Encerramos a semana de Oração pelas Vocações. Rezamos tendo diante de nós um projecto delineado pela mensagem do Santo Padre: “Vocações ao Serviço da Igreja-Missão”.
1. Não basta referir a necessidade de vocações. Importa “ampliar” a voz de Cristo que “chama cada uma das ovelhas pelo seu nome e leva-as para fora”. Se Cristo chama qual a razão de não ouvirmos a sua voz? Seremos cristãos abafados no meio das ocupações? Neste contexto, parece-me ser de sublinhar que os cristãos e as comunidades devem tornar-se mais contemplativas, homens e mulheres de hoje que ouvem Cristo porque querem criar condições para o escutar.
O dom da liberdade é maravilhoso. Deus respeita. Só que o cristão deveria cortar com muita coisa para ouvir esta voz suave dum Cristo que se antecipa no amor, olha com ternura, fixa os outros. Os distraídos não conseguem aperceber-se.
Se o mundo é rumor e barulho, necessitamos de lugares onde a voz de Cristo se torne perceptível. As famílias, as comunidades, os movimentos são ou devem ser estes lugares favoráveis à Escuta. Daí que:
. Famílias tornai-vos lugares que formam para a escuta dos apelos de Deus.
. Comunidades paroquiais criai as condições adequadas para o silêncio interpelativo.
. Movimentos de jovens deixai espaços para interpelar, questionar, ousar propor o convite de quem chama.
. Acrescento um dom que Deus nos concede que, talvez, nem sempre se aproveite: as Aulas de Educação Moral e Religião Católica. Com um pouco mais de solicitude a voz de Cristo poder-se-á ouvir no coração de muitos jovens.
2. O chamamento de Cristo é sempre efectuado por mediadores, ou seja, homens e mulheres que não temem nem se envergonham de apontar o caminho da Consagração, de dedicar tempo ao acompanhamento e, quem sabe, à orientação espiritual, de acolher dúvidas e problemas para esclarecer.
. Aos pais agradeço, em nome de Deus, que apontem o caminho na certeza de que o segredo da vida está em Cristo. “Eu vim para que tenham a vida e a tenham em abundância”.
. Aos sacerdotes e consagrados solicito a alegria duma vida doada que vai estimular e solicitar a adesão a um projecto de encontro com Cristo.
. Aos Animadores dos grupos de jovens asseguro-lhes que só quando acontece um encontro com Cristo o grupo atinge a sua finalidade.
. Aos professores, particularmente, de E.M.R.C., recordo que abrir horizontes de abertura ao transcendente é a certeza duma educação integral.
3. Chamar é para colocar ao Serviço da Igreja que, estruturalmente, é missionária. Onde está um cristão está uma consciência de missão.
Há tantos inactivos na vinha do Senhor talvez com a desculpa de que ninguém os convidou. O mundo moderno, com a beleza das conquistas da modernidade, apresenta-nos um cenário confrangedor a reclamar atitudes de intervenção. Como cristãos não podemos somente reagir a situações negativas. Teremos de pro-agir, ou seja, construir um mundo onde a fraternidade e justiça adquirem terreno. Quase sempre só lamentamos o sucedido; poucas vezes nos colocamos na primeira fila de quem acredita que urge agir a montante, ou seja, do lado da nascente, das causa que, deixadas livres, causam tantos problemas.
A Igreja não é um conjunto de pessoas amorfas. É um exército devidamente equipado e preparado para, com as qualidades de cada um, se enfrentar com a responsabilidade dum mundo de harmonia e concórdia.
Vocação e missão – eis as palavras mais faladas nos últimos tempos e tão longe do nosso compromisso pessoal e comunitário. Recuperemos o seu sentido e façamos tudo para que deixem de ser meras palavras.
4. Nesta Igreja Vocação-Missão tudo deve ter uma marca que as ordenações de hoje sublinham e estimulam. Trata-se de viver em permanente diaconia, ou seja, só o servir, a exemplo Cristo, justifica a vida dos cristãos como vocacionados. A nossa vocação é servir e a nossa missão não pode ter outra atitude.
Deveríamos ser serviço gratuito e universal, dum modo permanente e estável. O mundo de hoje não está habituado a este estilo. Com ele viveremos em contra-corrente e mostraremos a nossa originalidade. Cristo, o Servo por amor, caminha à nossa frente e teremos não só de o seguir mas de entrar n' Ele que é a Porta, a chave, dum sentido para a vida. Para isso não é suficiente ficar á porta como quem não ousa pretender uma plena identificação com Ele. Teremos de entrar pela porta para que “repitamos” um modo de ser homem que, para alguns, é anacrónico ou doutros tempos. Sabemos em que tempo vivemos. S. Pedro, no livro dos Actos, referia: “Salvai-vos desta geração perversa”. Não ser como a maioria não significa atitudes de superioridade mas a coragem de estar no essencial que consiste dar a vida para que os outros a tenham em abundância.
. Caríssimos jovens ordenantes, obrigado pela procura séria que realizastes para estar aqui hoje a assumir a resposta ao chamamento de Cristo que bateu à porta de cada um, chamou pelo vosso nome, caminha à vossa frente. Procurai, agora e sempre, entrar por essa porta. Sabeis o que vos rodeia. Não olheis para o lado ou para trás. Acreditai que os tempos modernos também necessitam estilos diferentes.
Às vossas comunidades e aos vossos pais asseguro a alegria de quem ofereceu algo de sublime para, por Cristo, tornar o mundo família de amor.
Que Cristo, Porta por onde entrais, vos seduza todos os dias para cear com Ele, juntamente com todo o presbitério, numa mesa que não exclui ninguém mas goza com o prazer de estar com os outros, para, em comum, tornar a família sacerdotal mais contemplativa e mais activa numa diaconia alicerçada numa espiritualidade séria e de verdadeira comunhão.
“Viste o que fiz? Faz tu também” (Jo.15,14). É chegada a hora de testemunhar que isto não só e possível mas obrigatório.
Sede a aurora dum presbitério que se renova na alegria do número mas na certeza duma qualidade de vida consagrada ao serviço. Assim o espero. Assim acontecerá.
Sameiro, 13.04.2008.
† D. Jorge Ortiga, A.P.