Homilia do Bispo de Aveiro no Dia Mundial da Paz D. António Francisco dos Santos 01 de Janeiro de 2008, às 23:59 ... Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus Dia Mundial da Paz 1 de Janeiro de 2008 “Bem-aventurados os construtores da pazâ€(Mt.5,9) 1. Oito dias depois do Natal, a Igreja celebra a maternidade divina de Maria, a Mãe de Jesus, saudando-a com as palavras de IsaÃas: “Salvé, Santa mãe, que destes à luz o Rei do Céu e da Terraâ€. (cf. Is. 9,1) No inÃcio do tempo, no começo da vida, na génese da existência de cada pessoa e no percurso de toda a história humana, a Mãe tem sempre um lugar essencial e uma missão imprescindÃvel. Assim aconteceu com Maria, na vida de seu Filho, Jesus, o Filho de Deus. Assim acontece com Maria, na vida da Igreja desde o seu inÃcio e ao longo da sua história. Assim acontece com as nossas Mães, na vida de cada um de nós. Por isso rezamos desde o primeiro dia do Ano: “Senhor, nosso Deus, que pela virgindade fecunda de Maria SantÃssima, destes aos homens a Salvação eterna, fazei-nos sentir a intercessão daquela que nos trouxe o Autor da Vida†(Colecta da Liturgia EucarÃstica). O inÃcio e o decorrer do novo Ano, devem ser modelados por este jeito próprio de rezar, de olhar voltado para Maria, a Mãe de Deus. A oração confere à vida dos crentes uma densidade e um sentido que nada pode substituir. A oração é imprescindÃvel para que cada um de nós como pessoa, como famÃlia e como comunidade encontre a alegria e a paz ao longo de todo o tempo que um novo ano sempre anuncia. Convido as Comunidades cristãs, as Comunidades religiosas e os Santuários, a oferecer mais tempo e espaço à oração, à adoração e à contemplação. Sobretudo os Santuários, que na nossa Diocese são todos santuários marianos, devem proporcionar momentos de celebração de Reconciliação e de Eucaristia e espaços de acolhimento, de oração e de contemplação. Do diálogo entre Deus e Moisés, nessa bela forma de oração de que nos fala a primeira leitura, nasce a missão primeira de Moisés: abençoar o Povo de Israel, ensinando-o a invocar o nome de Deus. (Num. 6,22-27) Maria, Mãe de Jesus, é na nova Aliança, a bênção terna e materna que Deus nos dá. A bênção da plenitude dos tempos, referida por S. Paulo, na Carta aos Gálatas: “Deus enviou o seu Filho, nascido de uma Mulherâ€(Gál. 4,4). A partir de agora “já não somos escravos, mas sim filhos e herdeiros†(Gál. 4,7). Na sua oração contemplativa e na sua meditação silenciosa, Maria guardava, no seu coração de Mãe, este singular mistério da sua maternidade divina e este sagrado milagre da nossa filiação divina. (cf. Lc. 2,19). Maria, Mãe de Deus, figura da Igreja e mestra da fé, continua hoje a ensinar “à s multidões as verdades eternas e a arte de orar, crer e amar.†(Bento XVI, mensagem da Visita ad Limina). 2. Tem toda a oportunidade e sentido, neste primeiro dia de 2008, invocar Maria, Mãe de Deus, como estrela da esperança, a estrela do mar. São de Bento XVI, na recente EncÃclica Spe Salvi – Salvos pela Esperança, as seguintes palavras: “Com um hino do século VIII/IX, portanto com mais de mil anos, a Igreja saúda Maria, a Mãe de Deus, como « estrela do mar »: Ave maris stella. A vida humana é um caminho. Rumo a qual meta? Como achamos o itinerário a seguir? A vida é como uma viagem no mar da história, com frequência enevoada e tempestuosa, uma viagem na qual perscrutamos os astros que nos indicam a rota. As verdadeiras estrelas da nossa vida são as pessoas que souberam viver com rectidão. Elas são luzes de esperança. Certamente, Jesus Cristo é a luz por antonomásia, o sol erguido sobre todas as trevas da história. Mas, para chegar até Ele precisamos também de luzes vizinhas, de pessoas que dão luz recebida da luz d'Ele e oferecem, assim, orientação para a nossa travessia. E quem mais do que Maria poderia ser para nós estrela de esperança? Ela que, pelo seu « sim », abriu ao próprio Deus a porta do nosso mundo; Ela que Se tornou a Arca da Aliança viva, onde Deus Se fez carne, tornou-Se um de nós e estabeleceu a sua tenda no meio de nós (cf. Jo 1,14).