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Homilia do Núncio Apostólico na abertura das celebrações dos 500 anos de criação da diocese do Funchal

D. Rino Passigato
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É-me muito grato estar hoje, pela primeira vez, nesta Catedral do Funchal a presidir à celebração desta Santa Missa no início das comemorações dos Quinhentos Anos da ereção desta histórica e gloriosa Diocese, que foi criada – como sabemos – pelo Papa Leão X no dia 12 de junho de 1514 e durante muito tempo foi a mais extensa do mundo e que tantos méritos tem na evangelização de outras terras, tendo dado orígem a varias outras Igrejas particulares como as de Goa, de Angra, de Cabo Verde, de São Tomé e São Salvador da Bahía.

Antes de mais nada, agradeço a Sua Excelência o Senhor Bispo Dom António José Cavaco Carrilho por me ter convidado para esta solene efeméride e por me conceder este privilégio.  

Saúdo respeitosamente Sua Excelência o Senhor Representante da República, Sua Excelência o Senhor Presidente do Governo Regional da Madeira e as demais Autoridades políticas, civis, judiciais, policiais e militares presentes.

Saúdo fraternalmente os caros irmãos sacerdotes, os diáconos, as pessoas consagradas, os seminaristas, os membros das diferentes Irmandades e dos Movimentos eclesiais, todos os fiéis leigos - as famílias, os jovens, as crianças, os doentes e anciãos. A todos e a cada um transmito a proximidade, as saudações mais afetuosas e a Bênção Apostólica do Santo Padre o Papa Bento XVI.

 

Celebramos hoje a festa de Pentecoste, a festa do Espírito Santo. Talvez não tenhamos

bastante familiaridade com esta terceira Pessoa da Santíssima Trindade e não nos seja fácil pensar n’Ele como estamos acostumados a pensar em Deus Pai e em Jesus Cristo. Se quisermos definir o Espírito Santo com uma expressão atual e bíblica, teremos de dizer: o Espírito Santo é o dom de Cristo ressuscitado à Igreja que é o Seu Corpo. 

No momento em que iniciamos as comemorações dos Quinhentos Anos da ereção desta Diocese do Funchal, agrada-nos pensar que o rejuvenescimento da Igreja é função permanente do Espírito; e, felizmente, hoje como ontem, não faltam disso testemunhas.

Para além dos ministros sagrados, das pessoas consagradas, homens e mulheres, e dos membros dos diferentes Movimentos eclesiais que, cada um com o seu próprio carisma, representam um sinal de um novo Pentecostes, penso nos esposos cristãos que, com o seu amor fiel e fecundo, testemunham a Caridade trinitária e o amor de Cristo pela Igreja e, educando os filhos na fé, rejuvenescem o Povo de Deus; penso nos operários e professionais cristãos que, com o seu  trabalho honrado, constroem a cidade terrena sobre as regras da justiça, da equidade, da solidariedade e da fraternidade; penso naquelas pessoas boas e altruistas que, sem nada pedir em troca, prestam ajuda ao vizinho ou ao amigo que tem problemas ou sofrem necessidade; penso nos médicos e operadores da saúde que dedicam a própria existência ao bem-estar dos outros e à defesa da vida desde o seu início no seio materno até ao seu fim natural. Penso na paciência alegre do doente na sua dor ou do idoso na solidão; penso na oração silenciosa, na confiança em Deus, na alegria do dever cumprido e de uma consciência reta honrada de tantos cristãos e cidadãos anónimos. Penso ainda na multidão de homens e mulheres de boa vontade que entregam o seu talento, energias, tempo e vida à obra da justiça, à libertação integral, à cultura e dignidade humana, ao desenvolvimento pleno, à fraternidade e à ecologia, isso é, à salvaguarda da nossa casa comum.

Tudo o que é nobre, harmonioso e profundamente humano no coração de um homem ou de uma mulher, que lealmente optam pelo amor e pela verdade, procede do Espírito de Deus «que sopra onde quer», porque é Espírito de Quem é Luz que ilumina todo o homem, Jesus Cristo, Palavra pessoal do Pai de todos. Por tudo isso, acreditamos no Espírito Santo, Senhor que dá a vida!

Tudo é dom do Espírito de Deus que continua presente e atuante nos crentes e em cada homem e mulher de boa vontade e, assim, “renova a face da terra”.

 

 

Como fez com os cristãos das gerações passadas, também hoje o Espírito Santo move os batizados para edificarem a Igreja sobre o testemunho do Cristo ressuscitado.

Com o Papa Bento XVI, Sucessor de Pedro hoje, eu repito a cada um de vós: «Meus irmãos e irmãs, é necessário que vos torneis comigo testemunhas da ressurreição de Jesus. Na realidade, se não fordes vós as suas testemunhas no próprio ambiente, quem o será em vosso lugar? O cristão é, na Igreja e com a Igreja, um missionário de Cristo enviado ao mundo. Esta é a missão inadiável de cada comunidade eclesial: receber de Deus e oferecer ao mundo Cristo ressuscitado, para que todas as situações de definhamento e morte se transformem, pelo Espírito, em ocasiões de crescimento e vida. Para isso, em cada celebração eucarística, ouviremos mais atentamente a Palavra de Cristo e saborearemos assiduamente o Pão da Sua presença. Isto fará de nós testemunhas e, mais ainda, portadores de Jesus ressuscitado no mundo, levando-O para os diversos setores da sociedade e quantos neles vivem e trabalham, irradiando aquela “vida em abundância” (Jo, 10, 10) que Ele nos ganhou com a Sua cruz e ressurreição e que sacia os mais legítimos anseios do coração humano» (cf. Bento XVI, 14 de maio de 2010, S. Missa no Porto). 

