Para reflectir o tema “Da alegria de ser chamado à coragem de chamar – A Pastoral vocacional na Comunidade Diocesana e Paroquial”, reuniram-se, em encontro nacional, das 18h30 de dia 28, às 18h30 de dia 29 de Outubro, mais de 100 delegados da Pastoral Vocacional dos Institutos de Vida Consagrada e das Equipas dos Secretariados Diocesanos da Pastoral das Vocações, respondendo à convocatória da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios.
Os trabalhos iniciaram-se com as palavras de saudação do Presidente da Comissão, D. António Francisco dos Santos, que introduziu os participantes nos objectivos do encontro e os desafiou a comunicar a alegria que decorre de ser pessoa vocacionalmente adulta na fé, como o melhor modo de uma acção vocacional mais eficiente. A exposição dos temas, que desenvolveu em 5 sessões intensivas, coube ao P. Alonso Morata Moya Director do Centro de Pastoral Vocacional do Instituto Maestro Ávila, em Madrid.
Começou por traçar a trajectória que foi desenvolvida nos últimos anos pela pastoral vocacional até hoje, a que chamou o deve e haver no campo vocacional. A pastoral vocacional é um trabalho que exige sabedoria, querendo isso significar que para tal não bastam conhecimentos técnicos ou estratégias, mas é necessário humildade para estar ao serviço de Deus e dos jovens numa atitude de respeito e de escuta. Produz mais efeitos e serve melhor a pastoral vocacional a serenidade e a confiança que inspira aquele que, traduz nas suas atitudes “menos preocupação e mais ocupação”. E que indiferente às angústias numéricas, seja expressão estável e coerente da maternidade da Igreja que, sempre há-de gerar vida, se souber permanecer aberta e confiada ao plano de Deus.
Como meio pessoal e directo de interpelar, identificou a alegria como o melhor testemunho. Uma valorização a redescobrir com o seu fundamento na lógica da Anunciação: “Alegra-te ó cheia de Graça...”. O anjo “saúda Maria”, felicita-a pelo que nela vai acontecer. Nesta lógica, assenta a dinâmica da esperança como suporte para anunciar o “novo”, que é Jesus para o homem actual. Identificou também a comunidade como espaço em que a alegria se experimenta lembrando que a Igreja na sua própria natureza se define como ecclesia que etimologicamente significa comunidade alegre, festiva.
Na II Sessão apontou as atitudes fundamentais para uma renovação da nossa pastoral vocacional. Falou da autêntica conversão que é necessário aconteça neste domínio pois o mundo está em permanente mutação precisamos de uma pastoral que acolhendo a novidade que o espírito cria em cada momento histórico acompanhe o mundo que muda em permanente diálogo. Toda a animação vocacional requer um entendimento real da sociedade actual em constante mutação. Partindo de uma visão positiva da história e do seu dever comunicar de modo inteligível o Evangelho da Vocação traduzido num grande amor à humanidade a quem Deus continua a fazer a proposta de o seguir, especialmente aos jovens. A Pastoral Vocacional para sintonizar com as orientações da Igreja saídas no documento Novas Vocações para uma Nova Europa, deve realizar as exigências inscritas no “salto de qualidade”, o que implica estar consciente de uma Igreja que é, toda ela, instrumento do chamamento de Deus ao seu povo. E que em cada pessoa há um dom à espera de ser descoberto. “Só uma pessoa convertida pode trabalhar com outras pessoas eclesiais sem disputar o terreno” e ao serviço de todas as vocações.
Nesta perspectiva comunitária toda a Pastoral Vocacional, qualquer que seja o âmbito de onde parta, deve ser menos auto-referencial e mais eclesial. Isto reclama uma abertura a todas as vocações e não só preocupação com as minhas ou as nossas; exige também que os animadores desta dimensão pastoral sejam artífices de comunhão; pede uma convergência de acção para levar a dimensão vocacional a todos os outros sectores da Pastoral; exige ainda, que a Pastoral não seja um mero entretimento, mas conduza a um encontro pessoal com Jesus Cristo.
