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Cruz da Juventude: interpelações

D. Jorge Ortiga
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Mensagem de D. Jorge Ortiga

A Cruz que, em 1985, Ano Internacional da Juventude, o Santo Padre entregou aos jovens, tem vindo a percorrer, e vai continuar, diversas dioceses até chegar à cidade alemã de Colónia onde em 2005 se efectuará a próxima Jornada Mundial da Juventude. A simplicidade da madeira e o carinho com que os jovens a transportam e acolhem torna-se um sinal carregado duma importância ímpar. Ela alerta e projecta para o essencial tudo quanto a Igreja realiza com e pelos jovens. Não é a sumptuosidade ou as parangonas dos jornais a falar dos acontecimentos que deve ocupar a centralidade das opções. Tudo se orienta noutro sentido. Neste momento de oração, acolho a passagem pela nossa Catedral como uma tríplice sugestão: 1. A cruz, que muitos começam a situar no espaço de adorno sem perscrutar o significado, testemunha o Amor de Deus pela humanidade. Como instrumento de suplício, consequência duma condenação daqueles que eram considerados inúteis ou prejudiciais para a sociedade, encerra, dentro de si, a grande certeza - que se torna o centro do Evangelho como Boa Nova a anunciar a todos - dum Amor à humanidade. Perante ela S. Paulo repetia: Cristo morreu "por mim". Aqui está o núcleo da verdade a acolher. Cristo ama-me até dar a própria vida. Perante a cruz ninguém deveria duvidar do Seu Amor. As Jornadas Mundiais da Juventude constituem um fenómeno de difícil explicação sociológica. Os jovens movimentam-se e experimentam o divino no convívio, oração e reflexão. Creio não ser ousadia supor que é a centralidade da cruz a seduzir e a tocar os corações. Perante esta cruz gostaria de dizer a cada jovem: "não temas!" O amor de Cristo por ti é imenso e particular. Aos movimentos e às paróquias confio esta responsabilidade de entrar, com ousadia, nos problemas dos jovens com a força do amor de Cristo que exige resposta. A cruz não engana nem permite camuflagens da mensagem evangélica. Só a radicalidade e a exigência vencem. As palavras feitas e os acondicionamentos éticos desvirtuam a verdadeira pastoral; a cruz é o critério da sua veracidade. Fora dela a mensagem desfoca-se. 2. Perante esta cruz vislumbro a multidão de "cruzes" que preenchem o quotidiano dos nossos jovens. A força da cruz impele para um trabalho sério de eliminação ou redução das realidades que ensombram a vida de quem tem o direito a ser feliz. Somos cristãos para contemplar Deus. Mas esta atitude pode permitir que esqueçamos a dimensão de luta por um humanismo genuíno e segundo a estatura de Cristo. Nunca podemos esquecer que o discípulo é enviado para a denúncia e compromisso de tudo quanto impede um mundo justo e fraterno. Há sempre algo a fazer e o cristão não se resigna perante o inevitável ou fatídico. Tudo pode ser diferente desde que o cristianismo aceite ser fermento. Quero trazer à nossa memória o fenómeno da droga, da prostituição, do desemprego, das dificuldades em encontrar trabalho, dos espaços de convívio e diversão, da inconsciência na estrada, no desrespeito pela ordem pública, da pouca influência familiar, dos ambiente sombrios. O mundo juvenil reveste-se de tantas situações maravilhosas que se misturam com doses enigmáticas de comportamentos. Assumamos estas cruzes e levemo-las à libertação do encontro com Cristo. 3. A cruz erguida continua a falar. Há frases que podem encerrar um programa. Recordo a dureza da expressão: "Tenho sede". São muitos aqueles que, talvez sem o reconhecer, têm sede. Urge a sua satisfação na proposta duma mensagem libertadora. Fenómeno singular nas Jornadas da Juventude é o facto de muitos jovens rapazes e raparigas se aperceberem do apelo de Deus a que deixem tudo para viver para o Seu Reino. Muitos consciencializam-se da sua vocação e decidem-se sem complexos nem medo. Diante da cruz, quero pedir que ela se torne eloquente, chamando jovens para o sacerdócio ou vocação consagrada. Há causas onde gastar as energias. A felicidade imperecível pode estar aqui. Estamos a iniciar mais um ano de vida nos nossos Seminários. Apetece-me dizer que é inútil repetir a famigerada palavra "crise". O amor de Deus urge. Toca os corações e convida. Há muita generosidade escondida. Dum sim depende muita alegria para o próprio e para os outros. Que a Cruz chame bem alto. 4. Quero aproveitar esta ocasião para informar a Arquidiocese que o Coordenador do Departamento da Pastoral de Jovens será o Dr. Alberto Manuel Ribeiro Gonçalves. O Assistente é o P. Dr. Luís Miguel Figueiredo Rodrigues. Aproveito para agradecer o trabalho generoso e sacrificado do anterior Coordenador e Assistente. Os jovens e a Arquidiocese não esquecerão o seu trabalho. D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga


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