Documentos

Discurso de D. Manuel Clemente na recepção do Prémio Pessoa 2009

D. Manuel Clemente
...

 

Isto realmente somos, os portugueses

Seremos problemáticos, os portugueses, mas por nos resumirmos demais. Olhemos a nossa historiografia, desde que a começámos a fazer e até bem perto donde estamos: há grandes figuras, de “hagiografia” variada, e há a generalidade das gentes, depois do “povo” e mais proximamente da “nação”…

Não nos encontramos assim. Sonhamos ou detestamos heróis, conforme a mentalidade da época; resistimos hoje às identificações massivas e nesta reacção ficamos mais lúcidos.

Ainda assim, teimamos. Recordo, dos anos cinquenta, a instrução primária e o começo do secundário. – E recordo o quê, como tantos da minha geração? Certamente os professores mais dedicados e pacientes, também os momentos de jogo e recreio, bem como alguns momentos de recompensa ou reprimenda. Recordo as árvores que se viam pela janela, com folhas perenes ou caducas, no primeiro ensino do que seria a vida, entre o que fica e o que passa. – E além disso? Certamente o ler, o escrever e o contar, da caligrafia à tabuada. E, doutras coisas fixadas, especialmente a geografia dos mapas e os cognomes dos reis. Também o muito patriotismo da altura, com alusões a batalhas vencidas no passado e estrofes igualmente convencidas. E, na parede dum espaço circum-escolar, qualquer coisa como isto: “Ninguém pode amar mais Portugal do que os portugueses …”.

Farrapos de memória, diríamos, e abstracções ambíguas, também. Pois de concreto, real e consistente ficaram rostos e seguiram-se os percursos pessoais de antigos colegas, com maior ou menor sucesso em vários campos. E, em todos eles, a respectiva existência como sobrevivência, no duplo sentido que a palavra consente: persistir vivendo e viver acima, além, criativamente. Isto sim, sobrou realmente.

Considerações pessoais que, sendo de interesse muito relativo, valem por compartilhadas. Mas delas poderei partir para outras, a que hoje não nos devemos esquivar. Perguntando-nos: - Nas actuais circunstâncias, podemos contar com o quê, do que sobrevenha do passado para o que importa ao futuro?

Retomo a afirmação inicial: resumimo-nos exageradamente, entre grandes figuras e imensas generalidades. Alusões simplistas, em si mesmas, que sempre iludem a realidade.

 

- O que são, efectivamente, as grandes figuras? Nenhuma – positiva ou negativamente – corresponde por inteiro ao que fizeram dela, como ninguém é o que os outros reparam a seu propósito. Os heróis – ou anti-heróis – revelam-se demasiadamente maleáveis ao que sucessivas ideologias deles queiram fazer. E é por isso que, não pondo em causa o real valor que tiveram tais pessoas, a sua utilização fantasmagórica mais nos distrai do presente e menos nos serve para o futuro. Viveram e fizerem o seu tempo e o melhor que nos dão é coragem para fazermos o nosso, tão particular e responsavelmente como eles próprios viveram as suas vidas.

Desde o princípio que fantasiamos, para bem ou para menos bem. Do princípio de nos querermos como um todo e um todo “português”, com o preenchimento e o contorno que a palavra foi tendo. Assim as velhas crónicas fizeram de Afonso Henriques um novo Constantino, para garantir pelo céu a independência da terra. Assim Os Lusíadas cantaram uma genealogia pátria, em que igualmente o céu guiava as naus do Gama, mesmo com o concurso do Olimpo, ao gosto renascentista. Assim, o grande Vieira recolheu tudo – dos profetas bíblicos ao nosso Bandarra, das antigas sibilas a autores raríssimos – para garantir que um jovem rei sumido nos areais africanos havia de ressurgir, mesmo em familiares sucessivos. Assim, dos românticos aos mais recentes, continua a apelar-se aos “egrégios avós”, para nos regenerarmos num viço perdido, mais aristocrático ou popular, conforme o sentimento de cada um.

