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Homilia do Bispo do Funchal na Dedicação da Catedral do Funchal

Diocese do Funchal
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A Catedral, Centro da Unidade e Comunhão Diocesana 

Celebra a nossa Igreja Diocesana o aniversário da solene Dedicação da sua Catedral, a 18 de Outubro de 1517, pelo bispo D. Duarte, delegado do Bispo titular, D. Diogo Pinheiro. Ela constitui o espaço privilegiado para a celebração da Palavra e da Eucaristia, a cátedra onde o bispo exerce o seu ministério de ensinar, transmitir a fé da Igreja e celebrar os sacramentos.

Nesta solenidade litúrgica se evoca e promove, de forma simbólica, a unidade de todas as paróquias da nossa Diocese com a Igreja Mãe – a Sé do Funchal, lembrando, hoje, também, com a Igreja Universal, o Dia Mundial das Missões e a importantíssima missão da Igreja no anúncio do Evangelho.

E para nós, aqui reunidos, é ainda a celebração de despedida da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, que após seis dias de permanência nesta igreja Catedral, parte para a Fajã do Penedo, iniciando aí a sua visita às comunidades cristãs do Arciprestado de S. Vicente e Porto Moniz. A Sé foi a primeira paróquia que a recebeu, agora parte em peregrinação por todas as outras comunidades paroquiais da Diocese.

 A Igreja, Corpo Místico de Cristo

A primeira leitura relata-nos uma grandiosa visão do profeta Ezequiel, no exílio de Babilónia (cf. Ez 47,1-12). Sendo sacerdote, manifesta uma profunda preocupação pela dignidade do templo, o lugar por excelência de oração e do encontro com Deus. O Rio de Água Viva que jorra do altar do templo do Senhor (Ez 47,1) simboliza a riqueza e a abundância das bênçãos de Deus para com o Seu Povo, que, nos tempos do Messias, atingirá a sua plenitude, com a graça do Espírito Santo e a superabundância de Vida eterna, oferecida por Cristo à Humanidade: a Água que Eu der – disse Jesus à Samaritana – tornar-se-á uma fonte de Água a jorrar para a Vida eterna (cf. Jo 4, 14). Desde então, a sede de Infinito do homem e da mulher será n’Ele plenamente saciada.

Na segunda leitura, S. Pedro recomenda à comunidade que se aproxime de Jesus Cristo, “pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus”(1Ped 2, 4).  A fé é a chave de leitura deste texto paradoxal. Só o Espírito Santo nos faz descobrir o mistério do amor de Deus, na rejeição e morte do Filho Amado, e a poderosa intervenção do Ressuscitado, no dinamismo da vida da Igreja e do mundo. As “pedras vivas” simbolizam os membros do Povo de Deus, unidos a Cristo e comprometidos com Cristo, “Pedra angular”. As “pedras vivas” da Igreja do Senhor somos todos nós, se partilhamos a corresponsabilidade, a vida e a acção pastoral da Diocese, nas diferentes comunidades cristãs, instituições e grupos apostólicos.

A confissão de Pedro

No relato evangélico (cf. Mt 16, 13-19), em Cesareia de Filipe, Jesus interroga os discípulos sobre a Sua própria identidade: “E vós, quem dizeis que Eu sou?” – Esta pergunta provoca uma resposta de grande densidade teológica, inspirada pelo Espírito Santo: “Tu és o Messias, Filho de Deus vivo”(Mt 16, 13), respondeu Pedro.  A pergunta tem como finalidade reafirmar a missão de Jesus e a sua origem divina, e confirmar os discípulos na fidelidade do seguimento. Não basta reconhecer Jesus como o Messias, o Enviado do Pai, mas, sobretudo, como Filho de Deus. E nós, que dizemos sobre Ele? Quem é Jesus Cristo para nós, em termos de fé, relação pessoal e seguimento, como ideal de vida?

A dimensão missionária da Igreja

Neste Dia Mundial das Missões, lembro que pertence à Igreja revelar o verdadeiro Rosto de Cristo, com alegria, entusiasmo e esperança. Como servidora da Palavra, a Igreja deve anunciar a Boa Nova a todos os povos, num mundo fragmentado por uma certa angústia existencial, mas com sede de Amor, Verdade, Justiça, Paz e Unidade.

Esta é a missão, não só dos bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, catequistas, professores de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), mas de todos os baptizados, com especial responsabilidade para as famílias cristãs: levar as crianças, adolescentes, jovens e adultos ao conhecimento de Jesus Cristo, à comunhão e intimidade com Ele.

No início do Ano Pastoral, peço a Deus que abençoe a generosidade, sacrifício, empenho e disponibilidade dos nossos catequistas, professores de EMRC e outros educadores da fé, aqui presentes em grande número. “Evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja" (Evangelii Nuntiandi, 14). Todos os cristãos são chamados a viver em corresponsabilidade esta mesma missão evangelizadora: anunciar a todos os povos a riqueza insondável, os tesouros de sabedoria e de ciência de Cristo Jesus (cf. 1Col 24,3).