Como Pedro nos recomenda numa das suas cartas, exortamo-vos: « “Venerai Cristo Senhor em vossos corações, prontos sempre a responder a quem quer que seja sobre a razão da esperança que há em vós” (1 Ped 3, 15). … Por experiência própria e comum, bem sabemos que é por Jesus que todos esperam. De facto, as expectativas mais profundas do mundo e as grandes certezas do Evangelho cruzam-se na irrecusável missão que nos compete, pois - como afirma o Santo Padre Bento XVI na Encíclica Caritas in Veritate - “sem Deus, o ser humano não sabe para onde ir e não consegue sequer compreender quem seja. Perante os enormes problemas do desenvolvimento dos povos, que quase nos levam ao desânimo e à rendição, vem em nosso auxílio a palavra do Senhor Jesus Cristo que nos torna cientes deste dado fundamental: ‘Sem Mim, nada podeis fazer’ (Jo 15, 5), e encoraja: ‘Eu estarei sempre convosco até ao fim do mundo’ (Mt 28, 20)» (Bento XVI, Caritas in veritate, 78) » (Ibidem).

Mas, se esta certeza nos consola e tranquiliza, não nos dispensa de ir ao encontro dos outros. Temos de vencer a tentação de nos limitarmos ao que ainda temos, ou julgamos ter, de nosso e seguro: seria morrer a prazo, enquanto presença de Igreja no mundo, que aliás só pode ser missionária, no movimento expansivo do Espírito» (Ibidem).

Desde as suas origens, o povo cristão advertiu com clareza a importância de comunicar a Boa Nova de Jesus a quantos ainda não a conheciam. E, como já recordámos, esta mesma Diocese do Funchal foi por muito tempo uma “base estratégica” para a evangelização de novas terras.

«Nestes últimos anos, alterou-se o quadro antropológico, cultural, social e religioso da humanidade; hoje a Igreja é chamada a enfrentar desafios novos e está pronta a dialogar com culturas e religiões diversas, procurando construir juntamente com cada pessoa de boa vontade a pacífica convivência dos povos. O campo da missão ad gentes apresenta-se hoje notavelmente alargado e não definível apenas segundo considerações geográficas; realmente aguardam por nós não apenas os povos não-cristãos e as terras distantes, mas também os âmbitos sócio-culturais e sobretudo os corações que são os verdadeiros destinatários da atividade missionária do povo de Deus» (Ibidem).

«Trata-se de um mandato cuja fiel realização “deve seguir o mesmo caminho de Cristo: o caminho da pobreza, da obediência, do serviço e da imolação própria até à morte, de que Ele saiu vencedor pela sua ressurreição” (Ad gentes, 5). Sim! Somos chamados a servir a humanidade do nosso tempo, confiando unicamente em Jesus, deixando-nos iluminar pela sua Palavra: “Não fostes vós que Me escolhestes; fui Eu que vos escolhi e destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça” (Jo 15, 16). Quanto tempo perdido, quanto trabalho adiado, por inadvertência deste ponto! Tudo se define a partir de Cristo, quanto à origem e à eficácia da missão: a missão recebemo-la sempre de Cristo, que nos deu a conhecer o que ouviu de seu Pai, e somos nela investidos por meio do Espírito na Igreja. Como a própria Igreja, obra de Cristo e do seu Espírito, trata-se de renovar a face da terra a partir de Deus, sempre e só de Deus! » (Ibidem).

Queridos irmãos e amigos da Madeira, levantai os olhos para Aquela que é a vossa Padroeira, Nossa Senhora, a “cheia de graça”, que, pelo poder do Espírito Santo concebeu e deu à luz Jesus Cristo, o Filho de Deus e Redentor dos homens, e, unida em oração aos Apóstolos, no dia de Pentecostes recebeu o Espírito Santo, dando assim início à aventura da missão da Igreja pelo mundo inteiro.

Unidos agora à Santíssima Virgem Maria, formulamos a nossa fervente oração. E a nossa oração comunitária e pessoal, hoje, é antes de mais nada hino de glorificação, de ação de graças, de louvor e alegria pelos múltiplos sinais da presença do Espírito Santo na nossa Igreja e no mundo.

A nossa oração é também humilde petição de perdão pelas nossas falhas e incoerências, como cristãos fracos e cobardes, que tantas vezes não souberam responder à ação do Espírito Santo.

Na nossa oração, por fim, imploramos a força do Espírito Santo para anunciar Cristo com convicção e transparência de linguagem e de conducta… para que se realize nos nossos corações, na Igreja e no mundo, o Reino de Deus: Reino de Verdade e de Vida, Reino de Santidade e de Graça, Reino de Justiça, de Amor e de Paz.

Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos Vossos fiéis e acendei neles o fogo perene do Vosso Amor! Ámen.

D. Rino Passigato, Núncio Apostólico



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