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Homilia do bispo de Bragança-Miranda na missa dos 25 anos da paróquia de São Tiago, Bragança

D. José Manuel Garcia Cordeiro
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«Sem o Domingo não podemos viver»

25 anos da Paróquia de S. Tiago – Bragança

04.12.2011

 

Ex.cia Rev.ma D. António José Rafael
Cón. Adelino Paes, Dig.mo Vigário Geral
Pe. José Carlos Martins, Dig.mo Pároco
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Bragança

Caros Irmãos e Irmãs

 

1. Início do Evangelho de Jesus Cristo. Início de uma Boa notícia, ou melhor, início da alegre notícia – Jesus é o Cristo, o Filho de Deus.

Celebrar as bodas de Prata da criação desta Paróquia de S. Tiago é tempo oportuno para recomeçar. Recomeçar de que coisa? De uma Boa notícia. Não podemos recomeçar do pessimismo, dos problemas, da ilusão. Nós recomeçamos sempre das boas notícias de Deus. Hoje somo convidados à continuidade na novidade. A continuidade e a novidade não se contrapõem. A continuidade não é mera repetição e a novidade não é nenhuma rotura. Queremos viver na continuidade dinâmica para a renovação constante do coração e da Igreja no seguimento do seu único Senhor. Queremos escutar a Esperança.

 

2. Esta comunidade está sob a proteção de S, Tiago. Isto interpela-nos a sermos pessoas que estão em estado permanente de peregrinação. O homem cristão está sempre em viagem, isto é, sempre à procura. O caminho de S. Tiago pode ser a metáfora da nossa vida e da relação com Cristo.

«Sine dominico non possumus!» Sem o Domingo do Senhor, sem o Dia do Senhor não podemos viver: assim responderam no ano 304 alguns cristãos de Abitinia, atual Tunísia, quando, surpreendidos na celebração eucarística dominical, que estava proibida. Eles foram conduzidos ante o juiz, que lhe perguntou por que, no Domingo, haviam celebrado a função religiosa cristã, sabendo que isso implicava castigo de morte. «Sine dominico non possumus». Não há paróquia sem Domingo nem Domingo sem paróquia.

A palavra Paroikía significa estar entre as casas. Mais tarde, com a influência do cristianismo, o termo assumiu um significado ‘místico’, e por isso, se passou a entender como o peregrino, aquele que reside em situação de “estrangeiro”, longe da própria casa. «Toda a terra estrangeira é sua pátria e toda a pátria lhes é estrangeira»(1). A paróquia é a Igreja na sua tradução espacial e quotidiana.

«As paróquias representam, de algum modo, a Igreja visível estabelecida em todo o mundo. Por consequência, deve cultivar-se no espírito e no modo de agir dos fiéis e dos sacerdotes a vida litúrgica da paróquia e a sua relação com o Bispo, e trabalhar para que floresça o sentido da comunidade paroquial, especialmente na celebração comunitária da missa dominical»(2).

 

3. Nos inícios, a Igreja edificou-se à volta da Cátedra do Bispo e com a expansão das comunidades multiplicaram-se as Dioceses. Quando o cristianismo se difundiu nas aldeias, aquelas porções do povo de Deus foram confiadas aos Presbíteros. A Igreja pode assim aproximar-se das casas das pessoas, sem quebrar a unidade da Diocese à volta do Bispo e do único Presbitério com ele. A Paróquia, sendo uma opção histórica e pastoral da Igreja, não é apenas uma circunscrição administrativa e repartição funcional da Diocese, mas é a forma histórica privilegiada da localização da Igreja particular. A paróquia é «o núcleo fundamental na vida quotidiana da Diocese»(3). A Paróquia deve ser uma casa aberta à Esperança. Esta igreja é chamada a ser a casa de Deus na cidade dos homens, cuja referência matriz é a igreja Catedral (Domus Ecclesiae) para a cidade de Bragança e para a Diocese de Bragança-Miranda. E, amanhã queremos iniciar um tempo novo na Catedral. Será com os jovens e juntamente com eles queremos escutar a Esperança no 1º encontro de Lectio Divina.

Por isso, a Igreja pede que o pároco, como o Bom e Belo Pastor: «esforce-se por conhecer os fiéis confiados ao seu cuidado; para isso, visite as suas famílias, partilhando sobretudo das suas preocupações, angústias e lutos e confortando-os no Senhor e, se tiverem faltado em quaisquer pontos, corrija-os prudentemente; auxilie com grande caridade os doentes, particularmente os que estão próximos da morte, confortando-os solicitamente com os sacramentos e encomendando a Deus as suas almas; acompanhe com peculiar diligência os pobres, os aflitos, os solitários e os emigrantes e os que padecem dificuldades especiais; trabalhe ainda por que os cônjuges e os pais perseverem no cumprimento dos próprios deveres, e fomente o incremento da vida cristã na família»(4).

«A comunhão eclesial, embora possua sempre uma dimensão universal, encontra a sua expressão mais imediata e visível na Paróquia: esta é a última localização da Igreja; é, em certo sentido, a própria Igreja que vive no meio das casas dos seus filhos e das suas filhas»(5). A Igreja não é um movimento, mas uma comunidade que reúne todos os crentes em Cristo sem distinção, para que todos celebrem a sua fé, esperança e caridade. A paróquia é a célula base da Igreja, não é apenas uma divisão administrativa da Diocese, mas um espaço eclesial na qual a Igreja se dá como o todo no fragmento.

A Paróquia é gerada pela Eucaristia, sobretudo no dia do Senhor (momento constitutivo da vida paroquial – bilhete de identidade da paróquia); ela gera os filhos para a fé e para a vida eclesial através da Iniciação cristã; cresce na sua força missionária porque está animada por uma experiência de comunhão que investe todo o seu trabalho educativo e pastoral.

As paróquias devem ser casas que sabem acolher e escutar medos e esperanças das pessoas, perguntas e angústias e que sabem oferecer um corajoso testemunho e um anúncio credível da verdade, que é Cristo. O acolhimento cordial e gratuito é a condição primeira da evangelização tão antiga e sempre nova.

A Igreja presente na Diocese de Bragança-Miranda precisa de novos evangelizadores para a Nova evangelização ou reevangelização. «A nova evangelização, dirigida, não apenas aos indivíduos mas a inteiras faixas de população, nas suas diversas situações, ambientes e culturas, tem por fim formar comunidades eclesiais amadurecidas, onde, a fé desabroche e realize todo o seu significado originário de adesão à pessoa de Cristo e ao Seu Evangelho, de encontro e de comunhão sacramental com Ele, de existência vivida na caridade e no serviço»(6).

 

+ José Cordeiro

 

(1) Carta a Diogneto 5,5.
(2) SC 42.
(3) J. PAULO II, Pastores Gregis 45.
(4) CIC, Cân. 529§1.
(5) J. PAULO II; Christifideles laici 26.
(6) J. PAULO II; Christifideles laici 34.



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