Homilia de Bento XVI no dia de Páscoa Bento XVI 12 de Abril de 2009, às 11:31 ... Amados irmãos e irmãs! «Cristo, o nosso cordeiro pascal, foi imolado» (1 Cor 5, 7): ressoa hoje esta exclamação de São Paulo que ouvimos na segunda leitura, tirada da primeira Carta aos CorÃntios. É um texto que remonta apenas a uns vinte anos depois da morte e ressurreição de Jesus e no entanto – como é tÃpico de certas expressões paulinas – já encerra, numa sÃntese admirável, a plena consciência da novidade cristã. Aqui, o sÃmbolo central da história da salvação – o cordeiro pascal – é identificado em Jesus, chamado precisamente «o nosso cordeiro pascal». A Páscoa hebraica, memorial da libertação da escravidão do Egipto, previa anualmente o rito da imolação do cordeiro, um cordeiro por famÃlia, segundo a prescrição de Moisés. Na sua paixão e morte, Jesus revela-Se como o Cordeiro de Deus «imolado» na cruz para tirar os pecados do mundo. Foi morto precisamente na hora em que era costume imolar os cordeiros no Templo de Jerusalém. O sentido deste seu sacrifÃcio tinha-o antecipado Ele mesmo durante a Última Ceia, substituindo-Se – sob os sinais do pão e do vinho – aos alimentos rituais da refeição na Páscoa hebraica. Podemos assim afirmar com verdade que Jesus levou a cumprimento a tradição da antiga Páscoa e transformou-a na sua Páscoa. A partir deste novo significado da festa pascal, compreende-se também a interpretação dos «ázimos» dada por São Paulo. O Apóstolo refere-se a um antigo costume hebraico, segundo o qual, por ocasião da Páscoa, era preciso eliminar de casa todo e qualquer resto de pão fermentado. Por um lado, isto constituÃa uma recordação do que tinha acontecido aos seus antepassados no momento da fuga do Egipto: saindo à pressa do paÃs, tinham levado consigo apenas fogaças não fermentadas. Mas, por outro, «os ázimos» eram sÃmbolo de purificação: eliminar o que era velho para dar espaço ao novo. Agora, explica São Paulo, também esta antiga tradição adquire um sentido novo, precisamente a partir do novo «êxodo» que é a passagem de Jesus da morte à vida eterna. E dado que Cristo, como verdadeiro Cordeiro, Se sacrificou a Si mesmo por nós, também nós, seus discÃpulos – graças a Ele e por meio d’Ele –, podemos e devemos ser «nova massa», «pães ázimos», livres de qualquer resÃduo do velho fermento do pecado: nada de malÃcia ou perversidade no nosso coração. «Celebremos, pois, a festa (…) com os pães ázimos da pureza e da verdade»: esta exortação de São Paulo, que conclui a breve leitura que há pouco foi proclamada, ressoa ainda mais forte no contexto do Ano Paulino. Amados irmãos e irmãs, acolhamos o convite do Apóstolo; abramos o espÃrito a Cristo morto e ressuscitado para que nos renove, para que elimine do nosso coração o veneno do pecado e da morte e nele infunda a seiva vital do EspÃrito Santo: a vida divina e eterna. Na Sequência Pascal, como que respondendo à s palavras do Apóstolo, cantámos: «Scimus Christum surrexisse a mortuis vere – sabemos que Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos». Sim! Isto é precisamente o núcleo fundamental da nossa profissão de fé; é o grito de vitória que hoje nos une a todos. E se Jesus ressuscitou e, por conseguinte, está vivo, quem poderá separar-nos d’Ele? Quem poderá privar-nos do seu amor, que venceu o ódio e derrotou a morte? O anúncio da Páscoa propaga-se pelo mundo com o cântico jubiloso do Aleluia. Cantemo-lo com os lábios; cantemo-lo sobretudo com o coração e com a vida: com um estilo «ázimo» de vida, isto é, simples, humilde e fecundo de obras boas. «Surrexit Christus spes mea: / precedet suos in Galileam – ressuscitou Cristo, minha esperança / precede-vos na Galileia». O Ressuscitado precede-nos e acompanha-nos pelas estradas do mundo. É Ele a nossa esperança, é Ele a verdadeira paz do mundo. Amen. Páscoa Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...