Por outro lado, não faltam sucessivos bodes expiatórios, individuais ou colectivos, que tudo contra-explicariam por maldade ou reacção. Dispenso-me de os nomear, tão recorrentes se tornaram.

Em nada disto somos autenticamente nós e com tudo isto teimamos em decepcionar-nos. Não, realmente não somos o contraste de grandes picos singulares com imensas planuras colectivas. Não somos nem podemos considerar-nos eternos devedores de descomunais figuras ou meros encomendadores de grandes almas. Não somos, nem devemos ser imperadores do mundo ou mendigos da Europa.

Porque o que somos, realmente somos, é a herança actual e viva de muitos homens e mulheres que, vivendo, convivendo e morrendo como todos os demais, recortaram e em geral sustentaram a mais antiga realidade política do nosso Continente; que, dentro e fora dela, criaram e criam uma maneira de estar consigo e com os outros que concita a admiração de muitos e oportunamente serve a comunidade internacional. Dizemo-nos numa língua onde a variedade humana sempre encontra ou inova a palavra e o som apropriados. Manifestamos uma capacidade de resistência e adaptação criativa, que só requer mais auto-confiança e acompanhamento público para ir por diante. Somos, em suma, uma pequena geografia onde o mundo inteiro se pode encontrar, como cais de embarque e cais de chegada, para partir de novo.

Isto somos também. Mas ainda é pouco, para o que somos realmente. Aquém e além das grandes figuras, aquém e além das generalizações habituais, somos pessoas, portuguesmente pessoas, tão concretas no modo de viver e de fazer, como manifestando particular e socialmente a nossa maneira própria – e neste sentido cultivada e cultural – de sentir e agir. Isto sim, somos nós, os portugueses.

 

Mencionei rapidamente o Padre António Vieira, figura – exactamente porque concreta figura – que requer aqui maior detalhe. Com Fernando Pessoa e tantos outros, partilho toda a admiração pela personagem, qual figura autêntica, indisfarçável no conjunto, ainda que ao conjunto português tivesse sempre na mente e no coração.

Creio ser Vieira um dos maiores exemplos de como se ultrapassa a dicotomia entre grandes figuras e multidões indistintas, uma vez que a sua grandeza é claramente “pessoal”. Ser pessoa é acontecer em relação com os outros. Da relação e para a relação, através da sensibilidade e da consciência próprias, individuais neste sentido aberto.

Aludi atrás a Camões e a’ Os Lusíadas. E direi que a actualidade que mantêm não é a da mitificação das figuras cantadas ou descantadas, mas da realidade humana que transportam por dentro dos artifícios literários. Do Atlântico ao Pacífico, o poeta passara muito mar e por vezes muito mal. De Lisboa a Goa ou Macau, conhecera muita gente, acalentara muitos sonhos, sofrera grandes desilusões, conhecera nobres e plebeus, ricos e maltrapilhos. Por isso, todos preenchiam aquele “povo que queria o mar”. Todos e cada um, mesmo sem dispensar os “velhos” que ficavam no Restelo, cheios de razões e cautelas.

É esta qualidade pessoal, relacional, integrando individualidades e colectivos - tomados estes por conjugação de individualidades -, que garante a actualidade duma tradição. Assim também com o Padre António Vieira, em quem me deterei um pouco mais, até como homenagem a Fernando Pessoa que por ele nutria excepcional consideração.

Como Camões, também Vieira tinha em si mesmo um Portugal inteiro e expandido. Não partira para o Oriente, mas para o Ocidente, para o Brasil que conhecera menino e onde se fizera jesuíta e missionário da “bandeira” que escolhera. Os seus escritos, para serem pregados ou lidos, estão preenchidos de experiências próprias e alheias, dos últimos sertões às cidades mais concorridas de lá e de cá. Por isso é tão universal como o Império que sonhava, mas onde coubessem todos. Não é um cume isolado, sobressai na cordilheira, pessoa entre pessoas e para as pessoas. O que, digamos, nem sempre é fácil de ser, quando se enfrentam preconceitos.

