Documentos

Dia da gratidão e da solidariedade com os sacerdotes

D. Manuel Neto Quintas
...

Nota Pastoral do Bispo do Algarve

Meus caros diocesanos sacerdotes, diáconos e todos os fiéis Estamos a viver um momento particularmente significativo para toda a Igreja: a morte do Papa João Paulo II e a realização do Conclave, donde sairá o seu sucessor. Como Igreja diocesana vivemos este tempo, estou certo, de forma muito intensa: louvamos a Deus pelo dom do Papa João Paulo II, pelo seu testemunho de fé e de doação plena à Igreja, até ao limite das suas forças, no exercício da missão que Cristo lhe confiou; invocamos o Espírito Santo sobre o Colégio dos Cardeais que tem a missão de escolher o novo sucessor de Pedro. A proximidade do Domingo do Bom Pastor, proporciona-me a oportunidade de vos escrever esta Nota Pastoral, para vos falar sobre o dever de gratidão, apreço e solidariedade que todos deveis sentir e manifestar ao vosso Pároco, o pastor que o Bispo colocou à frente da vossa comunidade. Recomenda-me o Concílio, assim como a missão que recebi do Santo Padre, ao confiar-me a nossa Igreja diocesana, o dever de unir a minha solicitude pastoral para como os nossos sacerdotes, à vossa responsabilidade de contribuirdes para o seu sustento, através de uma remuneração adequada, de modo que possam levar "uma vida digna e honesta" (cf PO 20) e dedicar-se com toda a disponibilidade ao ministério que lhes foi confiado. Este dever e esta obrigação determinam que "se estabeleçam normas" reguladoras da "honesta sustentação dos que desempenham ou já desempenharam alguma função ao serviço do Povo de Deus" (cf PO 20). Em resposta a esta determinação, foi criado na nossa Diocese, já em 1993, o Instituto de Sustentação do Clero: congrega a partilha solidária de toda a Igreja diocesana, bem como a partilha fraterna dos próprios sacerdotes, tendo como finalidade primeira apoiar os agentes pastorais (sacerdotes ou não), que trabalham em zonas carenciadas de meios. "A mesma sagrada ordenação e a mesma missão criam, entre todos os Presbíteros, laços de íntima fraternidade que deve traduzir-se, espontânea e alegremente, na ajuda mútua, espiritual e material" (LG 28). Devem, por isso mesmo, "ser eliminados, neste campo, os desníveis demasiado acentuados, principalmente entre os Presbíteros da mesma diocese" (Sínodo de 1971), entre os quais deve prevalecer a partilha, como expressão do amor fraterno presbiteral, sobre títulos, graus académicos ou serviços de maior relevo. Sabemos que o ministério sacerdotal é caracterizado pela gratuidade, não cabendo dentro de qualquer tabela remunerativa: "recebestes de graça, dai de graça". Mas também sabemos que "o trabalhador merece o seu sustento" (cf Mt 10,8-10) e que "o Senhor ordenou àqueles que anunciam o Evangelho que vivam do Evangelho" (1Cor 9,14). Foi para procurar este difícil mas possível equilíbrio, que se aprovou e entrou em vigor, em Março de 2004, o Estatuto Económico do Clero. Ele permite dar mais um passo, para o estabelecimento de uma remuneração mensal do clero que, segundo este Estatuto, obedecerá aos seguintes critérios: será condigna com a sua condição, de modo que possa prover às necessidades da sua vida; será, como regra, igual para todos, com base na igual dignidade da pessoa humana, igual participação no mesmo grau do sacramento da Ordem, idêntico valor eclesial das actividades pastorais exercidas por cada um; poderá ser acrescida de um suplemento, compensação ou subsídio, sempre que a diversidade de circunstâncias em que exercem o ministério o justifique; respeitará a moderação e a simplicidade de vida de que devem ser exemplo e possibilitará a partilha para o bem da Igreja e em obras de caridade. A concretização deste objectivo só será possível com a participação de todas as comunidades cristãs, conscientes do seu dever de sustentar de modo condigno o seu pároco, bem como de contribuir, de forma solidária e fraterna, para auxiliar as comunidades mais necessitadas, no cumprimento deste dever. O Domingo do Bom Pastor, (IV Domingo da Páscoa) é habitualmente a ocasião escolhida pelas nossas comunidades paroquiais para manifestarem aos seus sacerdotes o reconhecimento pela sua acção e caridade pastorais, a qual se concretiza em diversas atitudes e gestos de amizade fraterna. Foi também este o Domingo escolhido pelo Conselho Presbiteral, como a data mais oportuna para que as nossas comunidades, à luz de Cristo Bom Pastor, modelo perfeito de todos os pastores, reflictam, rezem e cresçam na consciência e responsabilidade da sua participação para uma justa remuneração do seu Pároco, daqueles que estão empenhados em diferentes serviços diocesanos e daqueles que, por razões de idade ou doença, já se encontram aposentados. Para esta finalidade institui-se o Ofertório para a Sustentação do Clero, que se realizará, todos os anos, no Domingo do Bom Pastor, - o dia da gratidão e da solidariedade - cujo resultado será destinado ao Instituto de Sustentação do Clero. Estou certo que todas as comunidades paroquiais saberão corresponder generosamente a este apelo. Não quero deixar de assinalar que este é também o Domingo de Oração pelas vocações, no qual somos convidados a acolher o apelo para pedir ao Senhor da messe o dom de "mais trabalhadores para a sua messe", bem como a perseverança e a fidelidade dos que já chamou a este ministério na Igreja. Neste ano, dedicado à Eucaristia e às vocações, este apelo torna-se particularmente insistente, porque sem sacerdotes não há Eucaristia e sem Eucaristia não há Igreja. Confiemos a Maria, "mulher eucarística", a nossa Igreja diocesana, os nossos sacerdotes e seminaristas e todos os que o Senhor convida a segui-l'O com total generosidade e disponibilidade. Faro, 11 de Abril de 2005 † Manuel Neto Quintas, scj Bispo do Algarve


Diocese do Algarve