Dia Mundial do Idoso D. António de Sousa Braga 01 de Outubro de 2003, às 16:02 ... Nota Pastoral de D. António Sousa Braga Às comunidades paroquiais Permitam-me chamar a atenção para o Dia Mundial do Idoso, que se celebra a 1 de Outubro. Costuma haver iniciativas, a que os cristãos não se podem alhear, incentivando, em relação à s pessoas idosas, uma oportuna mudança de mentalidade e de atitudes, à luz da fé e do magistério eclesial. A "caritas" cristã tem suscitado ao longo dos séculos, as mais variadas obras ao serviço dos idosos. E entre nós, há várias associações privadas, que se ocupam da terceira idade, particularmente as Misericórdias. É de louvar todo este esforço e iniciativa. Mas pode-se sempre fazer mais e melhor, seja a nÃvel de assistência, como também a nÃvel da valorização da dignidade e das potencialidades da pessoa idosa. A velhice é uma etapa da vida, que oferece novas oportunidades de crescimento e de empenhamento. Os idosos têm muito a oferecer à Igreja e à sociedade. Urge restituir-lhes um papel mais activo e interveniente na comunidade, proporcionando-lhes uma formação contÃnua própria e permitindo-lhes influenciar as decisões polÃticas, que afectam a sua vida e a vida da sociedade em geral. «As sociedades humanas serão melhores, se souberem tirar partido dos carismas da velhice... = «A gratuidade... O ancião, que vive o tempo da disponibilidade, pode chamar a atenção de uma sociedade demasiado ocupada, para a necessidade urgente de derrubar as barreiras de uma indiferença aviltante, que desanima e interrompe o fluxo dos impulsos altruÃstas. = A memória. As gerações mais novas vão perdendo o sentido da história e, com isso, a própria identidade... "Os anciãos ajudam a contemplar os acontecimentos terrenos com mais sabedoria, porque as vicissitudes os tomaram mais experimentados e amadurecidos. Eles são guardiões da memória colectiva e, por isso, intérpretes privilegiados daquele conjunto de ideais e valores humanos que mantêm e guiam a convivência social" (João Paulo 11, Carta aos Anciãos, 1999, ri. 10) = A experiência. Hoje vivemos, num mundo em que as respostas da ciência e da técnica parecem ter suplantado a utilidade da experiência da vida, acumulada pelos anciãos, ao longo de toda a sua existência, Este tipo de barreira cultural. não deve desencorajar as pessoas da terceira e quarta idades, pois estas têm muito a dizer à s gerações mais novas; têm muito a partilhar com elas. = A interdependência... Os anciãos, com a sua busca de companhia, contestam uma sociedade, na qual os mais débeis são muitas vezes abandonados a si próprios, chamando a atenção para a natureza social do homem e para a necessidade de restabelecer as redes de relações interpessoais e sociais, = Uma visão mais completa da vida. A nossa vida é dominada pela pressa, pela agitação, muitas vezes pelas neuroses... A terceira idade é também a idade da simplicidade e da contemplação. Os valores afectivos, morais e religiosos, vividos pelos anciãos, são um recurso indispensável para o equilÃbrio da sociedade, das famÃlias e das pessoas... O ancião apreende bem a superioridade do "sei", em relação ao "fazer" e ao "ter"... A presença de tantos anciãos no mundo contemporâneo é um dom, uma nova riqueza humana e espiritual», (Conselho PontifÃcio para os Leigos, A dignidade do Ancião e a sua Missão na Igreja e no Mundo, Paulinas, 1999, p. 13-15). Trata-se, pois, de garantir à s pessoas idosas, não só o acolhimento e a assistência, mas também a valorização das suas qualidades. «Na medida em que, com o aumento da vida média, cresce a faixa dos anciãos, é sempre mais urgente promover esta cultura de uma ancianidade acolhida e valorizada, não marginalizada. O ideal é que o ancião fique na famÃlia, com a garantia de ajudas sociais eficazes, relativamente à s necessidades crescentes, que supõem a idade ou a doença. Existem, porém, situações em que as próprias circunstâncias aconselham ou exigem o ingresso em "Lares da Terceira Idade", a fim de que o ancião possa gozar da companhia de outras pessoas e usufruir de uma assistência especializada. Tais instituições são, portanto, louváveis e a experiência ensina que elas podem prestar um precioso serviço, na medida em que se inspiram em critérios, não só de eficiência organizativa, mas também de afectuosa atenção. Neste sentido, tudo é mais fácil, se a relação estabelecida com cada hóspede ancião, for tal que os ajude a sentirem-se pessoas amadas e ainda úteis à sociedade» (João Paulo 11, ibid., n. 13). A Igreja, "perita em. humanidade" tem de, estar atenta à evolução dos tempos e à s novas exigências das pessoas idosas, no sentido de poderem contribuir para a vida da comunidade, desenvolvendo actividades, ligadas aos próprios interesses e em consonância com a própria condição. «Devem ser louvadas, portanto, todas aquelas iniciativas sociais, que permitem aos anciãos, quer continuar a cultivarem-se fÃsica, intelectual e socialmente, quer fazerem-se úteis, pondo à disposição dos demais o próprio tempo, as próprias capacidades e experiência" (Id., ibid., ri. 16). Só assim é que se construirá "uma sociedade para todas as idades". Concluindo, dirijo uma saudação fraterna a todos os idosos, que, nas minhas visitas pastorais, me têm edificado tanto. A entrada na terceira idade é um privilégio, um dom, que importa fazer frutificar para bem de toda a comunidade. Dando graças a Deus por tudo o que tendes recebido da Sua bondade, ao longo da vida, confiai sempre n'Ele, que nunca nos abandona, mesmo quando sentimos o peso da vida, Um saudação particular à s religiosas e aos religiosos anciãos, que dedicaram uma vida inteira ao serviço do Evangelho, bem como aos irmãos no sacerdócio, que, tendo atingido o limite de idade, deixaram a responsabilidade directa do ministério pastoral. A Igreja sente-se enriquecida com o testemunho evangélico da vossa vida; continua a precisar de vós; aprecia os serviços que ainda podeis prestar, conta com o apoio da vossa oração assÃdua e do vosso conselho experimentado. Finalmente, vai todo o nosso reconhecimento e apreço para aqueles/as, que em famÃlia ou nas instituições, se, dedicam generosamente ao serviço dos idosos. Se nem um simples copo de água, servido com amor, ficará sem recompensa, muito mais o carinho, com que rodeais as pessoas idosas. Nunca esqueçamos as palavras de Jesus: «Em verdade vos digo: tudo o que fizerdes a um destes meus irmãos mais pequeninos foi a Mim que o fizestes» (Mt 25, 40). Angra, 06 de Setembro, 2003. + António Braga, Bispo de Angra FamÃlia Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...