Homilia do bispo das Forças Armadas e de Segurança no Dia do Exército
1. Não é uma questão de geografia, o estar situado mais longe. Quem se acerca, torna próxima a distância. O Exército Português, pelas suas pessoas, veio até Bragança viver seu “Dia Nacional”. Numerosíssimos militares deste ramo, também da Marinha, da Força Aérea e das Forças de Segurança, tiveram a dita de nascer neste rincão transmontano, escolhendo o país como sua causa primeira. Há sempre razões de família para nos dessedentarmos na fonte!
Na pessoa das excelentíssimas autoridades civis, académicas, militares, policiais e eclesiásticas expresso os meus melhores cumprimentos mas, singularmente, em Sua Excelência O Chefe de Estado-Maior do Exército, saúdo todos os estimados militares na efetividade, na reserva e na reforma, os seus funcionários civis e Excelentíssimas Famílias, evocando, em concomitante, nos Excelentíssimos Vice-Chefes presentes, todos os camaradas de Marinha e da Força Aérea.
2. Em termos da verdade e da mudança dos ideais históricos, os “aristocratas” de excelência, são os mais pequenos, os mais desamparados, os mais doentes, sem nunca nos descuidarmos do respeito e do carinho, devidos aos demais membros da família, sãos e felizes.
De acordo com a Palavra de Deus, ouvida são eles: o imigrante, a viúva, o órfão, todos os pobres, os explorados pelos usuários, prefigurando o rosto profano do “Pai que está nos céus”, o Qual nos ofertou um “código de comando”: “Amarás o Senhor Teu Deus…” “amarás o teu próximo como a Ti mesmo”.
2.1. Guiados por esta referência, uma sociedade é desenvolvida quando, por decisões, provar que as pessoas mais indignificadas constituem o seu primeiro objetivo Um setor social onde o lucro é a preocupação mais valiosa, onde a repartição dos bens não é proporcional às enfermidades e aos encargos, e onde cada um dos seus membros é um simples objeto ou ideologia, este agregado social não é uma comunidade verdadeira nem uma instituição honrada.
Esta é a incumbência da Igreja e das demais instâncias, responsáveis por atribuir o maior sentido de humanização, por motivos de convicção de cultura profana e sacral, a esta caravana de homens e de mulheres, no decurso do seu deserto, traídos, tantas vezes, por suas cabeças de fila, por interesses intoxicantes, por indiferença e desprezo.
Uma ambiência humana que não promove mas congela, é um continente frio, arrefecendo motivações e julgando poder ser guia pela frieza e pelo império, o qual se não dá conta de que, desse modo, somos uma “quase humanidade ou significantes sem significado” (Emmanuel Lévinas). Ser-se sujeito não é ser-se objeto.
2.2. No seguimento do Concílio Vaticano II: “Cumpram-se antes de mais as exigências da justiça para que se não ofereça como solidariedade o que era e é devido a título de justiça” (Decreto sobre o Apostolado dos Leigos, n.º 8) A justiça devolve ao outro o que lhe pertence; a solidariedade partilha do que é seu.
3. O Exército Português, nas suas Mulheres e Homens, não são mais nem menos que os outros cidadãos. Nem privilegiados, nem seres tratados com menos cortesia, verdade e respeito. O mais importante são as pessoas e as suas vivências: a sua competência e legitimidade de aspirações, a dureza de sacrifícios, as deceções e o luminoso dos êxitos, a justiça do que se constrói e a miopia de quem olha, mas não repara, as mudanças sociais e culturais dos últimos longos anos, as cruzes pessoais, os sentimentos de honra e de rigor, uma carreira como expressão da personalidade. Desejam sê-lo e são construtores da Paz. A disciplina, a coragem, a organização, o saber e a sabedoria são as suas armas usuais. Ensinaram-lhe valores. Propuseram-lhe códigos de honra. Pediram-lhes aceitassem a missão como imperativa. Gosta-se destes irmãos. Mas, ao longo destes anos de meu serviço episcopal, por vezes, fico triste porque acho que não são amados. Desculpem. O País é amado por estas mulheres e homens. Oxalá que o amor seja mútuo, pela justiça e peça paz.
Bragança, 23 de outubro de 2011
D. Januário Torgal Mendes Ferreira
Ordinariato Castrense