Há um objectivo vocacional inscrito na lógica da existência humana que é preciso tornar consciente. Na Pastoral Vocacional deve ser dada uma atenção especial ao horizonte antropológico que leve a considerar a vida em chave de dom com uma finalidade intrínseca. É dom destinado a ser entregue, dom que se multiplica quando se dá e no dar-se acontece a realização e o crescimento. E cada um segundo a sua vocação ao serviço de todos é chamado a contribuir para a edificação do Corpo místico de Cristo, a Igreja.
Na III Sessão falou da paróquia como centro de união de toda a pastoral. Deus serve-se dela para fazer chegar a sua acção ao seu povo. Enquanto espaço do testemunho da fé, é o lugar onde se exerce concretamente a sua vocação de serviço aos homens, é ainda o lugar dos que se sentem reunidos em Cristo: lugar de comunhão e por isso mesmo também de celebração. Outra valorização a recuperar como critério para uma acção vocacional o sentido de pertença a uma comunidade como elemento constituinte de identidade cristã.
O sentido de pertença ajudará mais facilmente os jovens a perguntarem-se: qual o meu contributo para que a comunidade viva a sua fé, confesse a sua esperança e realize a sua missão. Ajudará a compreender a necessidade do dom da diversidade para edificação do Corpo de Cristo.
A partir deste núcleo de anúncio da fé deverá consolidar-se progressivamente a proposta vocacional dirigida a todos, e por todos sem excepção. Viu-se como na missão da paróquia devem integrar-se os grupos de adolescentes de jovens, os adultos. Desde a pastoral familiar e a pastoral juvenil a escola, os movimentos, a catequese, os encontros, as celebrações, as ordens religiosas e os institutos seculares. A paróquia que está consciente da dimensão vocacional é aquela em que cada um vive a sua própria vocação num serviço concreto, e se sente responsável pela vocação e missão dos outros e, por isso, tem para com eles uma pedagogia vocacional.
Há que cultivar o espírito de comunhão a partir das paróquias e da diversidade de vocações; fomentar relações a partir do modelo Trinitário: “Não uns sobre os outros, não uns contra os outros; mas sim uns com os outros, ao lado dos outros”. Esta é uma perspectiva peregrinante e itinerante que exige humildade, conversão e um não decidido ao individualismo; uma estima recíproca onde cada um acolhe o outro como dom de Deus; dom a partir do que somos, do que vivemos, da opção que fizemos e do serviço que prestamos, aos de perto e aos de longe, aos não praticantes ou, inclusive, descrentes ou ateus.
Por último na IV e V Sessão foram lançadas as linhas de acção em ordem à elaboração de um plano que congregue e convoque as forças vivas da Diocese sensibilizando a que estas se abram à dimensão vocacional. Há que tornar esta dimensão transversal a todos os sectores da Pastoral. Em trabalhos de grupos por Dioceses fizeram-se diagnósticos, elaboraram-se programas específicos e fez-se alguma planificação pastoral que deverá continuar em cada Diocese segundo calendarizações próprias.
O II Fórum concluiu com a celebração da eucaristia presidida pelo Senhor D. Serafim Ferreira e Silva, Bispo de Leria-Fátima que retomando as ideias da abertura insistiu numa acção pastoral que nasça da alegria da fé e se projecte com bondade ao estilo de Jesus, num anúncio corajoso da vocação a todos. Exige-se capacidade e coragem para ir ao encontro dos jovens, anunciar e provocar interrogações e suscitar que desabrochem em compromissos concretos na comunidade. Uma acção realizada na fidelidade a Deus que tal como ontem, continua a chamar e, na fidelidade ao jovem que deve responder na liberdade e na responsabilidade.
Pela Comissão Episcopal Vocações e Ministérios
Pe. Jorge Madureira