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Igreja de Lisboa foi ao Cristo - Rei

D. José Policarpo
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Homilia do Dia da Igreja Diocesana

Irmãos e Irmãs, 1. Este ano celebramos o dia da Igreja Diocesana movidos pelo ardor da evangelização, que só pode ser o testemunho do amor de Deus que o Espírito Santo derramou nos nossos corações. Reunimo-nos aqui, junto ao Monumento a Cristo-Rei, Senhor do Universo que, há quase cinquenta anos, abraça e abençoa a Cidade de Lisboa, num abraço de amor infinito, porque divino e redentor. Antes de mais porque esta região ribeirinha da Diocese de Setúbal, onde se ergue o Monumento, participará, com a Diocese de Lisboa, no Congresso da nova Evangelização. Queremos dizer a toda a Igreja de Setúbal e, de modo particular, ao seu Bispo, a quem saúdo fraternalmente, que a estátua de Cristo-Rei, até há bem pouco tempo situada na área da Diocese de Lisboa, não nos separa, mas une-nos, desafiando-nos para caminhos novos de convergência e cooperação pastoral, para o anúncio do Evangelho nesta “Grande Lisboa” que abarca estas cidades ribeirinhas, porque também o rio nos une mais do que nos separa. Mas quisemos, também, celebrar este dia aos pés de Cristo redentor, significando, com este gesto, que Jesus Cristo ocupa o centro do nosso Congresso. É a Ele que queremos anunciar, é com Ele que queremos glorificar a Deus Pai, no amor que o Espírito Santo é; é deixando-nos devorar pelo seu zelo de Bom-Pastor, que queremos partir em missão; é dinamizados pelo Seu amor infinito a Deus e aos homens, que partiremos fortes e confiantes, capazes de vencer obstáculos e inventar formas e momentos de comover corações com o testemunho da nossa fé. Tal como há 45 anos os Bispos de Portugal se reuniram aqui, com uma multidão de clero e fiéis, agradecendo o dom da paz e consagrando ao amor solícito do Senhor as Igrejas de Portugal, assim queremos hoje consagrar a Jesus Cristo, Rei e Senhor, as nossas Igrejas de Lisboa e Setúbal, e confiar-lhe este desejo e o nosso projecto evangelizador. É que só partimos em missão porque Ele nos envia. 2. Esta nossa peregrinação a este Santuário, é um acto de fé e de amor a Jesus Cristo. É que só Ele nos abre as portas do mistério do amor de Deus. Por Ele conhecemos o Pai, porque Ele e o Pai são um só; quem O vê, vê o Pai. Soubemos que o Pai nos conhece e nos ama e que tudo o que lhe pedirmos, em nome de Jesus, Ele no-lo concederá. Ouvimos Jesus afirmar: “tudo o que o Pai tem é Meu”. Nós somos do Pai porque somos de Jesus Cristo. Ele conquistou-nos com a Sua fidelidade. Arrancando-nos do pecado e restituindo-nos à dignidade de Filhos de Deus, o Pai deu-nos a Jesus Cristo. É Ele quem o afirma: “manifestei o Teu nome aos homens, que Tu tiraste do mundo para Mos dar. Eles eram Teus e Tu deste-Mos” (Jo. 17,6). Porque somos d’Ele, Cristo envia-nos, com a Sua própria missão que recebeu do Pai. “Como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os enviarei ao mundo” (Jo. 17,18). Nós nascemos para a vida da graça e para a missão, como fruto fecundo da relação de amor entre Deus, o Pai, e o Seu Filho Jesus Cristo. Esta nossa origem na relação amorosa do Pai e do Filho, é-nos revelada pelo Espírito Santo, que é esse amor. Ao comunicar-nos o Seu Espírito, Jesus, o Filho, comunica-nos esse amor infinito. “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rom. 5,5). Inundado o nosso coração por esse amor divino do Pai e do Filho, a nossa vida fica possuída por Cristo, podemos amar o que Ele ama e como Ele ama, identificamo-nos com o Seu ser e com a Sua missão. 