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Expressões musicais contemporâneas e a liturgia

Agência Ecclesia
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Intervenção de Johann Trummer no Congresso Internacional «O Órgão de Tubos e a Liturgia, hoje»

Desde os primeiros tempos da Igreja encontramos referências aos géneros de música e aos instrumentos a utilizar na liturgia. No concílio de Trento, como já muitas vezes anteriormente, foi proibida a música profana (trivial). Mas a partir do século XVI o mais tardar, surge urna tensão no desenvolvimento musical contemporâneo, isto é: na distinção entre a ‘prima prattica’ (especialmente na música de Palestrina) e a ‘seconda prattica’ os novos métodos de composição (especialmente a Ópera). Os grandes compositores como Claudio Monteverdi, unem os dois estilos, criando assim uma nova música sacra, mas para Heinrich Schütz, J.S.Bach e os clássicos de Viena, os dois estilos: música sacra e música profana formam uma unidade. No século XIX os caminhos separam-se, embora Anton Bruckner, Franz Liszt e também Mendessohn Bartholdi ou Brahms ainda procurem uni-los. Mas a música “profana” considera-se a si própria como uma arte “autónoma”; é o tempo da “música absoluta”. Ao mesmo tempo manifesta-se no desenvolvimento da música uma multiplicidade de estilos, por ex. na simultaneidade do fim do romantismo e da segunda escola de Viena. O Motu proprio de 1903 proíbe novamente os coros femininos, que entretanto já tinham há muito encontrado o seu lugar na cultura musical (inclusivamente dentro da Igreja). Até ao concílio Vaticano outros documentos põem reservas quanto à música contemporânea, como já o documento Annus qui de 1749. Divini cultus sanctitatem de 1928 adverte os organistas contra “a presunção da música moderna”. Indica a música Gregoriana como o ideal para a liturgia sob o ponto de vista da beleza. Apresenta-a ainda como o ideal para o canto da assembleia, com o pretexto de que em tempos anteriores os fiéis a cantavam. Com o concílio Vaticano II a situação mudou: a) Pela introdução do vernáculo e com isso do canto do povo, permitindo a sua participação activa tão necessária, a Igreja confessa a multiplicidade das culturas e das suas expressões musicais, tanto no canto da assembleia como no acompanhamento instrumental; entre outras coisas, contêm numerosos elementos da música popular como também cânticos da Igreja oriental (através de Taize) e muitos outros estilos. b) A música do século XX descobre novos mundos de sons. O mais tardar desde Auschwitz, ela se impõe como dever não insistir em colocar em primeiro lugar aquilo que segundo a tradição foi classificado como “belo”. A arte já não se entende como uma resposta, mas antes como uma pergunta. Entre as numerosas novas expressões musicais há também as que têm origem na fé cristã ou no uso da Sagrada Escritura, por ex. as obras de Olivier Messiaen, Kiysztof Penderecki ou Arvo Pärt. Não são obras litúrgicas, mas pertencem aos testemunhos e exemplos mais significativos da música do século XX. c) A Igreja descobre que tem um papel na vida musical, também fora da liturgia (concertos nas igrejas). Isto pertence à sua missão cultural, pelo menos na Europa e nos países onde penetrou a música tradicional europeia. O documento da Congregação do Culto divino de 1987 é um marco importante neste caminho. Então nascem, pelo menos em alguns centros de vida musical, novas formas no amplo campo entre a Liturgia da Palavra e o concerto, em ligação com a palavra (literatura), com a arte plástica e a arquitectura. d) A arte não se considera como serva da liturgia, mas pode relacionar-se com a Igreja como parceira de diálogo. Sempre que possível, os que compõem música sacra devem receber uma formação altamente qualificada. Na Alemanha e na Áustria por ex. , o Estado promove isto, porque os cursos nas academias e universidades obrigam os estudantes a debruçar-se sobre a música contemporânea. A música, tanto do coral como do órgão, e também o ensino de improvisação, devem sempre aferir-se por estas normas: constróem progressivamente as pontes para a arte contemporânea. Johann Trummer Fátima, Congresso Internacional «O Órgão de Tubos e a Liturgia, hoje»


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