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Discurso do Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa a Bento XVI

D. Jorge Ortiga
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Audiência do Episcopado Português com Bento XVI Visita «Ad Limina»: 10-11-07 Santidade, A nossa peregrinação a Roma experimenta neste momento a comum declaração da mais sincera comunhão cum Petro e sub Petro. Fazemo-lo na corresponsabilidade de quem pretende gastar as suas energias para que a Igreja, siga um itinerário de espiritualidade de comunhão e seja no mundo uma verdadeira «casa e escola de comunhão» (N.M.I. 43). Com a Exortação Apostólica do saudoso Papa João Paulo II, Pastores Gregis, queremos assegurar a vontade de nos tornarmos Bispos "servidores do Evangelho de Jesus Cristo para a esperança do mundo". Trata-se dum programa pessoal que colocamos nos nossos propósitos e intenções. 1 - O anúncio feito por Vossa Santidade da vivência dum "Ano Paulino", coloca-nos numa atitude colegial de discernir conteúdos numa sintonia plena com as orientações que nos poderão ser sugeridas. Este Ano Paulino vem dar maior consistência ao Programa que a Conferência Episcopal delineou para o triénio actual. O Povo português continua, na sua grande maioria, a afirmar-se católico embora reconheçamos que os ventos do relativismo e indiferentismo exercem uma grande pressão, provocando atitudes e opções ambíguas e, em alguns casos, contraditórias. Nem sempre a fé significa uma opção pessoal por Cristo e as tradições ocupam um espaço gerador duma religiosidade que pode não ter consistência. A Paixão de S. Paulo pela causa do Evangelho e a itinerância das suas viagens apostólicas irão conduzir-nos às páginas mais belas dum Povo que penetrou nos mares desconhecidos, norteado pela aventura de dilatar a "fé e o império". Procuraremos ser fiéis à nossa história. Nesta sociedade, maioritariamente católica, aceitamos com esperança a assinatura da Concordata entre a Santa Sé e o Governo Português (1). No princípio da separação procuramos intuir caminhos novos de cooperação como serviço ao povo português e na perspectiva do bem comum. Pequenos grupos, imbuídos dum espírito laicista, têm pretendido suscitar possíveis conflitos. Pretendemos dialogar para que a igualdade de direitos não seja capaz de abafar a proporcionalidade. Gostaríamos de, sempre e em tudo, mostrar a originalidade e diferença cristãs para, através do testemunho, propor Cristo como sentido de vida e recusar o estatuto de privilégio ou atitudes de mero proselitismo que destroem a consciência individual. Reconhecendo a necessidade duma profunda evangelização dos cristãos, sabemos que devemos partir ao encontro de mundos que progressivamente se afastam, talvez não de Cristo, embora o digam, mas da Igreja. No mundo e sem ser do mundo, queremos seguir quanto Vossa Santidade tem proclamado em variadíssimas ocasiões: "Cristo não se impõe; propõe-se". "Ele nada tira, mas dá tudo". 2 - Nesta atitude nunca esquecemos que Portugal foi - e queremos que continue a ser - terra de Santa Maria. Ela foi discípula. Acreditou firmemente em tudo quanto Deus anunciou e se deveria realizar. Tornou-se apóstola. Proclamou as maravilhas de Deus, ficando como modelo programático para a Igreja, dum Cristo-Palavra no mundo. Caminhou com o povo. Guiada e habitada pela Palavra Viva, de todos se tornou Serva porque Serva do Senhor. A nossa visita ad Limina acontece num ambiente de celebração dos 90 anos das Aparições de Fátima. Aí Maria apelou à conversão do mundo que, necessariamente, deve começar pela Igreja. Se nos parece que a sociedade caminha nas sombras dum hedonismo fácil, dum relativismo moral impressionante, duma desvinculação dos valores, dum desenvolvimento explorador e aproveitador dos mais fracos, duma desigualdade marcante e repleta de contrastes, nunca nos poderemos fechar na defesa do nosso tesouro e fazer condenações a anunciar destruição e catástrofes. Só a luz de Cristo, nos fiéis e nas comunidades, qual "milagre do Sol" em Fátima, conseguirá permitir que a Igreja encontre o seu espaço naquilo que foi a "Nação Fidelíssima". 3 - Necessitamos, por isso, dum novo alento à missionariedade - dentro ou fora das comunidades, no país ou no mundo --, como urgência dum legado histórico que nunca podemos esquecer. Portugal será sempre aquele pequeno país desafiado pelos horizontes do mar onde o risco e a morte se ultrapassam pela fé num mundo de concórdia e paz. Santo Padre, o Papa Paulo VI, no discurso de inauguração da terceira Sessão do Concílio Ecuménico Vat. II em 14 de Setembro de 1964, referiu palavras que o saudoso Papa João Paulo II quis citar na Exortação Pós-Sinodal "Pastores Gregis". «Como vós, veneráveis Irmãos no episcopado, espalhados pela terra, tendes necessidade dum centro, dum princípio de unidade na fé e na comunhão - para dar consistência e expressão à verdadeira catolicidade da Igreja -- e isso exactamente encontrais na cátedra de Pedro; assim Nós temos necessidade que vós estejais sempre ao Nosso lado, para dardes cada vez mais ao rosto desta Sé Apostólica a sua verdadeira fisionomia, a sua realidade humana e histórica, e até mesmo para lhe oferecerdes concordância com a sua fé, o exemplo no cumprimento dos seus deveres e o conforto nas suas tribulações». Estamos aqui hoje - e estaremos sempre no quotidiano das nossas vidas pessoais e das nossas Igrejas Particulares - para reconhecer a necessidade deste princípio de unidade, na fé e na comunhão cum Petro e sub Petro. Gostaríamos, também, que aceitasse a certeza de que estaremos sempre "ao lado" de Sua Santidade. Fazendo, mais uma vez, referência à nossa história, na aventura dos descobrimentos, os Reis apressavam-se a enviar ao Papa da época o que de mais precioso ou especial tinham encontrado. Hoje, não temos pedras nem outros exemplares exóticos. Trazemos a fé em Deus Amor e a responsabilidade de, corresponsavelmente, edificar a Igreja através do mesmo Amor (2). Colocando-nos diante de todos os portugueses, queremos depositar nas mãos de Vossa Santidade a vontade duma dedicação incondicional, duma fidelidade intrépida e uma acção pastoral renovada acolhendo a responsabilidade de tornar visível o Amor de Deus. Que Maria nos ensine a conhecer e a amar Cristo para nos tornarmos capazes de verdadeiro amor e "ser fonte de água viva no meio de um mundo sequioso". D. Jorge Ortiga, Presidente da C.E.P. e Arcebispo Primaz 1 - No dia 8 de Dezembro de 2004. 2 - Não esquecemos outra feliz coincidência. Neste ano celebramos os 40 anos da "Populorum progressio" (1967) e os 20 da "Sollicitudo rei socialis" (1987). Queremos, por isso, recordar-nos que a Doutrina Social da Igreja, conhecida, anunciada e posta em prática, continuará a sugerir orientações que acolhemos para a realização dum humanismo integral.


Visita Ad Limina