Bento XVI recorda-nos na sua habitual mensagem para este Dia, que “a missão da Igreja é contagiar de esperança todos os povos. Está em questão a salvação eterna das pessoas, o fim e a plenitude da história humana e do universo”. Evangelizar e contagiar com esta esperança viva, que é Cristo Jesus Ressuscitado, será para todos um dom e uma graça, mas também uma responsabilidade, serviço e compromisso.

Dou graças a Deus pela generosidade de numerosos missionários e missionárias da nossa Diocese do Funchal que, através dos séculos, ousaram e ousam, actualmente, anunciar com alegria o Evangelho, arriscando, muitas vezes, a própria vida. 

Mesmo no meio de perseguições e apesar de reconhecermos na Igreja os limites próprios da fragilidade humana, todos somos convidados a amar a Igreja, nossa Mãe. Mergulhada na complexidade do mundo actual, onde Deus parece ser dispensado, a Igreja está vigilante e atenta aos novos desafios, que lhe são propostos pela sociedade actual e pela própria Igreja.

Despedida da Imagem Peregrina

Neste momento, em que a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima está prestes a deixar a nossa Catedral, não posso deixar de dar graças a Deus por tudo quanto já vivemos com a sua vinda à nossa querida Diocese do Funchal. Faço-o com muita emoção e o maior reconhecimento a todos quantos contribuíram, com a sua oração, trabalho e testemunho, para momentos tão extraordinários de fé e comunhão eclesial.

Quem poderá esquecer o acolhimento tão caloroso e expressivo, prestado a Nossa Senhora, por tantos milhares de pessoas que se congregaram no aeroporto e ao longo de todo o percurso até ao Funchal? – Um aceno, um sorriso, um olhar humedecido por alguma lágrima, uma vela acesa, um cântico, uma prece no coração de tanta gente, que acorreu para saudar Nossa Senhora, contemplando-a na sua imagem irradiante de luz, serenidade e paz! Cruzaram-se os olhares: que disse Nossa Senhora ao coração e à consciência de cada um?

Quem poderá esquecer a linda noite de 12 de Outubro, no coração da nossa cidade, onde, com a luz das velas, brilhou uma luz diferente, a luz da fé de uma multidão agradecida e suplicante, olhos postos na Imagem luminosa da Virgem Maria, rezando o Rosário na Praça do Município e caminhando, em procissão, até à Catedral? Cruzaram-se os olhares: que disse Nossa Senhora ao coração e à consciência de cada um?

Quem poderá esquecer os momentos de oração silenciosa ou a participação nas celebrações da Sé, durante toda a semana, na adoração do Santíssimo Sacramento ou em louvor de Nossa Senhora, abrindo o coração a Deus e acolhendo no íntimo os apelos e interpelações de Maria-Mãe? Que sentimos e pensamos, perante a passagem por aqui de tantos milhares de pessoas, mantendo a Sé repleta de fiéis ao longo de quase todo o dia?

O objectivo da vinda da Imagem Peregrina está bem patente no lema escolhido para a Visita: “Com Maria, ser Igreja no mundo actual”. Não se trata, pois, de expressar uma simples devoção, sem consequências na vida e na acção das pessoas e das comunidades cristãs, mas propor e ajudar a acolher, de forma mais aprofundada e esclarecida, o Evangelho de Jesus, como referência para uma vida nova e um maior compromisso na Igreja e na Sociedade.

No fim desta celebração, a Imagem Peregrina sai da Catedral e faz o seu primeiro percurso para a igreja do Imaculado Coração de Maria, na Fajã do Penedo, iniciando, assim, a sua visita às nossas comunidades paroquiais. A primitiva capela, que ali existia, foi mandada construir por Maria Margarida dos Anjos Ribeiro, natural de Boaventura, e benzida a 23 de Agosto de 1919, por D. António Manuel Pereira Ribeiro. Foi a primeira dedicada ao Imaculado Coração de Maria, conforme desejo de Nossa Senhora, expresso numa revelação particular à Madre Virgínia Brites da Paixão, Religiosa Clarissa, madeirense, privilegiada com extraordinárias graças místicas.

À Mãe da Igreja

Unidos à Mãe da Igreja, “Estrela da Nova Evangelização” e Rainha das Missões, vivamos o dinamismo da fé, animados pelo Espírito de Deus. Sejamos testemunhas autênticas e templos transparentes da Sua presença, neste mundo, que deseja encontrar na Igreja a beleza do Evangelho e a resposta às suas justas inquietações e esperanças. Maria, Mãe da Igreja, rogai por nós! Nossa Senhora do Rosário de Fátima, abençoai-nos!

Funchal, 18 de Outubro de 2009

† António Carrilho, Bispo do Funchal



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