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Homilia do arcebispo de Braga na Eucaristia do Dia da Universidade Católica

D. Jorge Ortiga
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O manual da Verdade

Caros sacerdotes,

Diretores, Professores, Funcionários e Alunos da UCP,

Irmãos e irmãs na fé em Cristo Jesus!

1. “Gaudeamus igitur, juvenes dum sumus”,

“Portanto alegremo-nos, enquanto somos jovens!”, diz a letra do mais conhecido Hino Académico. Na verdade, hoje é dia de alegria pela comemoração dos 45 anos da Universidade Católica Portuguesa.

Contudo, a primeira leitura de hoje parece antes um hino à tristeza e à desilusão. Job é um homem desolado pois está a sofrer, e não consegue encontrar explicação para tal sofrimento, de tal modo que chega a considerar a sua vida pior que a de um escravo. Aliás, a vida de Job exprime o problema antropológico que ocupou amarguradamente o pensamento dos primeiros filósofos: se Deus (Criador) é bom, porque permite o mal?

Perante esta dúvida que a todos nos provoca, Jesus responde-nos com um gesto milagroso. Numa época em que a doença ou a adversidade eram concebidos como castigos de Deus, ao curar a sogra de Pedro e os doentes que lhe faziam chegar, Jesus comprova a incoerência do binómio pecado = castigo divino. Diante do sofrimento, Ele não procura justificações científicas nem explicações filosóficas, mas apenas coloca-se ao lado daqueles que sofrem.

Como tal, Jesus revela assim um Deus que é Amor, refutando a identidade do Deus impassível e castigador inventado pelos homens (filósofos).

Diante desta revelação, Paulo sente-se na obrigação de anunciar esta novidade, como escutávamos na segunda leitura. É curioso ouvir a contundência das suas palavras, ao afirmar: “Ai de mim se não evangelizar!” Ele não o faz para obter curriculum, mas para “ganhar alguns a todo o custo”.

 

2. Ora, continuando o trabalho apostólico de Paulo, a missão da Igreja visa essa transformação do mundo para Deus através da formação cultural (académica) das pessoas.

É nesse sentido que a Igreja Católica tem criado Universidades, como modo da sua atuação pastoral no meio da construção do saber e da formação das gerações futuras. Se hoje, a nível nacional, celebramos o Dia da Universidade Católica, a Igreja em Portugal, como Povo de Deus, deve reavivar a sua confiança e amor a esta Universidade através da oração e da partilha generosa.

De facto, esta Universidade não é apenas para católicos, mas tem por missão promover uma formação e uma investigação honesta e exigente, como serviço à humanidade, tendo sempre por base os princípios da visão cristã sobre o ser humano. Esses princípios aplicam-se mesmo já na relação com os alunos, que não são fonte de lucro, mas o centro do serviço da Universidade. Só assim se pode transformar o mundo!

Não obstante, é necessário preparar bons profissionais, que conheçam a leitura cristã da realidade, nas áreas da Filosofia, da Teologia, das Humanidades, do Serviço Social, da Psicologia, da Comunicação, das Artes, das novas Tecnologias, do Turismo… Em suma, é esta a missão da Universidade Católica: formar para a Verdade!

 

3. Deste modo, a celebração dos 45 anos é ocasião para refletir, sobre o passado e sobre o futuro, em ordem a melhor adequar o funcionamento da Universidade a esta sua missão fundamental. Caso contrário, no contexto do excesso de ofertas do Ensino Superior em Portugal, mais uma Universidade como as outras poderia não fazer sentido.

Quanto mais afastada da Verdade, mais a Universidade Católica estará afastada da missão para a qual foi fundada. Por isso, trago agora à memória as sedentas palavras de Pilatos dirigidas a Jesus: “O que é a Verdade?” Ou por outras palavras: “Onde está a Verdade?”

A propósito, o colaborador do célebre revolucionário Martin Luther King, Andrew Young, escrevia o seguinte nos anos 60:

“É melhor investir hoje quinze ou vinte dólares a comprar uma Bíblia, do que gastar amanhã cem ou cento e cinquenta dólares por hora, no escritório de um psiquiatra.”

Perdoem-me a frieza destas palavras, mas só a Palavra de Deus nos aponta para a Verdade. E porquê? Porque a Verdade de Deus aí descrita é a Verdade do Homem. Portanto, a Bíblia é o manual da Verdade.

Como manual, podereis usá-lo sem receio nas mais diversas áreas do saber. Ele terá sempre uma ideia, uma informação, uma certeza, um juízo, uma premissa, um princípio, um valor ou um conceito que enriquecerá certamente a vossa reflexão em defesa da verdade e da dignidade do Homem.

Mas, sobretudo, usai-o também na vossa vida e deixai que a Palavra de Deus embeleze a vossa família, a vossa comunidade, o vosso estudo, o vosso descanso, os vossos tempos-livres, a vossa oração… e a vossa verdade! Na certeza de que se conhecerdes a verdade, “a verdade vos tornará livres” (Jo 8,32).

Para terminar, o Papa Bento XVI, na Exortação Apostólica Verbum Domini, sintetiza na perfeição este desafio que vos lanço:

“É bom que se promova, no ensino, o conhecimento da Sagrada Escritura, superando antigos e novos preconceitos, e procurando dar a conhecer a (sua) verdade!” (n.º 111).

Por isso, caros professores: educai para a Verdade!

Caros funcionários: vivei segundo a Verdade!

Caros estudantes: continuai a procurar a Verdade!

Caras famílias: testemunhai a Verdade!

E caras comunidades: acreditai na Universidade e permiti que ela continue a ser esse espaço onde a Verdade é traduzida em cultura!

5 de fevereiro de 2012, Catedral de Braga,

D. Jorge Ortiga



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