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Homília do bispo de Santarém na Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus. Dia Mundial da Paz

D. Manuel Pelino
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1.Preparar um futuro melhor

Na Eucaristia do primeiro dia do ano pedimos a Deus a bênção para o Ano Novo. Nesta altura todos formulamos uns aos outros votos de um ano novo feliz. Acreditamos, porém, que a ventura do ano não vem só dos nossos desejos ou esforços mas também da bênção de Deus que, como diz o salmo desta celebração, “governa os povos e as nações sobre a terra”. Por isso invocamos a Sua misericórdia e pedimos que nos acompanhe com a sua bondade e a sua luz: “Deus se compadeça de nós e nos dê a sua bênção, resplandeça sobre nós a luz do seu rosto”.

O próximo ano 2012 apresenta-se com algumas nuvens negras. O ambiente de crise gera desânimo e apreensão. Que atitude devemos tomar perante o novo ano? A fé convida-nos a adotar uma atitude de confiança e de responsabilidade. O futuro pertence a Deus. Fortalecidos pela fé e pela esperança e recorrendo à nossa capacidade de sacrifício podemos construir um futuro melhor de justiça, de solidariedade e de paz.

Em cada ano que inicia esperamos sempre dar mais um passo no crescimento e progredir mesmo quando a situação económica e social se apresenta pouco animadora. Sabemos que iremos ter mais impostos, mais desemprego, desigualdades mais gritantes. Porém o desenvolvimento da humanidade não pode ser entendido apenas como crescimento económico. O verdadeiro desenvolvimento diz respeito à totalidade da pessoa. Como aliás todos reconhecem, a crise económica está associada a uma crise mais profunda e global: ética, humana, social. Tem a ver com individualismo fechado em que caímos, com o consumismo desenfreado, com a sede de lucro fácil, com o relativismo moral, com a dependência da superficialidade e das modas. Por isso crescer no desenvolvimento é também passar do individualismo à solidariedade, do consumismo à sobriedade e à partilha, do dogmatismo dos nossos pontos de vista ao diálogo. Temos muitos passos a dar, há muitas dimensões em que devemos crescer.

Faz pois sentido desejar um ano melhor, empenharmo-nos por construir um futuro de maior entendimento, de justiça e paz, de sabedoria mais profunda. Nessa perspetiva um novo ano é um convite a fazer uma avaliação do nosso estilo de vida e entender as dificuldades do atual momento como um desafio para preparar um futuro melhor. Teremos de fazer alguns acertos e enfrentar alguns sacrifícios em ordem a preparar um futuro mais promissor para as novas gerações. Não podemos olhar só para o presente, para o imediato e esquecermos o longo prazo, as condições que deixamos às gerações futuras.

 

2. Os jovens, uma nova esperança para o mundo

É sobre os jovens e o futuro que nos fala o santo Padre na sua mensagem para o dia mundial da paz neste Ano Novo de 2012. De facto, o Papa Bento XVI dirige-se de modo especial aos jovens, “convencido de que eles podem, com o seu entusiasmo e idealismo, oferecer uma nova esperança ao mundo”. Convida, nesse sentido, os pais, famílias, e todas as componentes educativas e formadoras a prestar atenção ao mundo juvenil, a saber escutá-lo e valorizá-lo para a construção de um futuro de justiça e de paz. A Mensagem tem como título: “Educar os jovens para a justiça e para a paz” e oferece considerações muito profundas e oportunas sobre os problemas e preocupações juvenis, sobre educação e educadores e, naturalmente, sobre os pressupostos e os conceitos de justiça e de paz. É uma mensagem que se lê com gosto e grande proveito pois apresenta propostas oportunas para sanar as raízes da crise e progredir na justiça e na paz.

Com a clareza e a solidez a que nos habituou, Bento XVI convida-nos a repensar a forma como estamos a educar. De modo geral, a preocupação educativa é transmitir competências ou conhecimentos, comunicar regras de vida. Indo à raiz da palavra Bento XVI chama a atenção para a linha de fundo ou base da educação: Educar é conduzir para fora de si mesmo, ao encontro da realidade, rumo ao pleno desenvolvimento. Simples mas muito importante. De que vale ter acesso a grandes conhecimentos se, depois, as pessoas vivem fechadas no seu individualismo, alheias e indiferentes aos outros?

 

3. Horizonte para construir um futuro melhor

O Papa enfrenta questões muito atuais relacionadas como a questão da verdade e o relativismo, o mau entendimento e o mau uso da liberdade. E convida-nos a todos, de modo especial aos jovens, a ser construtores da verdadeira justiça sempre associada à caridade e à solidariedade e a construir a paz no seu sentido profundo de harmonia, de reconciliação. A verdadeira paz é fruto da justiça e efeito da caridade. O perfil do construtor da justiça e da paz é caracterizado pela compaixão, pela colaboração, pela fraternidade e pela participação ativa na construção da sociedade.

Temos assim nas leituras desta celebração e na mensagem do Papa um horizonte estimulante para desejar e construir um futuro melhor. O Papa conclui com o convite a levantar os olhos para Deus. Idêntica recomendação nos fazem as leituras desta Missa em que imploramos a bênção de Deus, retomando uma tradição do Antigo Testamento: “O Senhor te abençoe e te proteja, o Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz”.

Na quadra litúrgica do Natal que estamos a viver São Paulo recorda-nos que Deus nos enviou o Seu Filho, nascido de uma mulher, para nos tornar filhos adotivos e herdeiros da sua graça. Hoje recordamos especialmente aquela que o gerou e deu à luz, Santa Maria Mãe de Deus. Pela maternidade da Virgem, Deus tornou-se presente no meio de nós e propõe-nos com o seu exemplo outra dimensão em que devemos crescer continuamente: a vida espiritual assente na meditação dos desígnios de Deus. Maria Mãe de Deus e mãe dos homens é também para nós uma fonte de bênçãos e de proteção. Confiemos à sua proteção o novo ano 2012. Que a Rainha da paz nos acompanhe e ajude a construir a paz.

D. Manuel Pelino Domingues, bispo de Santarém



Diocese de Santarém