Homilia do Bispo de Lamego na Missa Crismal D. Jacinto Tomás Botelho 24 de Março de 2005, às 12:33 ... Uma existência salva para salvar Perdura em nós, muito vivo ainda nas recordações dos olhos, dos ouvidos, de todo o nosso ser, o júbilo vivido nesta Catedral no passado sábado, com a Ordenação Episcopal do Senhor D. António Francisco dos Santos. Nesta mesma hora e num Pontifical idêntico na Sé Primacial, dá entrada oficial na Arquidiocese de Braga. Nunca a Eucaristia se confina aos limites do local da sua celebração. Ela tem uma dimensão verdadeiramente cósmica, mais que universal. Queremos sentir hoje de modo particular esta certeza e comungar também os sentimentos do novo Bispo Auxiliar de Braga a quem continuam a ligar-nos laços porventura mais estreitos de profunda solidariedade e comunhão. Quando ontem à noite me telefonava, ao chegar à nova residência, pedia-me para vos transmitir a todos, irmãos sacerdotes, um abraço de profunda gratidão. É expressiva a reunião do Presbitério com o Bispo neste Pontifical Crismal, que revigora a consciência da nossa identidade sacerdotal e torna palpável a relação de fraternidade entre nós, os padres. Com este objectivo, envia-nos o Santo Padre a habitual Carta, este ano escrita da ClÃnica Gemelli, onde Sua Santidade esteve nos últimos dias, por duas vezes internado, continuando no Vaticano impossibilitado de participar fisicamente nas cerimónias da Semana Santa. A circunstância delicada da sua redacção amplia o carinho do Papa por cada sacerdote, a cujo magistério deve corresponder uma adesão incondicional e a frequência da nossa oração pelas suas intenções e pela sua vida, tão frágil, mas igualmente tão preciosa. No Ano da Eucaristia oferece-nos João Paulo II uma meditação sobre as palavras que pronunciamos com todo o fervor no momento da consagração, ao celebrarmos a Santa Missa. Ela constitui uma verdadeira proposta de itinerário para a existência e o comportamento que deveremos testemunhar no exercÃcio da caridade pastoral. A primeira atitude que a reflexão de Sua Santidade nos sugere é a de Acção de Graças, a fazer do nosso viver sacerdotal “uma existência profundamente «agradecida»â€, o que supõe uma grande sensibilidade e permanente atenção à benemerência das graças que o Senhor continuamente nos prodigaliza que só uma profunda interioridade consegue descobrir. Neste espÃrito, é o momento para voltarmos a agradecer ao Senhor a ordenação episcopal do Senhor D. António, e os dois novos sacerdotes, o P. HermÃnio e o P. Marcos, que a partir de Julho enriquecem o nosso presbitério. A hora é jubilar e temos igualmente de manifestar a nossa gratidão para com Deus, pela fidelidade dos 50 anos de vida sacerdotal dos Padres Filipe Gonçalves da Fonseca e Mons. Manuel Vieira Pinto, e pelos 25 anos do Padre José Augusto Rodrigues Cardoso. A vida do Padre é “uma existência «doada»â€, lembra-nos de imediato Sua Santidade. O «tomai e comei» e «tomai e bebei» que os nossos lábios pronunciam, repetindo as palavras de Jesus na última Ceia, a antecipar sacramentalmente o Dom supremo de Si mesmo, no alto da Cruz, amor até ao limite, foi precedido do gesto do lava-pedes, paradigmático do proceder dos apóstolos de todos os tempos: Dei-vos o exemplo, para que como eu fiz, façais vós também. Com esta atitude torna-se o próprio sacerdote beneficiário da salvação que distribui a todos os homens e ao homem todo. A sua existência é “uma existência «salva» para salvarâ€. Só com esta consciência, de que nós, os sacerdotes somos “os primeiros cujo Ãntimo é alcançado pela graçaâ€, libertando-nos empenhadamente das fragilidades que vão aparecendo na nossa vida, é que nos tornaremos “arautos credÃveis da salvaçãoâ€. Sublinhando que a existência do padre é “uma existência «evocativa» - Fazei isto em memória de mim – adverte-nos o Papa: