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Conversão radical

D. Gilberto Reis
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Mensagem para a Quaresma do Bispo de Setúbal

Caros Diocesanos, Mais uma vez o Senhor nos dá a graça da Quaresma e a graça de, pela conversão radical, preparar a celebração do Mistério Pascal de Cristo. Nesta Quaresma, gostava de vos convidar a meditar na palavra de Jesus: «Quem acolher em meu nome uma criança como esta, acolhe-me a Mim», seguindo de perto a meditação proposta pelo Santo Padre. Jesus amou as crianças e quer que a comunidade as acolha como a Ele mesmo. A par das crianças, Jesus põe os «irmãos mais pequeninos», ou seja, os pobres, os imigrantes, os doentes e os presos. Acolhê-los, ou, ao invés, rejeitá-los, é acolher e rejeitar Jesus, que neles está presente de modo especial. Mais. Para Jesus, a criança é a imagem do discípulo que é a chamado a seguir o Divino Mestre com a docilidade de um menino: «Quem for humilde como esta criança, será o maior no Reino dos Céus». Tornar-se pequenino e acolher os pequeninos: são dois aspectos dum único ensinamento que o Senhor hoje repropõe. Somente quem se fizer «criança» será capaz de acolher com amor os irmãos mais «pequeninos». Dou graças pelos que procuram seguir estes ensinamentos de Jesus. Penso nos pais que, na luta da vida, põem como prioridade entregar aos filhos os valores humanos e religiosos que dão sentido à vida. Penso nos que cuidam das crianças vítimas de violência, de abandono e de tantas injustiças. Penso nos professores, educadores de infância e seus auxiliares que revelam dedicação verdadeira pelas crianças que lhes estão confiadas. Penso nos catequistas que, em plena gratuidade, se dão às crianças. Contudo, apesar desta generosidade, há muitas crianças para acolher! No mundo há menores profundamente feridos pela violência dos adultos: abusos sexuais, aliciamento à prostituição, envolvimento na venda e uso de droga, crianças obrigadas a trabalhar e a combater ou destruídas pelo tráfico ignóbil de órgãos e pessoas, inocentes marcados pela desagregação familiar. E que dizer de tantas crianças vítimas da SIDA? E entre nós, como é? Poderemos ignorar os gritos das crianças? Convido, pois, a todos, particularmente os pais, os professores, os que cuidam de crianças, as autoridades, a ouvir esta palavra de Jesus e a acolher, com renovado cuidado e sabedoria, as crianças que nos rodeiam. Convido a todos os fiéis, nesta Quaresma, a acolher, a par das crianças, os mais pobres. Uma forma de o fazer, já habitual, é privar-se de alguma coisa, mesmo necessária, para colaborar num projecto de apoio social, definido pela Diocese para a Quaresma e que, este ano, é o seguinte: criar um fundo de apoio para pessoas carenciadas da Diocese, ajudar a construir a Igreja de N. S. da Boa Nova, perto de Luanda, e o Centro Social de Apoio à infância de Ribeira Afonso, em S. Tomé. Convido finalmente to dos a pedir ao Senhor um coração de criança capaz de escutar e seguir a palavra de Jesus, com alegria e entusiasmo, e de recorrer ao Sacramento da Reconciliação com verdadeiro arrependimento. Guiados pelo Espírito de Jesus, sob o olhar bondoso do Pai, encetemos, irmãos e irmãs, o itinerário quaresmal, animados por uma mais intensa oração, penitência e atenção aos ritos do Tríduo Pascal, participar no Mistério da Morte e Ressurreição de Jesus, que enche de esperança toda a nossa vida. † Gilberto, Bispo de Setúbal


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