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Homilia de D. João Lavrador na Peregrinação Nacional de Jovens do Movimento dos Convívios Fraternos a Fátima

D. João Lavrador
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«Deus amou de tal maneira o mundo que entregou o Seu Filho único, para que todo o homem que acredita n’Ele não se perca, mas tenha a vida eterna» (Jo.3, 16). Caros jovens que fizestes a experiência tão rica do Convívio Fraterno, estas palavras que escutámos no Evangelho ligadas ao lema da vossa peregrinação, «Com Maria, viver a Verdade» ajudam-nos a aprofundar a consciência do chamamento que Jesus Cristo nos lança como seus discípulos e, de modo muito particular a vós jovens. Deus ama o mundo, isto é, Deus ama a obra criada por Ele, Deus ama sobretudo o ser humano, homem e mulher, criados à Sua imagem e semelhança. É com o mesmo sentimento de amor que Jesus Cristo nos convida a situarmo-nos no mundo. Porque só no amor, de quem se entrega totalmente, à maneira de Jesus Cristo, se pode penetrar na compreensão mais profunda da verdade de todo o ser, nomeadamente da verdade do ser humano, no reconhecimento da sua dignidade e da sua elevada vocação. É neste contexto do amor que cada um é chamado a analisar o que é bom, o que é verdadeiro e justo, o que convém, e a descobrir a presença vivificante e transformadora do Espírito de Deus e, também, a reconhecer o pecado e o mal que impedem que a criação se manifeste na liberdade dos filhos de Deus. É grande a interpelação que nos é feita, sobretudo a vós jovens, que fizestes a experiência apaixonante do amor de Deus nas vossas vida: estar no mundo, amando-o, não para se limitar a ser como o mundo, como recomenda o Apóstolo, mas para o transformar pela força do Evangelho. Detenhamo-nos um pouco, sempre com um olhar de amor lançado sobre o mundo dos homens e mulheres do nosso tempo, a analisar algumas características que nos proporcionam a possibilidade de sermos autênticos discípulos de Jesus Cristo, seja na auscultação do que o Espírito de Deus está a realizar no meio do mundo, seja nos obstáculos que hoje se colocam à verdadeira realização do ser humano e da sociedade, tal como Deus os pensou: exalta-se, em alguns sectores da cultura actual, de tal modo a liberdade individual que lhe são sacrificados a procura da verdade, do bem e do belo na sua mais profunda fundamentação; realça-se o amor como puro sentimento efémero, sensual e ocasional, sem se sublinhar a verdade do amor que nos constituiu à imagem e semelhança de Deus, que é Amor Inteligente e Livre, porque se dá inteira e permanentemente ao Outro; chega-se a exaltar como valor ético o que é do domínio do apetite subjectivo, pervertendo os princípios últimos que devem reger a natureza humana, como criatura, e como tal obediente e fiel ao Criador que imprimiu nela a orientação e sentido para sua plena realização; o relativismo e o pragmatismo tomaram conta da vida quotidiana e das grandes opções culturais, calando a voz da consciência e as exigências da razão humana que procura caminhar até à Verdade plena; o ser humano, mistério em si mesmo, que só à luz do mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente (cfr. GS, 22), é, em tantas situações actuais, reduzido a um objecto social, económico, politico, psicológico…, numa palavra, pretende-se exaltar o homem como mero objecto material. Mas, em comunhão com todos os homens e mulheres, sentimos um grito a reclamar valores mais profundos e a libertação da amarras que nos oprimem e não nos deixam saborear a autêntica realização que só é possível na comunhão de vida com Deus. É neste contexto que os discípulos de Jesus Cristo, tal como o Mestre, devem proclamar que «Jesus Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo. 14, 6) aberto a todo aquele que, acreditando n’Ele, tenha a vida eterna. Tal como afirma João Paulo II «só a liberdade que se submete à Verdade, conduz a pessoa humana ao seu verdadeiro bem. O bem da pessoa é estar na Verdade e praticar a Verdade» (VS, 84). Por isso, aponta como urgência pastoral da Igreja a descoberta do laço essencial entre a Verdade – Bem –Liberdade, perdido, em