Deixai-vos reconciliar com Deus D. Manuel Neto Quintas 25 de Fevereiro de 2006, às 14:28 ... Mensagem para Quaresma do Bispo do Algarve 1. Vamos, mais uma vez, iniciar o caminho que nos conduz à celebração anual da Páscoa, memória sacramental e perene daquela Páscoa em que o Senhor Jesus se oferece para redenção do mundo, como convergência e plenitude da páscoa judaica. A celebração da Páscoa, como vértice de toda a obra redentora de Cristo, morto e ressuscitado, e fonte do dinamismo missionário da Igreja é a "festa das festas", a "Solenidade das solenidades" (Cat. Ig. Cat. 1169). A verdade da nossa vida cristã e a autenticidade do nosso testemunho dependem do modo como a celebramos, já que ela ilumina e dá sentido a cada um dos dias do ano litúrgico e tem em cada Domingo a sua celebração semanal. 2. A Quaresma surge, por isso mesmo, cada ano como um tempo propÃcio para a mudança de vida através "da oração, do jejum e da partilha fraterna"; um tempo para acolhermos, com um coração disponÃvel, os apelos da Palavra de Deus e nos decidirmos a percorrer um caminho interior de conversão pessoal; um tempo de reacendimento da luz baptismal e celebrarmos, com um coração novo, o mistério pascal de Cristo, que encarnou e morreu para nossa salvação e ressuscitou para nossa glória. Com o tempo da Quaresma, a Igreja quer estar em sintonia com Jesus no tempo que passou no deserto, antes de iniciar a sua vida pública, evocando momentos particularmente significativos da história do povo de Deus: o tempo de peregrinação no deserto antes de entrar na terra prometida; o tempo que Moisés permaneceu no monte Sinai, antes de lhe ser revelada a Lei; o tempo que o profeta Elias caminhou no deserto até chegar ao monte Horeb para renovar a Aliança... A Quaresma, como refere Bento XVI na sua mensagem para este ano, "é o tempo privilegiado da peregrinação interior até Àquele que é a fonte da misericórdia. Nesta peregrinação, Ele próprio nos acompanha através do deserto da nossa pobreza, amparando-nos no caminho que leva à alegria intensa da Páscoa". Alegria intimamente ligada à luz que brota de Cristo ressuscitado, que ilumina e refresca o dinamismo original da nossa vocação baptismal, e nos fortalece na fidelidade à resposta dos apelos de Deus e dos irmãos. 3. Sabemos que toda a conversão pessoal supõe, em primeiro lugar, a humildade e a coragem de se "reconhecer pecador": atitude que somos convidados a assumir sempre que iniciamos cada Eucaristia. Não é fácil assumir, hoje, esta atitude. Se é verdade que são muitos os factores desculpabilizantes exteriores ou mesmo interiores a nós próprios, também é verdade que permanece sempre essa capacidade Ãntima de reconhecer o bem e de aderir ou não a ele. É aÃ, nesse último reduto da liberdade e da dignidade humana que, confiantes no "Deus-amor", deparamos com o olhar misericordioso de Cristo, nos reconhecemos pecadores e nos abrimos ao seu perdão. São exemplos disso: o ladrão arrependido; a mulher condenada e salva; Zaqueu que queria "ver Jesus", o seu encontro festivo com Ele, a decisão de restituir "com juros" a quem defraudou e de partilhar os seus bens com os pobres. Deixai-vos reconciliar com Deus! É o apelo de S. Paulo aos CorÃntios e que este ano vos proponho para iluminar a vossa caminhada quaresmal: reconciliação com Deus, com os irmãos e com o mundo. Reconciliação só possÃvel em Cristo que, à luz da sua ressurreição e mediante a acção do EspÃrito, nos leva a caminhar em novidade de vida e a assumir atitudes novas em relação aos irmãos e ao mundo que nos rodeia. A celebração do sacramento da reconciliação constitui, necessariamente, um meio privilegiado neste caminho de conversão pessoal. A vida nova recebida nos sacramentos de iniciação cristã continua sujeita à fragilidade da natureza humana. O apelo de Cristo à conversão constitui um elemento essencial do anúncio do Reino: convertei-vos e acreditai na boa-nova (Mc 1,15). Apelo que continua a fazer-se ouvir na vida de todos os baptizados, e não só em tempo quaresmal. A conversão surge assim como exigência diária para toda a Igreja, que é santa mas também pecadora e, por isso, necessitada de purificação, prosseguindo constantemente no seu esforço de penitência e renovação. Este esforço não é apenas obra humana. É movimento do "coração contrito", atraÃdo e movido pela graça para responder ao amor misericordioso de Deus, que nos amou primeiro (cf Cat. Ig. Cat. 1428). 4. Aquele que celebra e acolhe o amor misericordioso de Deus, sente-se impelido a responder ao apelo do Senhor: vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão (Mt 5,24). Como Zaqueu, não podemos desligar a conversão pessoal de gestos de reconciliação e de partilha fraterna com os irmãos mais necessitados. Este ano, ouvido o Conselho Presbiteral recentemente reunido, a nossa partilha quaresmal destinar-se-á a auxiliar a Diocese de Baucau, em Timor, no seu projecto de construir escolas e formar professores. Entendo ser meu dever apelar a todos os algarvios de boa vontade e, de modo particular, aos católicos, a nos unirmos no auxÃlio aos nossos irmãos de Timor, contribuindo assim para a promoção humana, o progresso e o bem-estar daquele povo. Confio a Maria o nosso caminho quaresmal, certo de que nos guiará pela estrada segura que leva a Cristo, na qual nos cruzaremos com quantos querem ser incluÃdos na nossa reconciliação com Deus ou solicitam a nossa partilha fraterna. Desejo a todos uma frutuosa Quaresma e uma santa Páscoa! Faro, 22 de Fevereiro de 2006 †Manuel Neto Quintas, scj Bispo do Algarve Quaresma Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...