Homilia do bispo de Viseu na Dedicação da Catedral
1ª Ordenação de Diáconos Permanentes
Este dia – 23 de julho que antecipámos em Eucaristia Vespertina – é um dia novo, um dia de alegria e de ação de graças ao Senhor Jesus, um dia que ficará na história da nossa diocese, a marcar todo o nosso futuro de Comunidade cristã e de Povo de Deus. Celebramos os 496 anos de Dedicação desta nossa Catedral e, pela 1ª vez nos 1440 anos conhecidos de história da nossa diocese, ordenamos 10 homens casados, em ordem ao serviço na nossa Igreja.
É de recordar, hoje e aqui, aquela tão feliz decisão e de clara inspiração divina que levou os Padres do Concílio Vaticano II, há quase 50 anos, a restaurar o diaconado permanente, na Constituição sobre a Igreja – Lumen Gentium – aprovada em novembro de 1964. Diz o nº 29: “Em grau inferior da hierarquia estão os diáconos, aos quais foram impostas as mãos «não em ordem ao sacerdócio mas ao ministério». Pois que, fortalecidos com a graça sacramental, servem o Povo de Deus em união com o bispo e o seu presbitério, no ministério da Liturgia, da Palavra e da caridade. (…) Lembrem-se os diáconos da recomendação de S. Policarpo: «misericordiosos e diligentes, procedam em harmonia com a verdade do Senhor, que se fez servidor de todos». Como porém, estes ofícios, muito necessários para a vida da Igreja na disciplina atual da Igreja latina (1964), dificilmente podem ser exercidos, o diaconado poderá ser, para o futuro, restaurado como grau próprio e permanente da Hierarquia”. É o que hoje acontece em Viseu, 48 anos depois de ser restaurado.
Quero saudar, felicitar e acolher, com muita fraternidade e alegria, no grau diaconal do Sacramento da Ordem, os caríssimos amigos: António Beato, de Moledo, Mões; António Lima Paiva, de Pinho, S. Pedro do Sul; António Monteiro, de Sabugosa, Tondela; Carlos Alexandre, de S. Salvador, Viseu; Felisberto Figueiredo, de Canas de Santa Maria, Tondela; Hélio Domingues, de Canas de Santa Maria, Tondela; João Francisco Morais, de S. Pedro do Sul; João Pinto, de Silgueiros, 2º Rural; Joaquim Cardoso, de Vilar, Besteiros; Manuel Vaz, de Mangualde. Quero saudar as vossas Esposas. Também elas participam, muito fortemente, deste momento e deste Sacramento. Quero cumprimentar os vossos Párocos, Paróquias e Arciprestados. Quero agradecer aos que vos ajudaram a formar e conduziram essa formação, quer na vertente doutrinal e pastoral, como na vertente humana e espiritual. A todos os formadores, nas pessoas do Pe. Mário Dias e do Pe. Manuel Barranha, um sincero e sentido obrigado, em nome de toda a Diocese.
De vós, caríssimos Ordinandos e de forma muito especialíssima, fala S. Paulo na 2ª leitura, quando nos diz: “Já não sois estrangeiros nem hóspedes, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus. Sois o edifício construído (…) que tem Cristo como pedra angular… Também vós sois integrados na construção, para vos tornardes, no Espírito Santo, morada de Deus”. Celebrando a Dedicação deste Templo e saudando o Deão e o Cabido desta Catedral da nossa Diocese, S. Paulo dirige-se a todos os cristãos e, de forma especial, àqueles que são a expressão do ‘Templo santo do Senhor’.
Os edifícios construídos e dedicados a Deus para as celebrações da Igreja, como esta Catedral, são-no para que a Palavra de Deus seja proclamada em ordem à conversão, como nos descreve tão bem a 1ª leitura, numa Evangelização que leve à Eucaristia, para iluminar e alimentar a coerência da vida. Estar e viver nos edifícios construídos para as celebrações sagradas não é a vocação dos cristãos, concretamente dos Diáconos Permanentes e muito menos dos leigos. A estes edifícios vai-se para se escutar o Senhor e para se partir em missão. Nestes edifícios ouve-se a Palavra e celebra-se a vida para que esta tenha sentido e dê sentido a todo o ser, fazer e viver, no concreto da vocação e missão de cada um. Ao Templo, vós, como Diáconos, trazeis a vida ao Altar para, consagrando-vos a Cristo imolado no Altar, leveis o Altar para a vossa vida.
Sois, assim, não um edifício de pedras mortas, mas um edifício construído em Cristo, templo e morada de Deus, que leva a Palavra, a Vida e a Graça do próprio Cristo, a todos os que dele precisam. Caríssimos Ordinandos: vós e todos os que hoje vos acompanham, dada a novidade do vosso ministério, podereis perguntar – qual o específico da missão do Diácono? Trata-se de participar do Sacramento da Ordem e de manifestar Cristo como servidor, no diaconado. A especificidade da vossa missão é o próprio Cristo Quem a dá, quando refere: ”… o que for maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve. (…) Eu estou no meio de vós como aquele que serve (= como um diácono) (Lc 22, 26-27). Jesus ensina e avisa que veio para servir e não para ser servido…
Caríssimos Ordinandos, a vossa vocação específica, seja qual for a contribuição concreta que a Igreja vos peça, nas vossas comunidades paroquiais, arciprestados ou diocese, é o serviço. Seja o serviço da Palavra divina ou a ação sócio-caritativa ou administrativa; seja o âmbito litúrgico e sacramental; seja o serviço à cultura ou à família; seja a vossa presença no vasto mundo social e profissional… Nada disto é secundário às vossas atribuições, muito pelo contrário. Em tudo isto, tendes lugar próprio e atribuições específicas, variando certamente com as disponibilidades e urgências de cada tempo e lugar.
Iremos acolher outros que, depois de vós e com o vosso testemunho, exemplo e serviço possam também querer seguir Jesus Cristo servo, neste ministério concreto do diaconado. Os candidatos a propor hão de ser, antes de mais e acima de tudo, aqueles que na comunidade cristã já se distingam pelo espírito de serviço e, de entre todos, os mais humildes, os mais prontos e disponíveis, os mais capazes e propensos a responder à necessidade dos pobres de todas as pobrezas e às maiores urgências de dentro e de fora da Igreja. Para serdes assim, Cristo dá a graça sacramental que ides hoje receber.
Vivei e testemunhai o Evangelho e os gestos de Jesus no nosso mundo carente e na hora de prova que vivemos. Que a vossa vida e o vosso testemunho leve muitos a querer ver Jesus e que, conhecendo-vos, escutando-vos e vendo o vosso agir, determinem a mudança radical de vida, como Zaqueu. Que a verdade, a justiça, a solidariedade e a partilha sejam as vossas opções de vida e as atitudes escolhidas e os pobres, os doentes e todos os que precisam de salvação, sejam a predileção do vosso serviço. Que Jesus Cristo – servo, pobre e cheio de compaixão por todos os que precisam – seja o modelo da vossa diaconia no anúncio e no serviço do Evangelho, em comunhão com toda a Igreja. AMEN! ALELUIA!
Diocese de Viseu