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Diocese de Nacala, em Moçambique, toma posição sobre o tráfico de órgãos

Octávio Carmo
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«Preocupa-nos as tentativas de silenciar, relativizar ou desacreditar as denúncias e inquieta-nos também a surpreendente morosidade em fazer parar estes crimes e em identificar e punir os seus autores»

Comunicado do Bispo, Sacerdotes, Religiosas, Religiosos e Missionários Leigos da Diocese de Nacala, divulgado a 13 de Abril É com profunda consternação e inquietude que nós, os missionários e missionárias da Diocese de Nacala, abaixo assinados, temos acompanhado o desenrolar dos acontecimentos relativos ao tráfico de menores, raptos, homicídios e mutilações de cadáveres. É com horror que nos apercebemos destes crimes perpetrados na nossa Província de Nampula e com muita apreensão que constatamos a sua continuidade e a aparente lentidão a pôr-lhes fim e a identificar e punir os seus autores. Vimos por este meio manifestar a nossa mais total solidariedade e comunhão com o comunicado que os nossos irmãos da Arquidiocese de Nampula publicaram a 18 de Março de 2004 e secundamos em absoluto todas as suas afirmações. Igualmente reiteramos as interrogações formuladas pelo comunicado do Conselho Permanente da CIRM-CONFEREMO, sobre a denúncia de tráfico de crianças e órgãos humanos. Saudamos e apoiamos o empenho das Irmãs do Mosteiro Mater Dei, da Irmã Elilda e de outros homens e mulheres de boa vontade em denunciar estes crimes e em solicitar a agilização da Justiça, de modo a pôr-lhes cobro o mais urgentemente possível. A Igreja está e estará sempre indefectivelmente unida na defesa da verdade, da vida e da dignidade da pessoa humana e mantém-se disponível para colaborar com todos aqueles que também se queiram empenhar na defesa destes valores. Jamais renunciará por isso ao direito e dever de denunciar a uma só voz todas as situações em que tais valores estejam ameaçados. É o que tem feito e continuará a fazer relativamente aos supracitados atentados contra a vida que se têm desgraçadamente verificado na nossa Província de Nampula e não só. Nesse sentido, o presente comunicado é assinado pelos sacerdotes, missionários e missionárias de todas as paróquias e comunidades da diocese de Nacala, querendo com isso significar o quanto estamos unidos na determinação de denunciar os crimes acima mencionados e de buscar um fim imediato para os mesmos, com a justa punição dos seus culpados. Preocupa-nos as tentativas de silenciar, relativizar ou desacreditar as denúncias e inquieta-nos também a surpreendente morosidade em fazer parar estes crimes e em identificar e punir os seus autores. Angustia-nos que continuem a desaparecer crianças e que os seus algozes se mantenham em liberdade e de cabeça erguida, como se de pessoas de bem se tratassem. É por esta razão que exigimos que as autoridades competentes trabalhem com seriedade e sem ambiguidades no sentido de fazer avançar as investigações de um modo imparcial, efectivo e eficaz, em ordem a fazer parar estes crimes e a punir os seus responsáveis. Só uma solução definitiva, justa e consistente poderá ser aceitável e satisfazer aqueles que trabalham pela justiça e pela paz. Até que uma tal solução seja alcançada, manteremos o nosso absoluto empenho em denunciar a violência e em procurar meios para a estancar. Nacala-o-Porto, 25 de Março de 2004 (Seguem as assinaturas dos missionários, iniciando com a do Bispo, D. Germano Grachane, e do Vigário Geral da Diocese)


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