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Educação Cristã um itinerário para a vida

Comissão Episcopal da Educação Cristã
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Nota Pastoral da Comissão Episcopal da Educação Cristã

Na Semana Nacional de Educação Cristã, de 3 a 10 de Outubro deste ano de 2004, temos presente a necessidade de renovar os catecismos para alcançar uma catequese mais eficaz. Na verdade, os catecismos são instrumentos para fazer catequese, ou seja, para apoiar o crescimento da fé em ordem à vida cristã adulta plenamente desenvolvida. A transmissão da fé torna-se hoje uma questão. Como se faz um cristão adulto? Não basta rever os catecismos. É a própria concepção de educação cristã que precisamos de reconsiderar. 1. A iniciação cristã como percurso de crescimento. Não nascemos cristãos nem nos fazemos cristãos de um momento para o outro. Tornamo-nos cristãos de forma gradual e progressiva. A vida cristã é um percurso que progride para a vida plena, vivida com qualidade, com gosto e com sentido. É como uma semente lançada à terra que germina, cresce, amadurece e dá fruto. Tem como paradigma o caminho de Abraão para a terra prometida e o caminho de Jesus para a vida nova da Páscoa. No seguimento e como concretização deste caminho, encontramos muitos percursos exemplares de vida espiritual de muitos crentes. Tornar-se cristão é, portanto, um processo que precisa de tempo e onde se conjuga a graça de Deus, o testemunho da comunidade e o esforço pessoal de conversão. Chamamos a este processo “iniciação cristã”, isto é, introdução gradual e progressiva no mistério de Cristo e da Igreja, acompanhada pela fé pessoal e adulta, esclarecida e convicta. 2. A catequese na perspectiva da iniciação cristã. A catequese tem como finalidade a iniciação cristã. Procura, nesse sentido, oferecer um itinerário de crescimento nas várias dimensões da vida cristã: no conhecimento do mistério de Deus; na união com o Senhor na oração e na celebração da fé; na adesão à vontade de Deus no agir quotidiano e no testemunho da caridade. Os frutos da catequese hão-de notar-se também na atitude de oração, na participação na Eucaristia, na integração na comunidade cristã, na prática e no testemunho do evangelho na vida quotidiana: “Em virtude da sua própria dinâmica interna, a fé implica ser conhecida, celebrada, vivida e feita oração. A catequese deve cultivar cada uma destas dimensões. Mas a fé vive-se na comunidade cristã e anuncia-se na missão: é uma fé partilhada e anunciada. A catequese deve promover também estas dimensões” (DGC 84). Para crescer nestas dimensões da fé não basta participar nos encontros e conhecer o catecismo. A vida cristã transmite-se pelo testemunho dos crentes. É na vida da comunidade cristã, nos seus membros mais empenhados, nas suas celebrações, no seu estilo de vida, nas suas propostas, que os catequizandos vêem, experimentam e aprendem a ser discípulos de Cristo. Por isso, na educação cristã, é decisiva a forma como se vive a fé nos vários âmbitos comunitários: família, paróquia ou centro de culto, grupo de catequese. É nestes lugares comunitários e nas pessoas que lhe dão rosto – pais, avós, educadores, pastores, catequistas e fiéis cristãos – que se pode fazer a descoberta do mistério de Jesus Cristo e da alegria da vocação cristã. É no âmbito da comunidade cristã que os catequizandos são introduzidos na celebração, na oração, no comportamento moral e no sentido de Igreja. 3. Comunidades educativas. No itinerário do crescimento humano, social, cultural e espiritual dos filhos, as famílias são chamadas a desempenhar um papel decisivo e insubstituível. Apesar das muitas dificuldades e desânimos com que hoje se debatem, as famílias precisam de acompanhar com alegria e esperança o desenvolvimento harmonioso e feliz dos filhos e prestar atenção ao seu amadurecimento na responsabilidade, na generosidade, na participação e no diálogo mútuo. É também tarefa dos pais orientar o aproveitamento enriquecedor dos tempos livres e a realização das tarefas da escola e da catequese. A paróquia, que lida de perto com a família nos momentos cruciais da vida humana, é o espaço humano e cristão onde se torna presente a comunidade cristã que acolhe, congrega na comunhão eclesial e educa na fé. À paróquia é pedida a tarefa de acolher e apoiar as famílias na sua missão educativa de berço da vida, igreja doméstica e escola de virtudes sociais. A riqueza de vida cristã das paróquias está profundamente associada à das famílias. A educação cristã destina-se a toda a comunidade. Só uma comunidade que é permanentemente evangelizada pode tornar-se educadora da vida cristã. Nesse sentido “é preciso que as comunidades cristãs procurem propor uma catequese adaptada aos diferentes itinerários espirituais dos fiéis, segundo a respectivas idades e estados de vida dos adultos e dos jovens” (E in E 51). De facto, a iniciação cristã da infância e da adolescência tem como modelo a formação cristã dos jovens e adultos e como meta a maturidade da fé. Na Escola, através da Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), a Igreja também oferece um itinerário complementar da catequese, que tem em vista uma síntese entre a fé, a cultura e a vida. A EMRC, acompanhando o desenvolvimento escolar, proporciona uma visão cristã do homem, da sociedade e do mundo; promove uma definição mais clara de um projecto de vida e incentiva a uma escolha vocacional mais fundamentada. Lisboa, 27 de Julho de 2004 Os Bispos da Comissão Episcopal da Educação Cristã Manuel Pelino, José Sanches Alves,Jacinto Botelho e António Marto


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