«Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos». O Evangelho termina com um juízo muito crítico ao discipulado dos Apóstolos, depois de terem andado 3 anos com Jesus e de esta ser a Verdade fundamental – o ponto de chegada e a síntese da Boa Nova do Senhor.
Porém, não nos admiremos da incredulidade dos Apóstolos! … Nem da incredulidade das pessoas de hoje que nunca partilharam nem experimentaram privar com Jesus Cristo Ressuscitado, na Palavra da Escritura, na Eucaristia e na oração, como oportunidades de celebração da Páscoa e de encontro feliz com o Senhor. Ninguém deve ser colocado à margem ou olhado como “de fora” por não partilhar a mesma Fé e por não praticar nem ver nem seguir os mesmos “sinais” que a Igreja, a educação religiosa e a Tradição nos ensinam…
Os Apóstolos – e tantos outros, ainda hoje – não entenderam a Escritura, “segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos”… Por isso, que bela surpresa a deles, quando O viram e Lhe tocaram e O ouviram e comeram com Ele e O reconheceram ao partir o Pão!...
Por outro lado, nós, que sabemos tão bem a história descrita nos Actos dos Apóstolos, experimentada por Pedro e ouvida, por nós, tantas vezes!... Nós, que sabemos todo o bem que Jesus fez e faz!... Nós, que nos alimentamos da Eucaristia – o alimento que Ele próprio nos dá como Pão da Vida! … Nós, que nos apresentamos como testemunhas de tanta coisa que fomos aprendendo na Catequese e na Igreja!... Quem de nós já entendeu a Escritura, vive segundo os valores do Ressuscitado e O torna referência obrigatória, na vida e nos critérios que a orientam?...
Olhemos a 2ª leitura de S. Paulo aos Colossenses!... S. Paulo é, aqui, o nosso juiz, pois não dá alternativas à autenticidade e verdade da nossa Fé em Jesus Cristo. Ele, numa afirmação condicionada pela verdade e coerência da nossa opção, diz-nos: “se ressuscitastes com Cristo”… Será mesmo que sim?... Será mesmo que entendemos a Escritura e a nossa Fé se exprime numa relação – com Jesus e com a Igreja, com o mundo e com os homens?... Será mesmo que a nossa vida cristã é credível, séria, consciente e verdadeira, assumindo todas as suas consequências?...
Se isto é verdade, se estamos ressuscitados com Cristo, desde o nosso Baptismo, surge a coerência de um imperativo ético e moral: “aspirai às coisas do alto”… E, ainda: “Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra”. Uma bela proposta para exame de consciência pascal da nossa Fé e da nossa vida cristã… Quer isto dizer que toda a nossa vida ou é lida pela “chave” da Ressurreição ou é lida pela “chave” terrena…
São diferentes as consequências e os efeitos de uma e de outra forma de viver… Será que a nossa vida tem a marca que vem do alto ou a que vem da terra?... A “da terra” é de horizontes limitados, sempre relativos e procura o que vê e sente possível neste mundo; a “do alto” projecta-nos para a Esperança e para o Amor, valores que devem estar presentes na construção da vida e da cidade terrena.
Não é fácil viver e anunciar a Páscoa e “as coisas do alto” às pessoas que vivem a mentalidade e a cultura reinantes, ensinadas e defendidas no mundo de hoje. Porém, foi fácil aos Apóstolos e à Igreja dos primeiros tempos acreditar na Páscoa de Jesus?... Mais: foi fácil a Jesus Cristo viver a Sua Páscoa, percorrendo todas as etapas do Seu Mistério Pascal?... A Páscoa inclui a morte e só se consegue na transformação operada no nosso interior e a partir de nós próprios, tornando-nos criaturas novas… Celebrar e viver a Páscoa, aderindo “às coisas do Alto” supõe morrer para tudo o que não é Vida, Verdade, Justiça, Solidariedade, Amor, Paz… mesmo que, para isso, tenhamos que ir até ao fim e dar a vida, como Jesus.
Não podemos contemporizar, conviver com os sinais de morte, quando a Páscoa é vida nova, esperança e alegria! …
A Páscoa de Jesus é o mistério central da nossa fé e o fundamento da nossa libertação. Ela salva o homem de todas as escravidões e injustiças, de todas as crises e pessimismos. É a resposta às aspirações mais profundas do ser humano – vencer todos os limites, inclusive o da morte. Perante o fracasso das ideologias que nunca respondem, plenamente às grandes questões da pessoa humana e perante as expectativas numa felicidade terrena e total, vindas da ciência, da técnica e dos progressos humanos, tantas vezes causas de maior descriminação e injustiça e mesmo de destruição da própria humanidade, nunca salvando os seus autores… Perante tudo isto, a Ressurreição de Jesus é o Acontecimento que garante o futuro e liberta o presente de todos os homens…
Não deixemos morrer a Páscoa e tornemo-la semente fecundante de todos os nossos sonhos, compromissos e acções para a transformação da Igreja e do Mundo!...
Cristo Ressuscitou, ALELUIA!... Uma Santa e Feliz Páscoa para vós e para todos os homens! ALELUIA!... Que todo o cosmos se encha de alegria e cante ao Senhor nosso Deus e nosso Salvador. AMEN!... ALELUIA!...
Viseu, 12 de Abril de 2009
Ilídio, bispo de Viseu