Vieira é caso acabado de como em Portugal – di-lo-ia doutros países também – sempre nos desperdiçamos quando não consideramos o que cada um é e pode oferecer aos outros, do presente para o futuro. Quando regressou a Lisboa, missionário da Restauração, vinha ainda mais português, porque mais universal, de tanta floresta desvendada e de tanto mar que cruzara. Assim veio e era ele.

No tempo que se seguiu, porém, mais depressa o consideraram bem ou mal, em torno de lugares comuns, pró ou contra esta ideia, aquela política, ou aqueloutro grupo. E este tipo de apreciações rápidas impediu-lhe o reconhecimento devido e o melhor aproveitamento da sua real figura e altíssimo valor. De facto, a aceitação interpessoal requer de todos a aceitação prévia e a benevolência persistente: não se recebe sem recipiente capaz.

Será em Roma, num exílio de circunstância (1670-1675), que Vieira nos deixará o retrato desta antiga pecha. O “pretexto” será Santo António, o assunto será António Vieira, mas em geral fala de nós todos. 

- Que nos diz o Padre António Vieira naqueles sermões romanos? Alguma coisa do santo e muitíssimo de nós e da nossa dificuldade em captar a realidade, tão fixados nos mantemos em mitos individuais ou colectivos.

No 1º sermão, Vieira é muito positivo, prenunciando a “dilatação da fé e do império” no destino primevo de Fernando Martins, que mudara de nome e de vida ao conhecer os primeiros franciscanos, passando a ser António e pregoeiro evangélico, além fronteiras. Mas partira, insiste Vieira, como primeira realização do modo português de ser, daqui para o mundo.

Os trechos mantêm toda a frescura e, certamente, gostamos de nos ouvir assim, como o Padre Vieira nos retrata no antigo taumaturgo: “… será o argumento do meu discurso este: Que Santo António foi luz do mundo, porque foi verdadeiro português; e que foi verdadeiro português porque foi luz do mundo. […] Bem pudera Santo António ser luz do mundo, sendo de outra nação; mas uma vez que nasceu português, não fora verdadeiro português se não fora luz do mundo, porque o ser luz do mundo nos outros homens, é só privilégio da Graça; nos Portugueses é também obrigação da natureza” (Sermão de Santo António, pregado na igreja de Santo António dos Portugueses, 22 de Maio de 1670. In Padre António Vieira, Sermões de Roma e outros textos. Selecção e apresentação de Manuel Correia Fernandes. Estarreja: MEL Editores, 2009, p. 191).

Reparemos: é o grande Vieira que prega, é ao português mais universalmente conhecido que alude, mas é a todos “nós” que qualifica, que seríamos naturalmente o que os outros só excepcionalmente também podiam ser: gente luminosa, para irradiar além de si.

E, como sempre acontece na pena e na voz do “imperador da língua portuguesa”, o argumento encontra expressões que não resisto a reproduzir, sempre a figurar-nos em Santo António e – quase subliminarmente - nele mesmo, António Vieira: “E se António era luz do mundo, como não havia de sair da pátria? Este foi o segundo movimento. Saiu como luz do mundo e saiu como português. Sem sair ninguém pode ser grande […]. Assim o fez o grande espírito de António, e assim era obrigado a o fazer, porque nasceu português” (ibidem, p. 197-198).

Vieira vê a exiguidade territorial como causa providencial do destino pátrio. Chegaria para berço mas não para a sementeira nem para o túmulo, porque Portugal só no mundo inteiro descansaria, sendo essa a sua glória, mesmo que trágico-marítima. E explica: “Por isso nos deu Deus tão pouca terra para o nascimento, e tantas para a sepultura. Para nascer, pouca terra; para morrer, toda a terra; para nascer, Portugal; para morrer, o mundo. Perguntai a vossos avós quantos saíram, e quão poucos tornaram? Mas estes são os ossos de que mais se deve prezar vosso sangue” (ibidem, p. 198).