†(Spe Salvi, n.º49). Confiamos a Maria, Mãe de Deus, esta travessia da história e esta viagem no tempo que é a nossa vida e a vida e missão da Igreja Diocesana de Aveiro. 2 Sejamos fiéis ao nosso plano pastoral que nos propõe caminhos novos e sugere gestos criativos no serviço aos pobres e nos impele a realizarmos esforços perseverantes de comunhão e de formação de toda a Comunidade Diocesana Os pobres, os sem-abrigo, e todos os que não têm casa, pão, saúde, liberdade ou famÃlia merecem-nos, ao longo deste ano que agora começa e sempre, uma solicitude mais atenta. Procurei passar com alguns destes grupos momentos importantes do tempo de Natal e mais urgente senti o trabalho pastoral a realizar junto deles e com eles. Somos convidados a viver um Ano dedicado a S. Paulo imprimindo o espÃrito e o carisma das suas viagens apostólicas em cada visita pastoral a realizar desde a próxima semana à s comunidades da Diocese, chamando-nos a todos, no amanhecer de cada dia, para a urgência da missão. Procuremos ser uma Igreja de discÃpulos, de apóstolos e de missionários. A Jornada Mundial da Juventude e o SÃnodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus serão para a Igreja Universal dois marcos relevantes do Ano que hoje começa. Sê-lo-ão também para a nossa Diocese. 3. Nunca uma travessia na história, uma viagem no tempo, um rumo de esperança na vida se podem realizar isoladamente, com marcas de individualismos relativistas ou de visões culturais redutoras. Nós somos uma famÃlia humana; constituÃmos uma só comunidade (cf. Nostra aetate, 1); “percorremos todos um mesmo caminho como irmãos e irmãsâ€(M. 6). Neste Dia Mundial da Paz, o Santo Padre, Bento XVI, envia-nos uma mensagem com o tema: “FamÃlia Humana, a comunidade de paz.†Daà retiro oportunos ensinamentos que esta mensagem nos oferece: A famÃlia constitui o “lugar primário da humanização da pessoa e da sociedade, o berço da vida e do amor… e é igualmente a primeira e insubstituÃvel educadora para a pazâ€, diz-nos o Santo Padre. (Mensagem 2008, n.º1,2,3). Os gestos, os olhares, as palavras de uma famÃlia “sã†estruturam a melhor gramática da paz e são a principal “agência de pazâ€. (id. n.º3,4,5). Uma sociedade que não entenda, não respeite ou não ajude a “famÃlia nestes campos priva-se de um recurso essencial ao serviço da pazâ€(id. n.º5). O cuidado com o ambiente, casa da famÃlia humana, impõe respeito pelo equilÃbrio ecológico, atenção maior aos pobres e aos “excluÃdos do destino universal dos bens da criação.†3 Por seu lado a integração no património da famÃlia não só dos bens materiais necessários mas também dos valores essenciais que configuram a vida e das normas jurÃdicas e morais que a alicerçam, revela-nos que a paz não se inventa, não se improvisa, não se adivinha nem se impõe. A paz educa-se e edifica-se, implora-se e merece-se. “Ser pacÃfico e construtor da paz é uma das bem-aventuranças do Reino†(Mt. 5,9). Andamos todos tão preocupados com a paz! E esquecemos tão facilmente que a famÃlia é o seu habitat natural, a sua escola permanente, o seu ambiente propÃcio, o seu fundamento necessário. Pretender promover a paz e o progresso e desamparar a famÃlia humana é um contrasenso e um paradoxo. A sociedade civil e o Estado não podem esquecer esta realidade nem menosprezar o esforço da Igreja no serviço da famÃlia nas suas mais diversas vertentes e concretamente como educadora da paz das consciências, da harmonia dos esposos, do encontro de gerações, da comunhão entre pais e filhos e do equilÃbrio social. Valorizemos a famÃlia humana, nos seus princÃpios essenciais, nos seus fundamentos indestrutÃveis, nos seus valores cristãos e construiremos a paz no coração humano e na comunidade humana. Que Nossa Senhora, estrela da esperança e rainha da paz, nos ilumine ao longo de cada dia deste novo ano com a luz do Seu exemplo, com a paz da Sua presença e com a doçura da Sua bondade. Um feliz e abençoado Ano Novo. + António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro Diocese de Aveiro Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...