3. Esta Solenidade litúrgica da Santíssima Trindade convida-nos a aprofundar a relação que há entre o Espírito santo, que nos mergulha no amor de Deus e a nossa missão evangelizadora, em que partimos a semear e a anunciar o amor. Evangelizar é inundar, progressivamente, o mundo, desse amor, sermos expressões sacramentais desse amor que nos foi dado, e derramá-lo, a partir de nós, a Igreja, nos homens e mulheres a quem o anunciamos, amando-os. O Espírito Santo é a fonte de uma compreensão, sempre nova e renovada, da Palavra de Cristo. “Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis compreender agora. Quando vier o Espírito de Verdade, Ele vos guiará para a verdade plena” (Jo. 16,12-13). Só pode anunciar o Evangelho como Jesus o anuncia quem escuta sempre de novo a Palavra de Cristo, deixando-se repassar pelo amor que o Espírito Santo é. Só o amor nos revela o sentido profundo da Palavra de Cristo, pois ela foi pronunciada no seio da sua relação de amor com o Pai. Quem deixar de amar, deixa de poder evangelizar. Só o Espírito Santo garante a actualidade e a frescura da Palavra do Evangelho. O anúncio do Evangelho é a expressão de um silêncio recolhido e contemplativo, em que deixando inundar o nosso coração pelo amor de Deus, escutamos de Cristo a Palavra que Ele ouviu a Seu Pai. Neste sentido podemos afirmar que o Espírito Santo é o grande evangelizador. É o próprio Jesus Quem o afirma: “Ele Me glorificará, porque receberá do que é Meu e vo-lo anunciará” (Jo. 16,14). O Espírito ensina-nos, em cada momento, o sentido do Evangelho, para que nós o anunciemos aos outros. O acto de amor de Jesus Cristo, que nos comunica o Seu Espírito, e o nosso acto de evangelizar, são manifestações do mesmo Espírito. Jesus envia-nos o Espírito, porque nos ama; nós anunciamo-Lo, porque O amamos e amamos os homens que Ele ama. Unidos a Ele pelo Espírito, participamos da mesma missão. E em nós, que somos a Igreja, que é o Seu Corpo, o Espírito vai atraindo toda a humanidade para a unidade do amor. Mas a Palavra de Deus, hoje proclamada, diz-nos mais: o Espírito Santo anunciará o futuro. “Ele não falará de Si Mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que está para vir” (Jo. 16,14). Só o amor que foi derramado nos nossos corações pode anunciar o futuro, porque só no amor o presente vivido com intensidade, está prenhe do futuro. O amor é o fundamento da esperança, porque o amor não engana, porque o futuro que ele anuncia é já vivido no presente. O futuro está completamente contido no desejo da sua plenitude. É por isso que evangelizar é semear a esperança. E, finalmente, a Palavra de Deus proclamada nesta celebração, diz-nos que o Espírito Santo é a alegria de Deus. Identificado, no Antigo Testamento, como sendo a sabedoria divina, o Espírito exprime a profunda alegria com que Deus criou todas as coisas e que já está anunciada na narração genesíaca da criação, quando diz que Deus achou muito bom tudo o que tinha feito. Nessa alegria da criação, a Sabedoria “estava a seu lado, como arquitecto, cheia de júbilo, dia após dia, deleitando-me continuamente na Sua presença. Deleitava-me sobre a face da terra e as minhas delícias eram estar com os filhos dos homens” (Prov. 8,30-31). Porque o Espírito Santo é a alegria de Deus, a criação é uma festa, é a expressão fecunda de Pessoas felizes, porque amam e são profundamente amadas. Só no fim dos tempos, nos “novos céus e na nova terra”, a criação inteira voltará a ser uma festa, porque significará o triunfo da alegria, da felicidade e do amor. Mas desde já, em todos os tempos e em cada tempo, evangelizar é anunciar a alegria da criação, a sua beleza e a sua harmonia. Nós sabemos, como nos diz São Paulo na Carta aos Romanos, que toda a criação geme ainda, como se estivesse a sofrer as dores do parto; mas o que a espera é a alegria e a festa. De facto “se ela foi sujeita à vaidade, é na esperança de ser também ela libertada da escravidão da corrupção”, porque na esperança, ela aspira à alegria dos filhos de Deus. E o Apóstolo continua: “Eu penso que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que se revelará em nós” (cf. Rom. 8, 18-24). O amor de Deus que é derramado nos nossos corações leva-nos a anunciar a beleza da criação, a esperança da superação dos seus males e a alimentar a promessa da plenitude da alegria. Cada ser criado é expressão do amor de Deus; no amor, podemos contemplar, desde já, a sua harmonia definitiva. Só o Espírito Santo fará com que toda a criação volte a ser a alegria de Deus. 4. Estamos aqui reunidos à volta do Senhor, Rei do Universo, pedindo-Lhe que nos introduza, cada vez mais, no mistério do amor de Deus e faça da Sua Igreja o testemunho vivo do amor, da alegria e da festa. † JOSÉ, Cardeal-Patriarca


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