No 2º sermão romano que lhe dedica, Vieira já alude a Santo António para acentuar as nossas contradições. António saíra de Portugal simplesmente para ser “António”, ou seja, para se realizar como escolhera e cria ter sido escolhido. É neste passo que o discurso transita ainda mais directamente de António de Lisboa para António Vieira, quatro séculos e meio depois. E, muito consciente do que quisera e valia, Vieira deixa-nos concluir que ele próprio tivera de ir a Itália para poder ser português; como voltaria ao Brasil para o ser definitivamente. Mas di-lo antes de mais do Santo: “O que agora só digo sobre o que já disse, é que, assim como Santo António foi obrigado a deixar Portugal, para ser Português, assim foi necessário que se tirasse dentre os Portugueses, para ser tão grande homem, e tão grande santo como foi” (Sermão de Santo António, escrito mas não pregado em Roma em 1671. Ibidem, p. 211).

O que, visto positivamente, é para os portugueses partir, visto negativamente é para alguns exilarem-se. Exilarem-se para poderem realizar fora da pátria o que a naturalidade lhes destinava. Como se nos ofuscássemos com o brilho próprio, ou não nos admitíssemos como realmente somos. Vai ser Vieira a dizê-lo, ainda em Roma, mas a observação é recorrente até aos nossos dias: “… luzir português entre portugueses, e muito menos luzir com a sua luz, é cousa muito dificultosa na nossa terra. Com a luz alheia vi eu lá luzir alguns; mas com a própria, […] nem Santo António, quanto mais os outros” (ibidem, p. 212).

De várias maneiras reprovava Vieira a nossa incapacidade de mútua admiração, mesmo quando teríamos toda as razões para ela. Não resisto a citar aqui duas delas, por me parecer o autor por demais certeiro. Oiçamo-lo, sempre a propósito de Santo António, e ainda mais a nosso propósito: “Os mesmos que agora amam, e veneram tanto a Santo António, se viveram em seu tempo, o haviam de aborrecer e perseguir; e as mesmas maravilhas, que tanto celebram e encarecem, se foram obradas na sua pátria, as haviam de escurecer e aniquilar. […] é consequência própria e natural da inveja, perseguir os presentes e estimar os passados, matar os vivos e celebrar os mortos” (ibidem, p. 234-235). Como se dissesse que tanta luz nos ofusca e só a toleramos ao longe, ou na sombra que deixe. – Ainda hoje?

Pior ainda, a segunda alusão, permanecendo a dificuldade em olharmo-nos de frente, quando isso signifique o simples reconhecimento da qualidade do outro. Escreve Vieira: “… é necessário que advirtamos primeiro uma notável habilidade e astúcia, que usa a inveja para desluzir e escurecer as boas obras, e para lhes envenenar e destruir a mesma bondade. E qual vos parece que será esta habilidade e astúcia! É que nunca olha para toda a obra boa de claro em claro, assim como é em si mesma; senão que sempre a procura tomar por um lado, e por aquela parte, ou ponta donde menos claramente se descobre a sua bondade, para ter em que morder e que arguir” (ibidem, p. 238). De novo nos perguntemos: - Ainda hoje? Seja como for, rendamo-nos de vez a nós mesmos. Cientes de que só reconhecendo francamente o bem que haja, rejeitaremos por contraste o mal que se lhe oponha.  

 

Daqui mesmo teremos de partir agora, mais realistas. A modernidade foi-se afirmando, como civilização e cultura, na medida em que deixámos de imaginar o todo e desistimos de ser absolutos. Trata-se de dominar o possível, quer na consideração do que há, quer na criação do que possa haver, com lucidez, trabalho e colaboração. Teve – sempre a modernidade - uma fase porventura mais individualista, qual tributo adolescente à liberdade pretendida, mas percebe agora que só solidariamente se realiza e que não há verdadeiro desenvolvimento que não seja “de todo o homem e do homem todo” (Paulo VI). De todos para todos, pela potenciação do concurso de cada um.

Temos certamente muito para dar, num colectivo por cada um preenchido e melhorado. A educação não deve ser meramente individual, nem imediatamente nacional. É pessoal – e por isso inter-pessoal -, pois assim mesmo somos, pessoas que transportam legados, resultantes estes do passado que importa para o futuro. Pessoas que articulam relações sócio-culturais complementares, das famílias à comunidade política, nacional e internacional.

