Deus tomou a iniciativa de salvar o homem D. Teodoro de Faria 27 de Dezembro de 2005, às 10:25 ... Mensagem de Natal do Bispo do Funchal «Deus arrependeu-se de criar o homem» (Gen. 6, 6) «Deus amou tanto o mundo que enviou o seu Filho… (Jo. 3, 16) 1. Esta é a mensagem do Natal: alegrai-vos porque «nasceu-vos um Salvador que é o Messias, o Senhor» (Lc. 2, 11). Os pastores, aos quais foi dirigida esta mensagem, eram considerados na sociedade judia, ladrões, ignorantes e violentos. Apesar disso dizem entre si «Vamos a Belém ver este acontecimento que o Senhor nos revelou. Foram à pressa, e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura» (Lc. 2, 15-16). Vamos, como eles, para encontrar o PrÃncipe da Paz e sua Mãe e com Eles derramar o óleo da consolação sobre os que foram vÃtimas de qualquer violência. As primeiras páginas da BÃblia, no livro do Génesis, narram como Deus responde à violência que explode irracional no coração dos homens. Caim mata seu irmão Abel, a vingança exagera o mal recebido, em Lamech que promete uma reacção 70 vezes sete mais violenta do que a recebida (Gen. 4, 23). Deus, lê-se no livro santo, «arrependeu-se de ter criado o homem sobre a terra e sentiu a aflição no seu coração» (Gen. 6, 6). Estas páginas têm um significado simbólico para toda a humanidade. Com Noé Deus opera uma nova criação, não quer mais destruir o homem como fizera com o dilúvio, vai afrontar a violência impondo um limite e proporção entre delito e castigo. Finalmente vai enviar o Seu Filho para destruir o pecado e a morte. IsaÃas, o profeta das grandes visões messiânicas, descreve o mundo novo como época de paz: «o lobo e o cordeiro, pastarão juntos, o leão comerá palha juntamente com o boi»; (Is. 65, 25) mas principalmente os povos «das espadas fabricarão enxadas e das lanças farão foices» (Is. 2, 4). A violência do coração 2 - É possÃvel falar hoje da não-violência? Pode haver uma resposta para a violência activa? Muito se tem escrito e falado sobre este tema, os episódios violentos alimentam os meios de comunicação e levam a diversos modos de pensar, uns condenando as reacções armadas e homicidas, outros defendendo a repressão como forma de fazer frente aos problemas que a violência coloca à responsabilidade dos poderes públicos. Conhecemos os mapas onde impera a violência fÃsica, psicológica, cultural e também as propostas dos grandes cultores da não-violência. Neste tempo de Natal chamo a atenção dos nossos cristãos para violência do coração descrita na Sagrada Escritura. A violência desencadeia-se sobre os seres mais frágeis e os que são incapazes de se defenderem: as crianças, as jovens enganadas e tornadas mercado de prostituição, os adolescentes influenciados pela violência televisiva, as mulheres, os idosos, sem excluir a violência espiritual das religiões que impõem atitudes aberrantes como o suicÃdio em massa, e o engano dos chamados mestres ou gurus que resolvem os problemas do sofrimento e do coração humano com artes de lucro e mentira. A não-violência é a procura da verdade do coração, pois neste escondem-se ressentimentos, recusa dos outros, ódios, vinganças, a morte do próximo. A não-violência cresce no interior das pessoas com o sentido de solidariedade e amor por todos os homens considerados irmãos e filhos do mesmo Pai que está nos Céus. A não-violência é uma estrada longa, difÃcil de percorrer, que obriga a grandes sacrifÃcios e até ao martÃrio. Ela começa na educação familiar, continua na escola, na catequese, na liturgia da Igreja, depois na vida sócio polÃtica até abranger a comunidade internacional. A não-violência é responsabilidade dos cristãos e homens de boa vontade, é mensagem profética anunciada pelos anjos aos pastores de Belém na noite em que nasceu Jesus: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados. A história tem em Cristo o seu centro e o seu fim, os humildes e os pobres nas mãos de Deus anulam os planos dos poderosos que julgam construir a paz com métodos violentos. As muitas formas de violência 3 - Todos os anos centenas de milhares de mulheres e crianças são objecto de tráfico e reduzidas à escravidão. Uma em cada três mulheres no mundo é constrangida a abusos sexuais, geralmente por um membro da famÃlia ou por um conhecido (Relatório da ONU 12 de Outubro). A violência doméstica é a forma mais comum de violência. Muitas mulheres vivem aterrorizadas e não reagem por medo. 50% das agressões sexuais atingem jovens com menos de 15 anos. Apesar de alguns dados positivos, a situação é preocupante. Sobre o tema das crianças não falta informação de violência recebida como de actos violentos de adolescentes contra outros da mesma idade, tanto em casa como à porta das escolas ou pelas estradas. As crianças vivem em clima de ânsia, depressão e de risco. Cada vez mais abundam situações em contextos negativos, tais como: fome, pobreza, violência, guerra; faltam palavras como amor, direitos, solidariedade, misericórdia, excepto neste santo tempo de Natal. Mas faltam vozes de crianças a falarem de si próprias como acontece, por vezes, com o movimento da Acção Católica. M. A. C. Vivemos numa sociedade violenta? As sementes de violência estão escondidas no coração humano. É preciso velar para que não criem raÃzes nem desabrochem flores e amadureçam os frutos. Já sofremos muito com actos violentos. Adormece-se com medo dentro da própria casa. Mas, nem tudo está perdido. Deus tomou a iniciativa de salvação. À lamentação do Génesis de arrependimento por ter criado o homem, Deus, «amou tanto o mundo que enviou o seu Filho unigénito» para o salvar (Jo.3, 16). Há lugar para a esperança. Muitos cristãos não se fecham a Deus, nem ao EspÃrito de Amor que Ele derrama nos corações dos seus fiéis. Esta é a mensagem do Natal: alegrai-vos porque «nasceu-vos um Salvador que é o Messias o Senhor» (Lc. 2, 11). Os pastores, aos quais foi dirigida esta mensagem, eram considerados na sociedade judia, ladrões, ignorantes e violentos. Apesar disso dizem entre si «Vamos a Belém ver este acontecimento que o Senhor nos revelou. Foram à pressa, e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura» (Lc. 2, 15-16). Vamos, como eles, para encontrar o PrÃncipe da Paz e sua Mãe e com Eles derramar o óleo da consolação sobre os que foram vÃtimas de qualquer violência. A todos os diocesanos da Madeira, Porto Santo e dispersos entre as nações, tanto nas pacÃficas como nas violentas, desejo um Santo Natal e Feliz Ano, na Paz de Deus que encerra todos os bens. Funchal, 25 de Dezembro de 2005 †Teodoro de Faria, Bispo do Funchal Natal Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...