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Fidelidade renovada (n.º 158)

D. António Couto
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Intervenção no Sínodo dos Bispos de D. António Couto

Igreja sinodal, próxima, fraterna e afectuosa

1. Viver «em sínodo» é a vocação e a missão da Igreja peregrina e paroquial, casa de família fraterna e acolhedora no meio das casas dos filhos e filhas de Deus, no belo dizer do Beato Papa João Paulo II, Catechesi tradendae [1979], n.º 67; Christifideles Laici [1988], n.º 26.

 

2. É também o retrato da Igreja-mãe de Jerusalém, saído da paleta de tintas do Autor do Livro dos Actos dos Apóstolos (2,42-47; 4,32-35; 5,12-15), que nos mostra uma comunidade cristã bem assente em quatro colunas: o ensino dos Apóstolos (1), a comunhão fraterna (2), a fracção do pão (3) e a oração (4), e com ramificações em todas as casas e em todos os corações. Trata-se de uma comunidade bela que, dia após dia, crescia, crescia, crescia. Não admira. Era uma comunidade jovem, leve e bela, tão jovem, leve e bela, que as pessoas lutavam por entrar nela!

 

Igreja da anunciação

3. A vocação e missão da Igreja não é coisa própria sua, mas radica, como exemplarmente deixou escrito o Concílio Vaticano II, no seu Decreto Ad Gentes, no amor fontal do Pai, que enviou em missão o Filho e o Espírito Santo (n.º 2). É nesta missão que se enxerta a missão da Igreja, pelo que não compete à Igreja inventar a missão ou decidir em que consista a missão. Na verdade, o rosto da missão tem os traços do rosto de Jesus Cristo e já foi nele luminosamente manifestado. Temos, pois, uma memória viva a fazer, viver e guardar todos os dias.

Abrindo o Evangelho de Marcos, reparamos logo que o primeiro afazer de Jesus não é pregar ou ensinar, mas ANUNCIAR, que traduz o verbo grego kêrýssô: anunciar o Evangelho (Mc 1,14). E qual é a primeira nota que soa quando Jesus se diz com o verbo ANUNCIAR? É, sem dúvida, a sua completa vinculação ao Pai, de quem é o Arauto, o Mensageiro, o ANUNCIADOR (kêryx). Pura transparência do Pai, de quem diz o que ouviu dizer (Jo 7,16-17; 8,26.38.40; 14,24; 17,8) e faz o que viu fazer (Jo 5,19; 17,4). Recebendo todo o amor fontal do Pai, bebendo da torrente cristalina do amor fontal do Pai (Sl 110,7), Jesus, o Filho, é pura transparência do Pai, e pode, com toda a verdade dizer a Filipe: «Filipe […], quem me vê, vê o Pai» (Jo 14,9).

 

4. Tudo, no arauto, na mensagem que transmite (kêrygma) e no estilo com que o faz, remete para o seu Senhor. A primeira nota de todo o ANUNCIADOR ou arauto ou mensageiro consiste na sua FIDELIDADE Àquele que lhe confia a mensagem que deve anunciar. É em Seu Nome que diz o que diz; é em Seu Nome que diz como diz.

 

5. O missionário só tem autoridade na medida em que é fiel a Cristo e como Ele obediente, nada dizendo ou fazendo por sua conta e risco. Só pode dizer e fazer aquilo que, por graça, lhe foi dado ouvir, aquilo que, por graça, lhe foi dado ver fazer. O missionário não pode deixar de estar vinculado a Cristo, nele configurado e transfigurado. O Papa Bento XVI disse-o assim: «Tudo se define a partir de Cristo, quanto à origem e à eficácia da missão». E acrescentou este singular desabafo: «Quanto tempo perdido, quanto trabalho adiado, por inadvertência deste ponto» (Homilia da Santa Missa, Grande Praça da Avenida dos Aliados, Porto [Portugal], 14 de Maio de 2010).

 

Igreja da fidelidade

6. Impõe-se ainda dizer, é mesmo necessário ainda dizer, em jeito de conclusão ou de introdução, que aquilo que me parece ser mais importante na expressão «nova evangelização» não é tanto a novidade de métodos, expressões ou estratégias, mas a FIDELIDADE da Igreja ao Senhor Jesus (Paulo VI, Evangelii Nuntiandi [1975], n.º 41), ao seu estilo, ao seu modo de viver, de fazer e de dizer: Dom total de si mesmo num estilo de vida pobre, humilde, despojado, feliz, apaixonado, ousado, próximo e dedicado. Passa por aqui sempre o caminho e o rosto da Igreja, que tem de fazer a memória do seu Senhor, configurando-se com o seu Senhor e transfigurando-se no seu Senhor. Impõe-se, portanto, uma verdadeira conversão do coração, e não apenas uma mudança de verniz. Sim, temos necessidade de anunciadores do Evangelho sem ouro, nem prata, nem cobre, nem bolsas, nem duas túnicas (Mt 19,9-10; Mc 6,6-8; Lc 9,3-4)… Sim, é de conversão que falo, e pergunto: por que será que os Santos se esforçaram tanto, e com tanta alegria, por ser pobres e humildes, e nós nos esforçamos tanto, e com tristeza (Mt 19,22; Mc 10,22; Lc 18,23), por ser ricos e importantes?

 

+ António José DA ROCHA COUTO



Sínodo dos Bispos