Igreja em defesa dos emigrantes D. Januário Torgal Mendes Ferreira 13 de Agosto de 2004, às 09:59 ... Homilia de D. Januário Torgal Ferreira na Peregrinação Internacional do Migrante e Refugiado “Não farás mal ao estrangeiro†(ex. 22-23); “não há judeu nem grego... todos vós sois um só em cristo†(Gal. 3, 26-29); “quando foi que te vimos (...) peregrino ou nu e não te socorremos?â€; “sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos foi a mim que o deixastes de fazer†(Mt. 25, 31-46) Não é difÃcil de entender esta palavra. IncompreensÃvel é que este peregrino, homem ou mulher, sem rosto, sem nome, sem carta de recomendação, tão à nossa moda, entre pela fronteira adentro e nos diga: “sou um trabalhador vindo de qualquer sÃtio (poderá ser Angola, Moçambique, Moldávia, Ucrânia ou Brasil...) só venho em busca da dignidade não reconhecida no meu paÃs. Dá-me trabalho. Tantas vezes dissestes coisas tão bonitas sobre esta tarefa dura, caminho até de testemunho santo para os cristãos...! Permite que minha mulher e os meus filhos entrem em Portugal, à semelhança do que fizeram milhões de portugueses, em outras pátrias. O que eu peço, enquanto trabalhador, é a oportunidade de ganhar o pão, com o meu suor e as vossas leis, oxalá justas!â€. O difÃcil é entender que pessoas, nestas circunstâncias, não tenham obtido “bilhete de entradaâ€. Os mais responsáveis prosseguiram o seu discurso, proclamando o humanismo de maneiras e o sentido da responsabilidade, impedindo o avanço dos pobres. Não podemos esconder o drama deste “humanismo ateuâ€, de que falava Lubac, e algumas barbaridades, que ainda mancham a democracia. O difÃcil é acolher uma pessoa desrespeitada como o “Cristo da Paixão e da morteâ€. como no-lo recordava o Papa João Paulo II, na mensagem, de há dois anos, para esta mesma semana: “não podemos fechar a porta a Cristo que bate à porta do teu paÃs na pessoa do imigranteâ€. E, na mensagem deste ano: “que ninguém permaneça insensÃvel à s condições em que se encontram tantos imigrantesâ€. 2. Unidos ao Papa, neste momento de visita ao santuário mariano de Lurdes, e em comunhão com a solidariedade das nações e dos povos expressa nos Jogos OlÃmpicos e ParaolÃmpicos, em Atenas, chamamos a atenção para os compromissos da cidadania, expressos no respeito pelos direitos de cada um, arredio dos equÃvocos, das injustiças e das “trapalhadasâ€. Se há um apelo de fraternidade perante quem emigra, há um clamor em vista de uma nova ordem nacional e internacional, onde o cumprimento da justiça seja de tal monta que não haja necessidade de buscar noutro paÃs o que não há no próprio. conforme o expressa o Papa: “consolidar a paz (pela justiça) para que não ter que emigrarâ€. Para além de cerca de cinco milhões de emigrantes de portugal e dos que continuam a “emigrarâ€, li, há 2 meses, no Luxemburgo no jornal português (e cito-o pelo nome) “Correioâ€: “todas as semanas chegam aqui novos portugueses à procura de trabalhoâ€. o que dizer sobre esta verdade, tida como tal? Porque não publicitar que, desde 1990, em confronto com os cerca de quinhentos mil estrangeiros que entraram no nosso paÃs, cerca de trezentos mil portugueses saÃram, em novos fluxos migratórios? 3. Os emigrantes portugueses encontraram nos vários paÃses do mundo, por parte de sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos e leigas, idos do seu paÃs natal, um acolhimento de ternura e de respeito que a fé inspirou. Conforme escreveu um dos mais brilhantes sociólogos portugueses: “ esta nossa experiência dever-nos-ia ensinar a compreender o desenraizamento em que se encontram os estrangeiros em Portugalâ€... Pedimos por intermédio de Nossa Senhora, mãe de todos os caminhos, Senhora de Fátima, “a mudança da nossa mentalidade nestas andanças da hospitalidade, e a quem o pode e deve, o realizar por obras o que sempre foi afirmado em propósitos. Por que razão Portugal não assinou até hoje, por exemplo, a â€convenção internacional sobre a protecção dos direitos dos trabalhadores migrantes e membros de suas famÃliasâ€, adoptada pela ONU em 1991 e que entrou em vigor no ano passado. Porquê? É bem preciso que a procissão do SantÃssimo Sacramento, entre em Portugal, como noutros paÃses, “sem pálio, nem ornamentos...â€. Os desafortunados ocupam o primeiro lugar no banquete do Evangelho, bem à frente dos “importantes†que recusaram o convite! A imigração só se controla dando todos os direitos aos trabalhadores estrangeiros e suas famÃlias. A fé cristã convida-nos a ir sempre mais longe. 4. No último natal, pensando nas crianças que não puderam entrar em Portugal, nas dificuldades burocráticas que ainda se notam no reagrupamento familiar e em terrÃveis casos de maltrato, entre nós, enviei a muitas pessoas este retrato do “menino Jesusâ€: “Acolhe este rosto este rosto de criança expulsa de fronteiras, sem lugar em nome do bom senso. acolhe esta criança perseguida molestada, ao preço dos silêncios é noite de natal!†Hoje também o menino deverá nasce por Maria, neste Santuário de Fátima, através de novas atitudes. Estamos a viver a Semana Nacional de Migrações. “Não oprimirás o estrangeiroâ€! “Vem bendito de meu pai porque eu era peregrino/ migrante e tu me socorrestes†+ D. Januário Torgal Mendes Ferreira, Presidente da comissão episcopal de migrações e turismo Fátima, 12 de Agosto de 2004 Semana Nacional de Migrações Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...