Em cada patamar de sociabilidade se guardará a memória e germinará o que vier, pessoalmente e em grupo. E cada patamar será reconhecido e valorizado pelo que estiver mais acima, ou mais no centro da organização social, porque esta é a verdade das coisas, que acontecem do local para o universal, ou quando o universal toca no local. Como sabemos, a mediatização permite ambiguidades e alienações, sempre que abstrai das circunstâncias, generaliza apreciações e desperta quimeras.

A depreciação das pessoas concretas, nos níveis precisos em que coexistem, é herdeira ainda da apetência pelos heróis imaginários, quer da memória antiga, quer da virtualidade tecnológica de hoje em dia. A pouca confiança colectiva provém da fraca tessitura que mantemos, porque olhamos imediatamente para o todo. Ora, Portugal tem na conjugação dos seus muitos “corpos intermédios” quer a melhor realização do seu presente, quer a mais sólida base do seu futuro.

   Famílias, comunidades religiosas, instituições públicas, autárquicas e particulares, associações e empresas da mais variada índole manifestam, elas sim, o que temos de mais certo e promissor. Para quem as frequenta ou visita são, tantas vezes, o melhor antídoto contra a desesperança e o maior incentivo para seguir em frente.

Aí nos reencontramos, nas palavras ditas, nas ideias realizadas e nas vidas consistentes, com autênticos heroísmos, para não desistir, não fechar, não adiar. Aí seremos finalmente o que Vieira não encontrava no que aparentavam os seus contemporâneos, resistentes ao Portugal imenso que ele próprio transportava.

Era sonhador, decerto. Mas sonhador dos sonhos que cumpria, do Amazonas à Europa, com um mar infindo pelo meio. Quando requeria maior aceitação inter-étnica e até inter-religiosa, desejava o que já vivia e persistia em inculcar aos outros. Ainda hoje, constrói realmente um bom futuro quem extrai idealismo do que faz, concretamente faz, e não desista de fazer. Aí mesmo, onde a origem e a criatividade se colocam, de modo situado e solidário. Só ai, sem fantasmas nem frustrações, ambos descabidos.

O melhor de Portugal pouco aparece e não abre geralmente os noticiários. Mas existe e por ele mesmo continuamos nós a existir. Apesar de tudo, mas não apesar de nós. Em muitas escolas, estatais ou particulares, em muitos estabelecimentos de saúde, serviços públicos e instituições particulares de solidariedade social, deparamos com abnegações quotidianas e boas vontades que não esmorecem, antes parecem recrudescer no meio das dificuldades. Em muitos jovens licenciados há uma vontade de vencer e convencer, que consegue ultrapassar positivamente a escassez das ofertas de trabalho, criando para si para outros novas oportunidades, por vezes em domínios imprevistos ou pouco explorados. Assim como há empresários e gestores com verdadeiro sentido de missão, que revelam surpreendente capacidade de inovar e conquistar mercados, a par de reais preocupações com a manutenção e a criação dos postos de trabalho dos seus colaboradores.

Estas realidades, verdadeiramente tais, entre os fantasmas da excepcionalidade ou das massas, dão afinal pelo simples nome deste Prémio: referem-se à “pessoa”, a cada pessoa que nós somos, sempre com os outros e por vezes magnificamente. Significando isto cada um de nós, não abstractamente considerado, mas no concreto da sua vida e das suas relações, interpenetradas com as dos outros e com o respectivo meio.

Concluo com a inteira confiança nas pessoas que somos, os portugueses. E com a certeza firme de que, sendo verdadeiro objectivo do Estado e de todos os responsáveis sociais salvaguardar e promover a dignidade da pessoa humana, aumentaremos para isso as possibilidades materiais, culturais e espirituais existentes, que, no conjunto, constituem o nosso bem comum, na subsidiariedade e na solidariedade.

Assim acontecendo, a “história do futuro”, como António Vieira a entreviu, ultrapassará os seus melhores vaticínios. Sem imperialismos serôdios nem injustificáveis desistências, seremos um Portugal à altura de si mesmo, na grande largueza do mundo

Lisboa, 27 de Abril de 2010

Manuel Clemente



Diocese do Porto