Mensagem da Quaresma do bispo das Forças Armadas e de Segurança
1. O fundamento da Igreja é a fé na Ressurreição do Senhor Jesus. Ele, o Senhor, vence o que, humanamente, é invencível. O sono da morte foi desperto pela claridade da Páscoa.
Prepararmo-nos para essa comemoração definitiva é viver a certeza pessoal e comunitária da Esperança no meio das decepções que nos tocam. O caminho de quarenta dias através da Liturgia da Quaresma, convida-nos ao aprofundamento do que somos e vivemos enquanto seguidores de Jesus Cristo.
2. A fé cristã exprime-se em obras de amor.
Quanto mais crescermos na escuta de Deus que fala pela Sua Palavra e nos educa pelos acontecimentos da vida, tanto mais nos abriremos ao mundo com atitudes de extrema justiça e solicitude.
Dever-nos-íamos sentir perfeitamente à vontade no propor o respeito da justiça, no exigir expressões de solidariedades, no avaliar as debilidades do conjunto humano onde nos inserimos. Ter receio de ir sempre mais além nestas questões da mudança é dar provas de apagada convicção diante dos critérios do Evangelho. Praticar estas exigências da transformação de sofrimentos e vazios é cumprir a fé que nos ressuscita para critérios de uma sociedade nova.
3. O Papa João Paulo II, na Mensagem da Quaresma, convida-nos a cuidarmos dos idosos, os quais, avançando no tempo, representam fontes de sabedoria e experiência.
A “terceira idade”, pela forma como é ou não encarada e protegida, torna-se o espelho de uma sociedade civilizada ou em retrocesso. Infelizmente, o abandono, a solidão, a doença, o menos apreço por quem parece não oferecer vantagens e lucros, reclamam novas, humanas e cristãs medidas.
É preciso escutar os idosos. Fazer-lhes companhia. Distrai-los. Oferecer-lhes oportunidades para ajudarem quem ainda tem menos forças. Responder aos seus sofrimentos, particularmente às dores que não transparecem.
Ninguém está a mais em Portugal. O que está a mais é a falsidade da escala de comportamentos e de modelos de sociedade.
4. Mais uma vez desejamos traduzir, em ajuda económica visível, a nossa solicitude pelos mais carenciados. Destinamos a nossa renúncia quaresmal à Paróquia de S. Miguel Arcanjo, da ilha de Santiago, em Cabo Verde, correspondendo ao pedido do respectivo Pároco, Padre António Luís Marques de Sousa. Sendo uma das comunidades mais pobres de toda a Diocese, só com a cooperação de todos poderá realizar o seu projecto evangelizador, de que constam o acolhimento a idosos, o apoio a mães solteiras, o desenvolvimento da formação juvenil e a alfabetização de adultos.
A nossa ajuda chegará directamente a esta comunidade, sem perigo de qualquer desvio. “Tudo o que não se dá, perde-se”.
Lisboa, 4.ª feira de Cinzas, 09 de Fevereiro de 2005.
Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e de Segurança