grande parte, pela cultura contemporânea, e, como tal, oferecer ao homem a possibilidade de redescobri-lo. «A pergunta de Pilatos “Que é a verdade?” emerge também da desoladora perplexidade de um homem que frequentemente já não sabe quem é, donde vem e para onde vai» (VS, 84). Como consequência, conclui «é, assim, que não raro assistimos à tremenda derrocada da pessoa humana em situações de progressiva autodestruição» (VS, 84). Convida-nos, então, a colocarmos o nosso olhar em Jesus Cristo: «A Igreja olha cada dia com amor incansável para Cristo, plenamente consciente de que só n’Ele está a resposta verdadeira e definitiva ao problema moral. De modo particular, em Jesus crucificado, ela encontra a resposta à questão que hoje atormenta tantos homens: como pode a obediência às normas morais universais e imutáveis respeitar a unicidade e irrepetibilidade da pessoa e não atentar contra a sua liberdade e dignidade?(VS 85). Tal como S. Paulo que, ao anunciar a Cruz de Cristo, pregou o Evangelho que foi considerado loucura para os gentios e escândalo para os Judeus, mas é manifestação da sabedoria de Deus para os eleitos, a Igreja vive e proclama a Cristo crucificado como Aquele que revela o sentido autêntico da liberdade, vive-o em plenitude no dom total de si mesmo e chama os discípulos a tomar parte na sua própria liberdade. Todos vós, Jovens Convivas, experimentastes a Verdade de Jesus Cristo Vivo, Amigo e Libertador. É inesquecível a alegria que provocou o encontro amoroso com Ele. Permitam-me que vos convide, neste Santuário, amparados pela mão de Nossa Senhora, contemplando o seu coração Imaculado, porque cheio do Amor do Senhor que a conduziu pelos caminhos da verdade de Deus ao encontro da verdade do homem, a renovardes a mesma experiência de Jesus Cristo actuante nas vossas vidas «Ele que sendo Deus, despojou-se a si próprio, tomando a condição de servo, ficando semelhante aos homens», como afirma S. Paulo, na 2ª Leitura da Eucaristia de hoje; a vos comprometerdes em alimentar esta paixão amorosa por Jesus Cristo, inseridos na experiência de Igreja, em Comunidade, crescendo sempre pessoal e comunitariamente, fazendo verdadeira experiência de grupo apostólico, que tem no seu olhar a evangelização do mundo e o rejuvenescimento da Igreja, e, para tal, colocardes como exigência pessoal uma formação cristã sólida. Neste Santuário de Fátima somos conduzidos pela mão materna de Nossa Senhora, convidando-nos a sermos jovens do nosso tempo, em conversão permanente ao Seu Filho. Não tenhais medo de propordes a vós mesmos e aos outros jovens o caminho da conversão como o único capaz de orientar para o homem novo que todos ansiais e a humanidade tanto espera. Colocai o vosso olhar em Jesus Cristo sempre jovem que ama os jovens com uma ternura incalculável e deixai-vos cativar pelas palavras de Maria que nos segreda: «Fazei o que Ele vos disser» (Jo. 2,5). Amar o mundo, tal como Jesus, é participar activamente nas estruturas da sociedade, oferecendo aos jovens, aos adultos, às crianças e aos idosos a esperança que brota do Evangelho. Todos lamentamos o deficit de participação pública dos cristãos. Por fidelidade à fé cristã, sede vós jovens os primeiros a incentivar os fiéis leigos das vossas comunidades cristãs a esta participação Termino com as palavras que Paulo VI vos dirigiu no final do Concilio Vaticano II: «É em nome deste Deus e do seu Filho Jesus que vos exortamos a alargar os vossos corações a todo o mundo, a escutar o apelo dos vossos irmãos e a por corajosamente ao seu serviço as vossas energias juvenis. Lutai contra todo o egoísmo. Recusai dar livre curso aos instintos da violência e do ódio, que geram as guerras e o seu cortejo de misérias. Sede generosos, puros, respeitadores, sinceros. E construí com entusiasmo um mundo melhor que o dos vossos antepassados. A Igreja olha-vos com confiança e amor». Que Nossa Senhora de Fátima que neste lugar veio interpelar os homens a reconduzirem o seu coração para Deus, nos ensine os caminhos da verdade, do amor, do bem, da beleza, da justiça e da paz. + João Lavrador, Bispo Auxiliar do Porto


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