ao repetir na celebração in persona Christi as palavras do memorial, “num tempo de rápidas mudanças culturais e sociais que afrouxam o sentimento da tradição†com o “risco de perder as ligações com as próprias raÃzesâ€, “o sacerdote é chamado a ser, na comunidade que lhe foi confiada, o homem com a memória fiel de Cristo e de todo o seu mistérioâ€. Aquele que “faz pensar Deusâ€. Também nesta memória, centrada em Cristo e na Sua Palavra, desejamos evocar os nossos irmãos que no último ano consumaram o seu sacerdócio, cujas almas sufragamos: P. Urbelino, Mons. Agostinho, Mons. Américo, P. Jorge, Mons. IlÃdio e P. Fausto, bem como o C. Acácio Branco, o P.António Santos Silva e o P. Donaciano que no presente ano celebrariam as Bodas de Ouro sacerdotais, e recordar também o Pai do P. LuÃs Ribeiro da Silva, falecido há oito dias. Ao anunciar ao Povo de Deus depois da consagração o mistério presente no altar, a realidade eminentemente sagrada, o sacerdote deverá meditar que o seu viver, é “uma existência «consagradaȠque a fervorosa piedade eucarÃstica, manifestada no próprio modo recolhido de celebrar e na prolongada adoração do SantÃssimo Sacramento, garante e consolida. Quem dera que as nossas solidões sacerdotais fossem sempre superadas com a permanência diante desta Presença que dá calor, alegria e sentido à nossa vida, comenta o Santo Padre. A esta Presença confiamos o ministério particularmente fecundo dos nossos irmãos que o exercem através da provação da doença ou da convalescença: Mons. VerÃssimo, Mons. Bento da Guia, Mons. Vieira, Mons. Cardoso, C. Duarte Júnior, C. Clara Ângelo, C. Sousa Pinto, P. Joaquim Sobral, P. Antonino, P. LuÃs Teixeira e a Mãe do Senhor D. António. Com “uma existência voltada para Cristoâ€, os sacerdotes devem revelá-Lo, a quantos deles se aproximam com esperança de «ver» neles — os sacerdotes — Cristo, sobretudo os jovens que se sentirão estimulados a fazer a opção pela mesma aventura. “Não hão-de certamente faltar as vocações, se subirmos de tom a nossa vida sacerdotal, se formos mais santos, mais alegres, se nos mostrarmos mais apaixonados no exercÃcio do nosso ministério†— desafia-nos Sua Santidade. Deve ser esta a preocupação a animar o nosso trabalho de pastores, por isso mesmo um trabalho sempre de conjunto e de comunhão. Está praticamente concluÃda a escolha dos novos arciprestes, seguindo quanto possÃvel a indicação que me foi dada e cujo decreto de nomeação aparecerá a seguir à Páscoa. O trabalho pastoral que realizarmos será tanto mais autêntico e eficaz quanto mais esforçadamente for expressão da nossa fraternidade no presbitério que o espaço geográfico do arciprestado há-de fomentar. E o Santo Padre conclui a sua carta com o jeito revelador da sua profunda espiritualidade: A vida do sacerdote é “uma existência «eucarÃstica» na escola de Mariaâ€. Não podemos limitar-nos a considerar esta piedade mariana mais ou menos facultativa ou até desejável, para crescermos na santidade. Ela é estruturante do nosso ser sacerdotal. “Ninguém pode, como Ela, ensinar-nos com quanto fervor devemos celebrar os santos Mistérios e deter-nos em companhia do Seu Filho escondido sob as espécies eucarÃsticas.†Por isso, como o faz Sua Santidade, também a esta Mãe fidelÃssima, vos entrego a todos, queridos sacerdotes da Diocese, muito especialmente os que se encontrem porventura numa hora de crise ou dificuldade, e como ele, manifesto-vos que neste Ano da Eucaristia “me apraz também fazer ressoar para cada um de vós a doce e reconfortante declaração de Jesus: «Eis a tua Mãe»â€. Só a Eucaristia manterá vivo o EspÃrito que nos ungiu para anunciarmos a Boa Nova aos pobres; só ela também actualizará em cada dia sacerdotal os compromissos que já a seguir vamos renovar. Semana Santa Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...