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Homilia de D. Jacinto Botelho no Dia da Igreja Diocesana de Lamego

D. Jacinto Tomás Botelho
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É a primeira vez que na qualidade de Administrador Apostólico da Diocese presido à Eucaristia, neste dia 20 de novembro, em que celebramos o 235º aniversário da Dedicação da Catedral, e por isso, desde há algumas décadas, o assumimos como Dia da Igreja Diocesana.

Saúdo com muita amizade e especial afeto o Senhor o Senhor D. António José da Rocha Couto que Sua Santidade Bento XVI nomeou para Bispo de Lamego, por quem desde já prometemos rezar. Expressei em breve mensagem os sentimentos que irrompem em mim e que reitero. Na bela mensagem de saudação que o Senhor D. António nos dirigiu manifestou a disposição de estar espiritualmente connosco neste Dia da Igreja Diocesana. Permiti que recorde as suas palavras: “Estarei amanhã [domingo], Dia da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, em comunhão com todos vós na celebração do Dia da Igreja Diocesana, e sentirei convosco «A Família e a Igreja nos caminhos da Nova Evangelização». Que o Senhor a quem servimos e que nos mandou servir os nossos irmãos mais pequeninos encha das suas graças o jovem Ricardo Jorge Ribeiro Barroco, que amanhã receberá a Ordenação Diaconal. Para todos invoco a bênção de Cristo Rei, e a proteção de S. Sebastião, Padroeiro da nossa Diocese de Lamego, e de Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, que particularmente invocamos como Nossa Senhora dos Remédios.” Penhora-nos esta disposição de presença que sentimos e que também nos compromete. Agradeçamos ao Senhor a Graça da nomeação do Senhor D. António Couto para nosso Bispo, certeza de que se consolidará a nossa comunhão e se estimulará a formação e o dinamismo apostólico de que precisamos. 

 A celebração desta solenidade do aniversário da Dedicação a Catedral, Dia da Igreja Diocesana, deve levar-nos a refletir sobre a nossa identidade de cristãos conscientemente comprometidos na Igreja de Lamego a que pertencemos. O imponente edifício onde nos encontramos é símbolo da Igreja formada por pedras vivas que somos nós. O Dia da Igreja Diocesana deve sensibilizar-nos para a corresponsabilidade que cabe a cada um e a consciência desta corresponsabilidade consolida a comunhão e dinamiza o testemunho de batizados.

Foi o que ouvimos na palavra de S. Paulo na Carta aos Coríntios, proclamada há momentos: Vós sois edifício de Deus. […] Veja cada um como constrói: ninguém pode colocar outro alicerce além do que está posto, que é Jesus Cristo. O Senhor Jesus que a solenidade de Cristo Rei, toda a Igreja hoje celebra, é o Caminho, a Verdade e a Vida, a direção obrigatória, a pedra fundamental, o centro para onde deve convergir o nosso olhar, e fora do Qual não há construção com seriedade. O Dia que vivemos há de inserir-nos mais convictamente n’Ele, no qual fomos batizados, para, em consequência, vivermos a proximidade uns dos outros, porque com Ele formamos um único corpo. Por outro lado, como afirmou Sua Santidade Bento XVI aos jovens na mensagem que lhes dirigiu nos Quatro Ventos, nas Jornadas Mundiais da Juventude, mas que é oportuna para todos os cristãos: “Para o crescimento da vossa amizade com Cristo é fundamental reconhecer a importância da vossa feliz inserção nas paróquias, comunidades e movimentos”, para lembrar imediatamente a seguir, a necessidade da participação na Eucaristia de cada domingo, a receção frequente do sacramento do perdão e o cultivo da oração e a meditação da Palavra de Deus. São os meios de sempre que nenhum caminho de espiritualidade pode substituir ou modificar. A celebração do Dia da igreja Diocesana tem de reforçar a nossa vivência cristã.

Com esta disposição e esta consciência empenhar-nos-emos em corresponder ao programa pastoral que nos é proposto, Família e Igreja nos novos Caminhos da Evangelização, sobre o qual muitos dos que estais aqui refletistes esta manhã e no princípio da tarde no Seminário.  

