a intimidade e a plenitude do Seu amor e ternura.
“Viajar” até Belém, implica que cada um de nós e cada família, regresse a casa “por outro caminho”. O caminho da conversão. O caminho que nos leva a escancarar as portas da alma e da família a Cristo Salvador para conviver com Ele e O ver nos outros: não só nos que convivem connosco todos os dias – a família, os colegas de trabalho e outros – mas também nos pobres, doentes e nos que sofrem as vicissitudes de uma vida que teima em não sorrir por mercê das suas circunstâncias existenciais e esperam a nossa solidariedade e bem fazer.
Para todos, Santo e Feliz Natal. Bom Ano.
Portalegre, 15 de Dezembro de 2008
+Antonino Dias, Bispo de Portalegre-Castelo Branco