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Levanta-te e anda!... Longo caminho te resta para andar

D. António Marcelino
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Mensagem do Bispo de Aveiro para a Quaresma 2006

Ao dirigir-me aos cristãos da Diocese, no intuito de ajudar para que possam beneficiar de uma frutuosa vivência quaresmal que permita preparar e viver uma Páscoa renovadora, vêm-me à mente páginas bíblicas relacionadas com o profeta Elias e com o paralítico da piscina de Jerusalém. A ambos, perante uma situação de desânimo e de cansaço que lhe corroía a alma e a vontade, foi mandado: “Levanta-te e andaâ€. Na palavra de coragem dita ao profeta, se acrescenta ainda: “Um longo caminho te resta para andarâ€. A Quaresma é este convite que cada ano se renova para os cristãos. Todos sentimos: é árduo, para muitos, o caminho da coerência da fé e de uma vida cristã digna. Cresce a insensibilidade em relação ao pecado, tudo se justifica, e isto leva muitos a não reconhecerem a necessidade da conversão de vida para melhor e do perdão dos seus pecados. Porém, todos nós, indo ao íntimo da nossa consciência, sentimos que o pecado, quer pessoal quer social, é uma realidade que não se pode iludir. Ele mata a alegria interior e a paz de espírito, amolece a responsabilidade e desvirtua as relações pessoais, destrói famílias, apaga compromissos assumidos, gera egoísmo e corta as raízes do verdadeiro bem, que tem Deus como única fonte. É, pois, meu dever, na perspectiva da Páscoa que se aproxima, Festa da Vida e da vitória definitiva de Jesus Cristo sobre o mal e a morte, convidar os diocesanos a ir ao encontro, serena e confiadamente, da verdade interior, convidar à coerência cristã e à conversão evangélica. Nesta conversão se encontra a graça da reconciliação com Deus e com os outros e a decisão de seguir Jesus, Senhor e Mestre. É meu dever denunciar a presença, triste e ruinosa, do pecado em nós e no nosso mundo e anunciar, ao mesmo tempo, o mistério do amor misericordioso de Deus Pai, manifestado e realizado em seu Filho Jesus, para a salvação de todos. Apelar, por fim, à esperança, que é a luz que comanda a vida do espírito, neste mundo onde escasseia o amor e a paz. Jesus deixou-nos aberto o caminho do regresso a Deus. Na celebração do sacramento da Reconciliação, encontramos esse caminho. A reconciliação é dom gratuito de Deus, rico em misericórdia. A penitência é a resposta de um coração contrito, ansioso de bem, de libertação, de paz e de força e sentido para a vida. A confissão do nosso pecado, acima de tudo, é uma necessidade interior. Não nos humilha, antes nos engrandece. É a verdade que liberta, o amor que vivifica. Na confissão humilde, junta-se a verdade da misericórdia de Deus e da nossa condição de pessoas imperfeitas. Deus Amor vence sempre e nós beneficiamos desta vitória. Espero que todas as paróquias proporcionem aos seus fiéis uma preparação séria e momentos serenos da celebração do encontro com Deus, mediante a confissão pessoal de cada um. Uma celebração que permita caminhar confiante para a festa da Páscoa, antecipando-a. Todos, pela fé em Cristo ressuscitado, beneficiamos da Redenção, para podermos viver, todos os dias, na alegria pascal. Sem Páscoa diária, ninguém poderá experimentar a alegria da fé, nem sentir-se amado de Deus e dispor de força interior para amar os outros. É em Cristo e por Cristo, vencedor da morte e do pecado, que vivemos, como vitoriosos, na luta contra o mal que nos oprime e na irradiação do bem que há em nós. A Quaresma é caminho para a Páscoa. Ao longo dela, a Igreja Mãe, anima-nos, dizendo a cada um de nós, em nome do Senhor: “Levanta-se e anda…Resta-te um longo caminho para andar…Alivia-te do peso das coisas negativas que levas dentro de ti…Muda para melhor a tua vida…Só o pecado te pode impedir de caminhar com alegria e esperança. Quem pode recusar um conselho de Mãe, que é sempre expressão de amor? António Marcelino, Bispo de Aveiro


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