O testemunho a todos pedido, concretiza-se na prática do mandamento do amor que a linguagem profética de Isaías explicita em alguns pormenores da relação com os outros para destacar que por aí passa o verdadeiro culto que inunda de alegria os que o vivem e credibiliza a nossa oração. Mais que nunca se torna urgente este comportamento que o Evangelho de hoje ilumina de modo extraordinário. A crise que enfrentamos reclama uma proximidade e solidariedade a que ninguém pode ficar indiferente. Vivem ao nosso lado, muito mais perto do que imaginamos, os que merecem a nossa particular atenção que são todos afinal. O Beato João Paulo II diz expressamente na Carta Apostólica programática do novo milénio, Novo Millennio Ineunte : “Partindo da comunhão dentro da Igreja, a caridade abre-se, por sua natureza, ao serviço universal, frutificando no compromisso dum amor ativo e concreto por cada ser humano. Este âmbito qualifica de modo igualmente decisivo a vida cristã, o estilo eclesial e a programação pastoral.” E Sua Santidade recorda a seguir a página o Evangelho há momentos proclamada afirmando: “Se verdadeiramente partimos da contemplação de Cristo, devemos vê-Lo sobretudo no rosto daqueles que Ele mesmo quis identificar: «Porque tive fome e destes-Me de comer, tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e recolhestes-Me; estava nu e destes-Me de vestir; adoeci e visitastes-Me; estava na prisão e fostes ter Comigo», para afirmar categoricamente a seguir: “Esta página do Evangelho não é um mero convite à caridade, mas uma página de cristologia que projeta um feixe de luz sobre o mistério de Cristo. Nesta página, não menos do que o faz com a vertente da ortodoxia, a Igreja mede a sua fidelidade de Esposa de Cristo.” 

A realidade descrita pelo Beato João Paulo II na Carta que acabo de referir ganha particular objetividade e acuidade no contexto socioeconómico que vivemos, passada que é quase uma dúzia de anos após a sua publicação. Ouçamos Sua Santidade: “No nosso tempo são muitas as necessidades que interpelam a sensibilidade cristã. O nosso tempo começa o novo milénio, carregado com um crescimento económico, cultural e tecnológico que oferece a poucos afortunados grandes possibilidades e deixa milhões e milhões de pessoas não só à margem do progresso, mas a braços com condições de vida muito inferiores ao mínimo que é devido à dignidade humana.” A Carta a que me reporto oferece-nos a conclusão que se nos impõe: “Devemos procurar que os pobres se sintam, em cada comunidade cristã, como «em sua casa». Não seria este estilo a maior e mais eficaz apresentação da Boa Nova do Reino? Sem esta forma de evangelização, realizada através da caridade e do testemunho da pobreza cristã, o anúncio do Evangelho – e este anúncio é a primeira caridade – corre o risco de não ser compreendido ou de afogar-se naquele mar de palavras que a atual sociedade de comunicação diariamente nos apresenta. A caridade das obras garante uma força inequívoca à caridade das palavras.” Que a excelente reflexão do Beato João Paulo II ilumine e dinamize o trabalho pastoral do novo ano.

Mas neste Ano Jubilar do Seminário Maior, casa e escola sacerdotal, somos enriquecidos com a Graça da ordenação de um novo diácono, o Ricardo Jorge Ribeiro Barroco, de Magueija. Comungo a alegria do Ricardo, dos seus pais e familiares, dos nossos Seminários, da sua paróquia e das paróquias onde tem estagiado. Caríssimo Ricardo, caminhas para o sacerdócio e vais comprometer-te e viver, a partir de hoje, como diácono. Permite que te recorde o conselho que há quinze dias, no dia de S. Carlos Borromeu, Sua Santidade Bento XVI deu aos que nas universidades pontifícias de Roma, percorrem o mesmo itinerário que tu para a vida sacerdotal. O Santo Padre ressaltava três condições para que a vida tenha uma consonância crescente com Cristo: “A aspiração a colaborar com Jesus na propagação do Reino de Deus, a gratuidade do compromisso pastoral e a atitude de serviço”. E Bento XVI explicita, relativamente à primeira condição: “Antes de tudo, na chamada ao ministério sacerdotal há o encontro com Jesus e o facto de nos sentirmos fascinados, impressionados palas Suas palavras, pelos Seus gestos e pela Sua pessoa. É o facto de distinguirmos, no meio de muitas vozes, a Sua voz, respondendo como Pedro: «Tu tens palavras de vida eterna».” Quanto à gratuidade do serviço pastoral, afirma o Santo Padre: “A chamada do Senhor ao ministério não é fruto de méritos particulares, mas sim dádiva a acolher e a ser correspondida, dedicando-nos não tanto a um programa pessoal, mas ao desígnio de Deus, de modo generoso e abnegado, a fim de que Ele disponha de nós em conformidade com a Sua vontade, mesmo que ela não corresponda às nossas aspirações de autorrealização. […] A única ascensão legítima rumo ao ministério de Pastor não é a do sucesso, mas a da Cruz.” E o Santo Padre explica a atitude de serviço com estas palavras: “(Responder ao chamamento) quer dizer ser servo, também com a exemplaridade da própria vida. […] Uma vida profundamente marcada pelo serviço: pelo cuidado atento do rebanho, pela celebração fiel da liturgia e pala solicitude imediata por todos os irmãos, especialmente pelos mais pobres e necessitados.” Caríssimo Ricardo, toma como programa de vida ao longo da tua existência esta sábia orientação de Bento XVI.

Que a Mãe do Céu, Senhora da Assunção, titular desta Catedral, comunique a cada um a Sua Bênção, e nos faça sentir nas nossas comunidades, como enviados, a anunciar pela vida a Boa Nova de Jesus.

Sé de Lamego, 20 de novembro de 2011

D. Jacinto Botelho, administrador apostólico da diocese



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