Nota Pastoral de D. António Sousa Braga, bispo de Angra
O Dever de Votar
Aproxima-se o acto eleitoral para a escolha dos membros da Assembleia Legislativa Regional. É um momento importante de exercício da cidadania, que os católicos não podem descurar. Votar é uma obrigação tão séria, como ir à Missa ao Domingo. É uma incoerência na vida cristã desertar das mesas do voto. O cristão esclarecido e comprometido tem de ser cidadão responsável, que sabe escolher, votando.
A Igreja tem uma visão positiva da acção política. Para além das suas inevitáveis lacunas e limitações, como tudo o que é humano, a política é uma actividade nobre de serviço ao bem comum, seja no sentido restrito de actividade partidária, como no sentido mais abrangente de acção em favor da comunidade.
Mas, «não compete à Igreja a formulação de soluções concretas – e muito menos de soluções únicas – para questões temporais, que Deus deixou ao juízo moral, livre e responsável de cada um …» (Congregação para a Doutrina da Fé, Nota Doutrinal “Católicos na Vida Política”, 2002, nº 3). Dada a complexidade dos problemas, são moralmente possíveis diversas estratégias para alcançar os mesmos fins.
É preciso escolher. Não há democracia sem partidos. É verdade, isso por vezes não é fácil. A acção política é sempre imperfeita. Nunca consegue alcançar completamente os objectivos almejados. Por outro lado, não há o partido ideal, nem o partido da Igreja ou de Igreja. Há mais de um partido, em que os católicos se podem rever.
Falando à Conferência Episcopal Portuguesa, advertia o Cardeal-Patriarca de Lisboa: «a Igreja não é de esquerda, nem de direita; os cristãos, individualmente, podem sê-lo. Mas…, tanto à esquerda, como à direita, há modelos de sociedade que não cabem no quadro da Doutrina Social da Igreja».
Por isso, uma consciência cristã bem formada não pode favorecer, com o seu voto, a realização de um programa político, em que os conteúdos fundamentais da fé e da moral sejam subvertidos. Urge, pois, informar-se, discernir e escolher em consciência. Ficar em casa é que não. Seria pecar por omissão.
D. António Sousa Braga, Bispo de Angra