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Homilia do Cardeal James Francis Stafford da Missa de 13 de Julho - Santuário de Fátima

Cardeal James Francis Stafford
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+ Cardeal James Francis Stafford, Presidente do Conselho Pontifício para os Leigos

Missa de Santa Maria, Mãe de Deus 13 de Julho de 2003 – Santuário de Fátima 1. O Evangelho descreve a Visitação. A Nossa Mãe Bendita, Maria de Nazaré, deixa Nazaré à pressa. Ela visita a casa de sua parenta Isabel na região montanhosa da Judeia, perto de Jerusalém. A partida súbita é o resultado da sua obediência às palavras do Anjo, que lhe tinha dado as seguintes instruções: « Também a tua parenta Isabel concebeu um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril. » Ao entrar em casa de Isabel, Maria saúda-a. Diz o Evangelho que, ao ouvir a saudação de Maria, o menino saltou de alegria no seio de Isabel. Notem bem cada palavra. Isabel foi a primeira a ouvir a voz de Maria, mas João foi o primeiro a ficar ciente do favor divino; ele foi o primeiro a notar a presença de Jesus, o Salvador, no seio de Maria. Isabel ouviu de um modo natural, com os seus ouvidos. João saltou de alegria por causo do Mistério. Isabel vê Maria vir; mas João vê o Advento, a vinda do Senhor. João, que é o maior dos profetas, vê e ouve mais perspicazmente que sua mãe. Ele saúda o príncipe dos profetas. E como não pode fazê-lo com palavras, salta no seio para mostrar a grandeza da sua alegria. Como interpretar este imenso mistério de João dentro do seio materno a saltar de alegria na presença do seu Rei? Quem já alguma vez conheceu tal arrebatamento de alegria antes de nascer? A graça fê-lo conhecer coisas que eram desconhecidas à natureza. Só a graça pode explicar tal fenómeno. Fechado no seio, o soldado reconheceu o seu Senhor e Rei que estava para nascer, a capa do seio materno não ocultou a sua visão mística. Porque João viu Jesus, não com os seus sentidos, mas com o seu espírito. O traçado das missões de quatro pessoas, de Maria e Jesus, de Isabel e João leva-nos a reconhecer a presença activa do Espírito Santo. O facto de Isabel rezar “com voz alta” as palavras da Ave-Maria, “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” é, como sempre na Bíblia, o sinal de que Deus fala através da boca da mãe. Toda a cena é uma única inspiração, contendo múltiplas articulações. O Espírito de Deus cai na vertical desde cima, nas relações horizontais entre as pessoas. É o Espírito quem motiva as relações entre os quatro, dando-lhes plenitude, profundidade, ressonância. «Isabel ficou cheia do Espírito Santo», só depois de a criança ter saltado de alegria dentro dela. João já recebera a missão de ser o escolhido precursor do Messias. O verdadeiramente belo aqui é o facto de Isabel, pelo seu próprio fruto, perceber como é abençoado o fruto de Maria, e que é Maria, e não ela, quem é por isso bendita, porque Maria acreditou no que lhe foi dito por parte do Senhor.» 2. Isabel acrescenta, “Bendito é o fruto do teu ventre”. Cristo é declarado ser o fruto do ventre de Maria. O corpo de Jesus é o fruto procedente da própria substância da árvore, de sua Mãe... E todo o fruto é da mesma natureza da árvore-mãe: daqui se segue que a Virgem Maria era da mesma natureza do Segundo Adão, seu Filho, que tira o pecado do mundo. 3. Maria responde a Isabel: “A minha alma glorifica o Senhor”. Maria tinha ouvido que o fruto do seu corpo seria o prometido de Israel. Assim ela confirma que as maravilhas prometidas por Deus foram realizadas no seu corpo. Contudo a sua alma não será sem fruto perante Deus. Porque Maria oferecerá o fruto da sua vontade. Quanto mais ela serve este mistério que está dentro dela, mais ela glorifica Deus, que realiza nela estas maravilhas. Mas o Senhor não pode receber aumentos e diminuições. Então como é possível que o Senhor possa ser enaltecido? Qual o sentido das palavras de Maria: “A minha alma enaltece o Senhor”? São Paulo diz na sua Carta aos Colossenses (1:15) que o Senhor nosso Salvador é a “imagem do Deus invisível”. Também é verdade que a alma é feita à imagem de Deus para que a alma possa ser descrita como imagem da eterna Imagem que é o Senhor Deus. Assim é-nos possível glorificar ao Senhor, para fazer o Senhor crescer. Como? Quando, à semelhança daqueles que pintam imagens, fizermos a nossa alma grande em pensamento, palavra e acção, então a imagem de Deus será feita grande; e o próprio Senhor, cuja imagem é, será enaltecido na nossa alma. 4. Nos Evangelhos, Maria, a Mãe do Senhor, é conduzida por um mistério duplo; como serva, ela deseja desaparecer da vista, mas como portadora do Verbo de Deus, ela é destinada a vir em total proeminência. “Todas as gerações me hão-de chamar bem-aventurada”. No “Magnificat” ela une-se a ambas as coisas: todas as gerações a proclamarão bem- aventurada e nunca deixarão de a admirar; mas ela própria olha só para Deus. Esta é a mensagem de Maria em Fátima. Maria pede que os seus filhos façam reparação a Deus pelos seus pecados. Desde a altura em que começou a pedir insistentemente que a Igreja se preparasse para o Ano Santo, João Paulo II apelou à Igreja a fazer reparação pelos pecados dos católicos ao longo de séculos. Foi especialmente na Quaresma do Ano Santo que o Papa pediu perdão e fez reparação pelos pecados do passado. Parte da sua intenção era para cumprir o desejo da Nossa Mãe bendita, Maria de Fátima. Por isso um dos frutos da nossa peregrinação a este santuário de Nossa Senhora é que nos decidamos a fazer reparação pelos nossos próprios pecados e pelos pecados de todos os membros da Igreja. Por isso pedimo-Vos, Santa Mãe: orai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amen. + Cardeal James Francis Stafford, Presidente do Conselho Pontifício para os Leigos


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